Sabem aquela criança de humor instável, desafiadora, hostil, teimosa, que não cumpre regras, está sempre arrumando confusão, não aceita ordens, não respeita os sentimentos dos outros, não se responsabiliza pelos erros que comete, não tem medo de ser punida e, mesmo sem motivo, vai contra os pais ou qualquer outra pessoa que representa alguma autoridade (professores, pessoas mais velhas), apenas para contrapor ou irritar?
Pois bem, pode se tratar de um tipo de transtorno disruptivo da infância chamado de Transtorno Opositor Desafiador (TOD). É um problema cada dia mais comum, que não depende de classe social, raça, credos, mas que tem muito a ver com o ambiente ao qual a criança está inserida. Quem diz isto é uma especialista em psiquiatria infantil e adolescência, Dra. Priscila Dossi.
A médica explica que a birra normal de criança (crise de choro e raiva, geralmente porque deseja muito alguma coisa e não pode ter) geralmente acaba bem antes dos 4 anos de idade, quando já dá para entender o que é certo e errado. E alerta os pais para que fiquem atentos, pois quando isso não é corrigido cedo, ao chegar a adolescência os problemas serão maiores, inclusive com o risco de envolvimento com uso de álcool e drogas e atitudes delinquentes.
O TOD é detectado geralmente na idade escolar, podendo surgir ou se intensificar na adolescência. As causas, conforme a psiquiatra, não são exatas, mas podem ser combinações entre predisposições neurobiológicas e genéticas, fatores de risco psicológicos e disfunções no ambiente social ou familiar. Apesar disso, a criança é capaz de socializar, ter amigos e colegas da mesma faixa etária.
A Dra. Priscila Dossi completa: “É preciso lembrar também da grande influência comportamental: pais muito inconsistentes entre si, que não têm atitudes conjuntas em relação à criança, acabam propiciando um ambiente em que ela se tornará cada vez mais opositora. É muito comum as situações em que um dos pais acaba desautorizando o outro na frente dos filhos. Por exemplo, quando pedem para que a mãe a deixe ficar no celular na hora do almoço ou antes de fazer as tarefas escolares, e a mãe diz não, então pedem a mesma coisa para o pai, que diz sim, autorizando a fazer aquilo que a mãe proibiu. Essa dinâmica só piora o problema e, nesse caso, é preciso terapia para o casal. Na minha opinião esse é o ponto principal; de nada adianta tratar a criança se os pais não passarem por um tratamento também.”
O diagnóstico é feito por critérios clínicos. O tratamento geralmente consiste em sessões de psicoterapia individual e com os pais ou familiares, além de medicamentos receitados e acompanhados por um psiquiatra infantil, conforme a necessidade do caso.
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