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O Pará é conhecido também por suas estórias extraordinárias.

Temos, em Belém, a mulher do taxi, o padre sem cabeça da igreja de S. João etc.

Cada localidade possui seus fantasmas tradicionais, suas estórias diferentes a assombrarem geração após geração.

O imaginário popular em nossa terra é riquíssimo.

Lembrei-me agora da famosa menina da vassoura.

Essa lenda atravessou as fronteiras de Belém e se propagou pelo Estado todo.

Quando eu era criança, em Santarém, e fazia qualquer coisa que minha mãe reprovava, ela sempre dizia:

– Deixa de ser malcriado. Numa igreja em Belém existe a estátua de uma menina. Ela foi ameaçar a mãe com a vassoura e virou pedra.

Aquela estória me enchia a imaginação e me atormentava a infância.

Como seria essa tal menina? Coitada da pobrezinha!

Quando vim para Belém a fim de estudar, fazer vestibular e trabalhar, resolvi tirar a limpo a estória da tal adolescente.

Mas a belíssima igreja de Santo Alexandre vivia fechada.

Certa manhã, passei pelo largo da Sé e vi que o templo estava aberto. Estavam reformando.

Era a oportunidade que eu aguardara por toda a vida.

Exclamei com todos os sorrisos:

– Hoje vou ver a menina que quis bater na mãe com a vassoura e virou estátua.

Paulo Chaves, o grande secretário de cultura e meu amigo estava lá, comandando as reformas.

Ele me falou, com um sorriso irônico.

Queres ver? Sobe a escada, está lá.

Eu acreditei e comecei a bisbilhotar cada centímetro da igreja.

Alguns me juravam que a menina existia e que agora estava escondida, pois era proibido mostrar.

Os operários nada me diziam.

Fiquei frustrado. Não achei a famosa estátua.

Mas, acabei premiado. Consegui contemplar o belíssimo museu de arte sacra e saí dali  para almoçar e revitalizar a amizade com o Paulo.

Depois alguém me contou  (não garanto que seja verdade) que a tal menina seria uma imagem de Nossa Senhora da Soledade em cujas mãos alguém com espírito jocoso colocou um cabo de vassoura, gerando a lenda.

Hoje em dia, se a tal menina fosse, mesmo, encontrada, por certo, não mais iria servir de freio para meninos sapecas, mas com certeza iríamos repetir, em Belém do Pará, mais um episódio semelhante à estranha e fantástica história da mulher de Lot, na Bíblia, que foi transformada numa estátua de sal, por desobediência.

Imagem do arquivo do IPHAN

*O artigo acima é de total responsabilidade do autor.

José Wilson Malheiros
Magistrado do Trabalho Aposentado, Advogado, Músico, Poeta, Compositor, Instrumentista, Professor, Jornalista, Diácono e Escritor.

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