Publicado em: 4 de julho de 2025
A partir de julho, Belém vai receber 60 motos elétricas para aluguel, que chegará a um total de 300 previstas até novembro, mês da COP30. O projeto é fruto de uma parceria entre a 99, plataforma de mobilidade urbana, e a Riba Brasil, empresa de descarbonização, sob o guarda-chuva da Aliança pela Mobilidade Sustentável, que reúne 23 empresas comprometidas com a transição energética.
Essas motos elétricas, do modelo VMoto CPX, foram adaptadas para o perfil de Belém: suportam até 220 kg de carga, têm autonomia para até 120 km e acesso a 14 estações de troca de baterias (swap stations) espalhadas pela cidade, cada qual com nove compartimentos. O valor do aluguel é de R$ 399 por semana (valor que inclui manutenção, documentação e uso das estações) e estima-se que cada veículo evitará a emissão de aproximadamente uma tonelada de CO₂ a cada 10 000 km percorridos.
Do ponto de vista ambiental, a iniciativa promete reduzir ruído e poluição, já que esses veículos não emitem gases e operam em silêncio, enquanto a 99 informa que os custos operacionais para os condutores serão em torno de 35% menores comparados às motos a combustão. A Riba, por sua vez, cita segurança como destacável. “Estamos entusiasmados por colaborar com a 99 neste projeto. Além de ser livre de emissões, o ruído é apenas o dos pneus, beneficiando a saúde de pilotos, passageiros e cidades. Juntos, e com nosso algoritmo de segurança, visamos zerar acidentes de trânsito e oferecer uma mobilidade ponto a ponto que complementa o transporte público, encurtando distâncias e evitando superlotação. Desde o início escolhemos Belém como cidade-piloto para a implantação e o fortalecimento da mobilidade sobre duas rodas.” , afirmou o CEO Carlos Roma.
No entanto, é inevitavel o questionamento sobre como essas motos elétricas se comportarão no já caótico trânsito de Belém. Se forem para substituir 300 motos “antigas”, o panorama é excelente (é inacreditável que, com o estágio de avanço tecnológico que estamos, continuemos a destruir o mundo com combustíveis fósseis em prol do lucro de pouquíssimos). Agora, se forem acrescentar três centenas de veículos, nem tanto. Quem já conduziu meio minuto na capital parauara conhece bem o inferno que é o trânsito nas ruas de Belém. Os congestionamentos frequentes já seriam inevitáveis por causa das vias maioritariamente estreitas, mas o caos é instaurado em razão do completo desprezo pelas normas de trânsito e civilidade, tanto de veículos particulares quando de coletivos, que são os primeiros a cometerem atrocidades (quando deveriam ser os mais rigorosos com o cumprimento das leis e também o primeiro alvo da fiscalização), avançando sinais, parando fora do ponto e incapazes de se manter em suas faixas exclusivas – na verdade, completamente incapazes de se manterem em uma única faixa por mais de 10 segundos. Aliás, parece que o condutor belenense tem um problema enorme em respeitar faixas, assim como em entender que o pisca-alerta não autoriza a estacionar em fila dupla, entre muitas outras coisas mais.
Coordenar a circulação de 300 motos adicionais exige ajustes para que o potencial de mobilidade sustentável se efetive. As empresas informam que, para além da quantidade, a distribuição espacial das estações alongará a malha urbana, evitando densificação de trânsito. Já o suporte da plataforma 99, por meio de telemetria, alertas de velocidade e bloqueios preventivos, pretende coibir o comportamento de risco.
De acordo com dados da 99, entre abril de 2024 e abril de 2025 houve aumento de quase 60% em entregas por motos e 40% em viagens com passageiros, além de 30% de crescimento no número de condutores parceiros, o que sustenta a força da demanda na capital parauara.
A aposta em motos elétricas é coerente com políticas climáticas e de descarbonização e oferece ganhos claros em poluição e economia para os profissionais. Agora, resta saber se a cidade terá capacidade de absorver esse aumento repentino de motos sem que o trânsito, já caótico, se torne ainda mais difícil, e se a governança local estará pronta para articular infraestrutura, fiszalicação e educação no trânsito.
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