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O Tapajós, já reconhecido como o mais belo rio do mundo, é um dos maiores da Amazônia e às suas margens estão localizadas praias de beleza cênica deslumbrante, como a de Alter do Chão, em Santarém do Pará. As águas azuis ficam verdes em determinada época do ano, e muita gente confunde a cor como de algas e na região se diz que o rio está com “limo”. Pois uma interessante pesquisa de James Leão de Araújo, intitulada “Monitoramento por sensoriamento remoto da concentração de clorofila-a e das florações de cianobactérias no Baixo Tapajós: audiovisual praias do Tapajós para gerações presentes e futuras”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Rede Nacional para o Ensino das Ciências Ambientais (Profciamb), do Instituto de Geociências (IG/UFPA), sob a orientação da professora Maria Paula Cruz Schneider e coorientação da professora Maria Ataide Malcher, resultou em documentário com fins didáticos para informar e conscientizar a população sobre os diversos efeitos das florações de cianobactérias nas praias do rio Tapajós.

Em sua dissertação, o pesquisador observou que na região entre os municípios de Aveiro e Santarém, o Tapajós se assemelha a um lago, o que favorece o processo de eutrofização, que resulta no crescimento excessivo de algas e plantas aquáticas, o “limo do Tapajós”. As florações ou blooms caracterizam o surgimento das cianobactérias, microrganismos importantes para os ecossistemas e para a vida na Terra por constituírem a base de cadeias alimentares, além de serem os maiores produtores de oxigênio atmosférico. Mas, em determinadas situações, essas cianobactérias produzem cianotoxinas, substâncias que provocam intoxicação e morte de organismos aquáticos, animais e até seres humanos. Nem mesmo os métodos convencionais de tratamento de água, como ferver, filtrar ou adicionar cloro, podem descontaminar a água das cianotoxinas.

Ao longo de mais de dois mil quilômetros quadrados, James Leão de Araújo coletou dados sobre a distribuição, a ocorrência e os riscos ocasionados pela presença de cianobactérias no rio Tapajós, envolvendo unidades de conservação, populações ribeirinhas e destinos turísticos, em quatro pontos da margem direita: a Ponta do Tauá, localizada na Praia do Cururu; a Praia do Pajuçara; a Praia do Maracanã e o Lago Mapiri. Foi utilizado sensoriamento remoto, por meio de imagens de satélite. A partir dos dados obtidos, foram gerados mapas usados como índice para as coletas de campo que validaram os estudos. As amostras foram pré-processadas na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em Santarém, e analisadas no Laboratório de Genômica Funcional e Biotecnologia da UFPA. Parte dos recursos para locações, deslocamentos e coletas de campo foi financiada pelo Profciamb, com recursos da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes) e da Agência Nacional de Águas (ANA).

A balneabilidade é um dos conceitos trabalhados na pesquisa de James Araújo e refere-se à qualidade da água, que oferece segurança para banho, recreação e esportes aquáticos em corpos hídricos, como mares e rios. No Brasil, os parâmetros de balneabilidade são estabelecidos pela Resolução 274/2000 do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Laudos devem ser apresentados para a população informando se a qualidade da água está excelente, muito boa, satisfatória ou imprópria para banho. Neste último caso, o local deve ser interditado.

“Nos últimos dez anos, tem-se observado, em todo o mundo, o aumento das florações das cianobactérias. As principais causas são o aquecimento global, a maior disponibilidade de nutrientes em esgotos, a lixiviação de nutrientes da agricultura, a retirada da cobertura natural, o manejo inadequado do solo e o transporte de cianobactérias em água de lastro de navios”, esclarece o pesquisador, explicando ainda que, para reconhecer a presença das cianobactérias na água, é necessário observar elementos como a coloração esverdeada e o odor desagradável. Os maiores riscos estão relacionados à ingestão e, apesar de alguns trabalhos demonstrarem riscos para a pele e as mucosas, ainda é preciso comprovar a absorção por essas vias.

James Araújo apurou a ocorrência sazonal das explosões populacionais das cianobactérias. “Elas ocorrem em pontos específicos, nos quais não há grandes aglomerados humanos ou esgotos, sendo aparentemente condicionadas por fatores pluviométricos e pelo nível do rio que tem enchente, cheia, vazante e seca, mas somente fatores climáticos não explicam por completo o fenômeno”. Assistam ao vídeo.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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