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Em dia histórico para os povos indígenas e todas as mulheres do planeta, Kokoti Xikrin, aos 28 anos, assumiu em 20.02.2021 o poder na Aldeia Krimei. É a  primeira cacique mulher da etnia Xikrin, que tem cerca de dois mil indígenas e fica em Parauapebas, o município mais rico do Pará. Em cerimônia na Aldeia Djudjekô, ela tomou posse oficialmente e falou sobre a condição feminina na cultura indígena. Uma revolução social lenta, silenciosa, gradual e pacífica vem alavancando mulheres líderes e guerreiras, geradoras e protetoras da vida, que se posicionam com firmeza quanto às questões antropológicas e as violações que afrontam seus corpos e territórios, passando por temas ligados à saúde, educação, violência e igualdade de decisões. Assim desponta a nova geração de mulheres indígenas estudantes, com carreira acadêmica, que casam após os 30 anos de idade e se evidenciam como líderes de seu povo.
 
Líder feminina histórica do movimento indígena, Tuíra Kayapó, neta de Raoni Kaiapó, é inspiração das jovens na construção de um novo protagonismo feminino indígena. Há 32 anos ficou mundialmente famosa quando, no I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA), em fevereiro de 1989, encostando um facão no rosto do então presidente da Eletronorte, engenheiro José Antônio Muniz Lopes, ela elevou o grito Kayapó de luta – “Tenotã-mõ” – e se tornou referência em defesa da Amazônia. Ela só queria mostrar ao governo o que é opressão. Seu gesto virou símbolo da luta de seu povo. Foi tanta coragem e destemor que teve papel decisivo no meio de tantas autoridades governamentais, cientistas e empresas multinacionais. Na época, o presidente da República era José Sarney (MDB). O projeto da usina Kararaô, concebida em plena ditadura militar, foi temporariamente engavetado, mas voltou nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2016), já com a denominação UHE Belo Monte. 
 
A jovem Tuíra já defendia a liderança feminina e a união dos povos indígenas. Foi ela quem liderou a comitiva Kayapó durante a marcha “Meu corpo, meu território”, o 1º Encontro Nacional de Mulheres Indígenas, que em agosto de 2019 reuniu mais de duas mil mulheres em Brasília (DF). A pioneira também foi um dos grandes nomes do “Encontro dos Povos Mebengokrê e lideranças indígenas do Brasil”, na Terra Indígena Capoto Jarina, no rio Xingu, no Mato Grosso. 
 
Célia Xakriabá, uma das coordenadoras da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, a primeira de seu povo a cursar doutorado – tem formação em Antropologia na UFMG e Mestrado em Desenvolvimento Sustentável -, é outro exemplo emblemático. Sua voz ecoa os novos tempos: “Nós não vamos aceitar mais violência tendo ‘cultura’ como desculpa. Muitas questões precisam ser revistas. O nosso território é o nosso corpo e o nosso espírito”.
Foto: Protássio Nêne

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, presidente da Academia Paraense de Jornalismo, membro da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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