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O uso do álcool e de outras drogas traz junto riscos para a saúde física e mental, interferindo prejudicialmente em diversas áreas da vida do ser humano, como a afetiva, a profissional, dos estudos e cognitiva, familiar e social. No que se refere às drogas recreativas, a evolução deste tipo de consumo para o uso abusivo ou para a dependência torna os prejuízos ainda mais graves.

Para evitar a dependência uma primeira medida inicial seria evitar a primeira experiência com álcool ou outras drogas. É fato que as drogas dão prazer. E qualquer campanha ou ação que desconsidere isto terá o fracasso como resultado. As coisas seriam simples se as drogas não dessem prazer, pois ninguém usaria. No ato de experimentar, ao sentir a “liga” da droga (lícita ou ilícita) o usuário pode ter ali a experiência que, conscientemente ou não, pode levar ao abuso ou dependência.

Mas o que se pode fazer para evitar este primeiro contato? Como evitar o início do consumo de drogas? Algumas medidas e estratégias têm se mostrado eficazes para manter a pessoa longe do uso, do abuso ou da dependência, preservando a saúde e a qualidade de vida.

Aprender a dizer “não” é o primeiro passo, mas não é tão simples como tem sido divulgado por décadas em campanhas do tipo “Diga não às drogas”, como se apenas instruir uma pessoa a simplesmente dizer não quando a droga for oferecida fosse uma instrução eficaz para uma tarefa simples. Quando alguém oferece drogas, geralmente esta oferta está dentro de um contexto de grupo, de influência familiar, de amigos ou outro onde há pressão sob a pessoa a quem está sendo oferecida a droga. Há sentimentos e emoções envolvidas, é preciso que esta pessoa esteja instrumentalizada sobre como e por que dizer não. Desviar do assunto, dizer que não tem interesse, recusar sem agredir ou ofender quem oferece, com tranquilidade, e saber que se sentir pressionado para aceitar pode ser normal, mas nem por isso precisa dizer sim, são formas de lidar assertivamente com a situação.

Atividades físicas e a prática de esportes em geral ajudam a manter a pessoas longe do álcool e outras drogas. Sejam as atividades individuais ou coletivas, elas aumentam a produção de neurotransmissores e hormônios, como a endorfina, ligada à sensação de prazer, fazendo com que as pessoas que praticam esportes tenham os centros de prazer do cérebro mais estimulados e “saciados”, se sintam melhores e, assim, menos propensas a buscar prazer nas drogas. Existem muitos casos, de pessoas que deixaram de beber ou usar outras drogas, tendo o esporte como o caminho para ficarem limpos.

“Diga-me com quem andas que te direi quem és”. Esta frase, que muitos de nós já ouvimos, traz uma sabedoria simples e atual. Na maioria dos casos o início do consumo de drogas se dá por influência de amigos. Deve-se estar atento aos hábitos, aos comportamentos e a rede de relações que os amigos estabelecem, como eles se divertem, como eles agem se alguém não quer acompanhá-los em algo e se eles fazem pressão para outros consumirem drogas. Se isso acontece e a pessoa fica desconfortável, ela não deve hesitar em procurar novas amizades e companhias. Não quer dizer que deva criar intriga ou deixar de falar com eles, mas deve evitar conviver.

Um dos fatores de proteção mais importantes é a família. Quanto mais harmonioso for o ambiente familiar, melhor ele pode contribuir nas estratégias de prevenção do uso de álcool e outras drogas. Diálogo, presença, limites, possibilidades e muito fortemente modelo das figuras de autoridade na família, tais como pai, mãe, avós ou qualquer forma de arranjo, dão à criança, adolescente e até mesmo ao adulto um referencial de comportamento, uma estruturação psicológica e emocional que faz toda a diferença.

Muitas famílias trazem consigo a questão de como lidar de foma assertiva na prevenção e agir em caso do uso, nestes casos existem grupos de apoio voltados para familiares como o Amor-Exigente, o Al-Anon e o Nar-Anon. Pessoas que já são usuárias ou dependentes podem encontrar apoio em grupos como Alcoólicos Anônimos ou Narcóticos Anônimos, ou mesmo em grupos religiosos. Todos estes apoios podem ser encontrados pela internet, com seus dias, locais e horários de reunião. A psicoterapia tanto para o jovem quanto para o adulto, envolvendo ou não a família, destaca-se pela individualização do tratamento.

Não se pode isolar nenhum dos aspectos citados aqui como se por si só fossem a solução para o problema do uso e desse conta dele, deixando a todos tranquilos. Isso não existe! O que podemos fazer para tentar que cada vez menos pessoas venham a se tornar usuárias de drogas é estar atentos, usar as ferramentas da melhor maneira possível e saber a hora de pedir ajuda, antes ou depois do primeiro uso. Se ainda não existe fórmula mágica para prevenir o uso de drogas, a mais eficaz que temos é olhar, acolher, amar e agir. Sem preconceito, principalmente o que pode habitar dentro de nós.

*O artigo acima é de total responsabilidade do autor.

Nelcy Colares
Psicólogo Clínico e da Saúde, Psicanalista – Criminólogo, Analista Perito Judiciário Cível e Criminal do Tribunal de Justiça/PA, Especialista em Prevenção e Tratamento do Abuso de Álcool e Outras Drogas na Sociedade Contemporânea e Doutorando em Psicologia. E-mail: nelcycolares@gmail.com.

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