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Pro dia nascer feliz – cantou um dia Cazuza – o mundo inteiro acordar e a gente dormir. Não que a canção não faça mais sentido, porém madrugar para ver o sol nascer do meio do rio é um espetáculo imperdível. E não teve um só pelo do meu corpo que não se arrepiou quando recebi este vídeo, da minha longínqua e amada Belém, com o violonista Feliphe Bruno Cardoso a musicar a natureza em uma das vivências dos Canoeiros Eco Turismo.

De uns anos para cá virou “moda” remar – em suas mais diversas modalidades – em Belém e esta é uma moda que eu espero que nunca acabe. Cresci em uma cidade que além de virar de costas para as suas maiores preciosidades, seus rios, o poluiu indiscriminadamente e não aproveitava o seu potencial de lazer, turismo e transporte urbano. Muito lentamente voltamos a cair nas águas de onde viemos e a prática do remo e da canoagem é uma das responsáveis por esta reocupação consciente.

Desde 2013 o Nedson Rosa, idealizador e instrutor dos Canoeiros, ensina pessoas a remar e as leva para descobrir (ou redescobrir) a cidade muito além dos pontos turísticos: o foco é conhecer as comunidades e seus modos de vida, interagindo profundamente com a natureza. Nessas vivências imperam o espírito de fraternidade, cooperação e valorização da cultura dos ribeirinhos que habitam as margens dos rios, fomentando e criando possibilidades para um turismo de base comunitária, sempre com a sustentabilidade e a preservação ambiental das ilhas da região metropolitana de Belém – como as ilhas do Combú e Murutucum – em primeiro plano. 

Toda vez que eu tomo o famoso café na cuia no quintal de algum ribeirinho eu descubro uma Belém que me estarrece não conhecer o tanto que eu gostaria, uma família que persevera, que merece com que façamos a nossa parte como cidadãos e lutemos para que tenham seus diretos cumpridos. E também me emociono com a capacidade de o desporto gerar tantas coisas boas, como o espírito de solidariedade (é de praxe todos os participantes das remadas levarem doações para estas comunidades que têm de carência material o inverso de suas capacidades de simpatia e sorriso) e a consciência ambiental. Aliás, vários grupos de remo fazem o trabalho voluntário de recolhimento de resíduos nos rios de Belém. Eu já vi de perto e é assustadora a quantidade de lixo. Mas isto é assunto para (muitas) outras horas. 

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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