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Com importância singular nos campos científico, sociocultural e político, os acervos arqueológicos e etnográficos do Museu Paraense Emílio Goeldi, sediado em Belém do Pará, são declarados patrimônio cultural brasileiro há mais de 80 anos.

A Coleção Etnográfica, composta por quinze mil objetos de diferentes categorias artesanais, é uma das três mais importantes do Brasil. A reserva técnica Curt Nimuendaju salvaguarda sobretudo elementos orgânicos. Há artefatos oriundos de 120 povos indígenas que vivem principalmente na Amazônia brasileira, mas também na Amazônia peruana e colombiana. Muitas peças provêm dos Saamacá, povo maroon do Suriname; de populações tradicionais no Brasil, como quilombolas, ribeirinhos e pescadores; e de populações centro-africanas, que remontam ao final do século XIX.

Rica fonte de consulta para um amplo leque de estudos interpretativos na área das ciências humanas: cultura material, tecnologias tradicionais, antropologia da arte, etnohistória e história da arte, processos migratórios, trocas e apropriações culturais como resultado das situações de contato, o acervo é compartilhado em plataformas virtuais como o site Amazonian Museum Network, iniciativa conjunta do Museu Goeldi, Musée des Cultures Guyanaises e o Musée Départamental Alexandre-Franconie (Guiana Francesa) e Museu Stichting Surinaams (Suriname). As coleções são compreendidas menos como testemunhos de culturas tradicionais, e mais como suportes de dimensões históricas, políticas e identitárias.

Já a coleção arqueológica traça a história indígena da Amazônia, reforçando o empenho do Museu Goeldi para estreitar sua relação com o público. O projeto “Replicando o Passado: socialização do acervo arqueológico do Museu Goeldi através do artesanato cerâmico de Icoaraci” é uma feliz parceria entre a curadoria Reserva Técnica Mário Ferreira Simões e os ceramistas de Icoaraci, que encontram nas cerâmicas arqueológicas inspiração para sua produção artesanal.

Cerca de três mil objetos cerâmicos de grandes dimensões e sete mil caixas contendo vestígios procedentes de diversas regiões da Amazônia (vasilhas, urnas funerárias, estatuetas), artefatos líticos (como pontas de flecha, lâminas de machado, muiraquitãs); faianças, vidros e metais que remontam à história colonial e pós-colonial da região, além de materiais orgânicos, incluindo osteológicos (ossos humanos e animais), contam parte da trajetória de povos que habitaram a Amazônia há centenas ou milhares de anos. Estagiários e voluntários dos cursos de Museologia e de Conservação e Restauro da Universidade Federal do Pará se juntaram à equipe de curadoria do Museu Goeldi. As atividades foram interrompidas em razão da pandemia do novo coronavírus e dependem do restabelecimento de um mínimo de segurança sanitária para a retomada.

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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