Traremos algumas considerações sobre não apenas o mês de setembro, que vem sendo muito bem lembrado em relação a uma problemática de saúde pública chamada suicídio, mas os caminhos que podem chegar até ele.
Podemos iniciar pela vida de cada sujeito único em sua subjetividade, mas identificado com a cultura, com o social que nos atravessa e nos convoca ao mal-estar que assola o planeta. Vamos elencar algumas características da vida cotidiana que podem ter consequências e repercussões psíquicas graves, como depressão, ansiedade, automutilação e suicídio.
Violência de toda ordem (doméstica, de gênero, homofobia, racismo e outros), horas de trabalho, abuso sexual, conflitos familiares, conflitos políticos, disputas narcísicas, dificuldades de relacionamento, pressões profissionais, como sobreviver diante do cenário socioeconômico, uso abusivo de álcool e outras drogas, luto e desamparo. Todas estas manifestações geram medo, pânico, angústia (ansiedade), depressão, ideação suicida e outras.
A ansiedade é uma reação. Um sinal que todo indivíduo experimenta diante de algumas situações do dia a dia, que as vezes são ameaçadoras ao EU. Mas, as pessoas reagem de formas diferentes. A grande diferença é que podemos perceber a psicopatologia pela intensidade dos sintomas e sinais que poderão comprometer a saúde psíquica do sujeito. Podemos ter preocupações e ficarmos ansiosos em nosso dia a dia, porém como cada um vai lidar será determinante em sua forma de enfrentamento.
Ansiedade por algo como pagar contas, término de relacionamento, apresentação de trabalhos, entrevistas de emprego são relevantes, mas podem ser muito frequentes no dia a dia e sem maiores consequências psíquicas, pois tem um objeto de preocupação. Diferente da crise de angústia ou síndrome do pânico, que é marcada por diversos sintomas, como medo de morte, medo de sair de casa, tremores, falta de ar, dor no peito, taquicardia, sentimento de desamparo, entre outros.
Essas manifestações podem durar cerca de 20 minutos ou até serem mais longas. Não precisa de um motivo aparente para a pessoa desenvolver o pânico, pode surgir em qualquer momento por algo que “não sabe dizer”;
No momento pandêmico em que nos encontramos, estamos diante de diversas manifestações de angústia e desamparo a céu aberto, em que o medo da morte, o distanciamento social, a fome, o desemprego, o desmatamento, o ódio, a intolerância, frustrações e outras gravidades contemporâneas são produtoras de psicopatologias. Não é à toa que a OMS sugere que entraremos na pandemia da saúde mental.
A ansiedade e a depressão são os males do século XXI; porém Freud em 1930 já afirmava que existem três causas fundamentas geradoras de mal-estar na civilização: são elas o poder das forças da natureza, o medo do adoecimento no corpo, ou seja, da finitude, e por último e mais avassaladora, a relação entre as pessoas. Esta última nos revela a dificuldade do sujeito em lidar com seus conflitos geralmente inclusos em seus relacionamentos com o outro.
A depressão tem sintomas preponderantes como a baixa autoestima, humor depressivo expresso por um sentimento de tristeza profundo, a perda de prazer em tudo, mesmo do que gostava antes, inapetência, irritabilidade, pensamentos negativos e ideias de morte.
Suicídio… Quais os sinais?
- Geralmente vem de um processo depressivo ou crise de angústia;
- Isolamento;
- Baixa autoestima;
- Mudança de comportamento;
- Alterações de humor;
- Prostração;
- Pouco cuidado consigo (autoimagem, banho, etc…)
- Mudança de hábitos, alimentação, uso excessivo de álcool ou drogas;
- Nunca duvide de alguém que diz que quer morrer…
Fatores de risco?
- Vulnerabilidade social;
- Histórico de transtornos;
- Bullyng;
- Situações de violência, atuais ou não;
- Abuso sexual/violência doméstica;
- Conflitos familiares não elaborados;
- Lutos não simbolizados…
- Passagem ao ato: a não expressão da angústia existencial
- Invasão da pulsão de morte…
- A depressão aumentou? Talvez o medo, a ansiedade, o terror e a agressividade hoje estejam mais evidentes, o que causa o mal-estar mais presente; afinal, estamos numa cultura produtora de crise.
Os excessos, os acessos e a subjetivação afetada pelo desamparo a céu aberto. Quais são as saídas? Como poderemos manejar o desamparo a que estamos submetidos?
O que Freud nos aponta é que, desde sua origem, o ser humano seria fadado à morte se não fosse a presença do outro, que introduz o trabalho de ligação das forças pulsionais que o organismo humano seria, pois, incapaz de realizar sozinho. Essa ligação entre o vital e o erógeno ofertado pelo outro que propicia a formação do psiquismo.
O sujeito humano já nasce precisando de um outro que o alimente de leite e de afeto e o introduza a linguagem e a cultura, assim constituindo sua vida psíquica e o acolhendo em seu desamparo primitivo.
Ao longo da vida o sujeito precisa de mecanismos para lidar com suas faltas e seu desamparo que se atualizam em cada situação de frustração, ansiedade, medo ou até depressão.
Sendo assim, precisamos buscar o investimento nas relações de alteridade, nos laços sociais, cuidar de si e do outro. Viver nossas dores e lutos fundamentais – perdas, separações, desilusões, desaparecimentos reais, que acompanham o sujeito ao longo da vida.
Não esqueçamos que a dor é de cada um e nunca podemos julgar o que dói mais e em quem dói mais. Mas temos que estar atentos e buscar ajuda. Nunca duvide de quem sofre. As crianças, os adolescentes, os adultos, todos têm suas histórias particulares e podem precisar de ajuda. E às vezes não sabem como pedir. Se você perceber, seja na escola, em casa, com amigos, procure ajuda profissional.
Não temos como garantir que alguém que diz que quer morrer vá realmente passar ao ato, mas apenas o desejo de morrer já constitui em algum tipo de morte, algo ligado a pulsão de morte e pode ser perigoso. Peça ajuda, psicológica ou psiquiátrica, pode ser que você descubra que pode transformar o sofrimento em experiência e encontre formas criativas de enfrentar seus conflitos.
“Existem duas condições para se avaliar se uma pessoa está adoecendo psiquicamente, quando ela perde o prazer de trabalhar ou produzir algo ou a capacidade de amar, se relacionar. (SIGMUND FREUD, 1914).
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