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Em uma época em que não existia videogame, computador e internet, as crianças se divertiam improvisando brinquedos com os materiais que tinham a mão.

Futebol no meio da rua, com bola de cernambi, que quando era deixada muito tempo no sol ficava bicuda.

Jogo de “carteira”. A gente juntava carteiras de cigarrovazias, que dependendo da marca, tinha mais ou menos valor, como se fosse uma moeda.

A de Continental, por ser mais comum, valia 500 pontos.

A de Astória, mil pontos. E assim por diante. Quanto mais rara, mais valia.

Nem precisava muita coisa. Apenas uma calçada, onde desenhávamos numa extremidade um círculo onde eram “casadas” as carteiras e na outra ponta um risco no chão, de onde jogavam as “patelas” para tirar as carteiras da roda. Quem conseguia, ganhava o jogo.

Tinha uma estratégia para jogar primeiro ou não.

  • Ponto para primeiro!, dizia um.
  • Ponto para fona!, dizia outro, pedindo para ser o último a jogar.

E os moleques andavam com os bolsos cheios de carteiras de cigarro, dobradas de maneira peculiar, parecendo que era dinheiro.

Mas nós éramos ricos, não de grana, mas, de alegria.

A gente fabricava os papagaios para empinar, preparava o cerol, fazia a rabada etc.

Utilizávamos tala de inajá para fazer a armação, papel de seda colorido, comprado nas tabernas, para fazer a “cobertura” e os rabos eram geralmente de tiras de roupa velha.

O cerol fazia-se socando vidro numa lata de leite, até virar pó.

Então se misturava com cola branca, ou mesmo com goma de tapioca e se passava na linha.

Estava pronto um papagaio com “vidro”, ou seja, todo equipado para as “tranças”, as batalhas aéreas entre dois “papagaieiros”.

Era uma das minhas paixões de moleque.

Geralmente, no meu bairro, íamos empinar lá no Grupo Frei Ambrósio, que ficava em cima da colina e o vento soprava melhor.

O futebol de botão, também conhecido como futebol de mesa ou Celotex, era outra diversão de muitos garotos do meu tempo e eu também era apaixonado por esse
brinquedo.

Era um jogo simulado de futebol praticado com botões apropriados, que, de certa forma, representam os jogadores e são movidos com o auxílio de uma palheta;

Alguns contam que um grupo de jovens do Pará já brincavam de fazer gols com pequenos botões lá pela década de 20. Logo, o jogo chegaria ao Rio de Janeiro, onde, em 1930, o músico e publicitário Geraldo Décourt publicou o primeiro livro de regras oficial.

Uma vez no Rio, o futebol de botão passou a ser difundido para vários outros estados. Décourt foi um incansável divulgador e organizador de eventos de futebol de mesa, o que propiciou o desenvolvimento do esporte, assim como sua popularização.

Minha avó trabalhava fazendo croché e fazia as bolinhas de lã, do tamanho de uma peteca.

Eu tinha um time inteiro de botões, comprados na casa Popular, da dona Beta (travessa dos Mártires com Siqueira campos), esposa do sr. Moacir Lopes, gerente da Pernambucana.

Eram botões de tamanho e formato apropriados.

Esfregava o botão na calçada até ele ficar bem macio, para poder deslizar no “campo”.
O interessante que cada botão parecia ter personalidade própria, assumindo, digamos, a personalidade do jogador que ele representava.

Os atacantes deslizavam com mais facilidade, os zagueiros eram mais travados.
O meu artilheiro principal era o Waldo, até hoje o maior goleador de todos os tempos do Fluminense do Rio, meu clube do coração.

São Paulo, Vasco, Fluminense, América, Portuguesa de Desportos eram os times que eu tinha guardado numa gaveta para fazer campeonatos, com tabelas e tudo, onde eu jogava comigo mesmo ou com os amigos, como Ivan Sirotheau, Ronaldo Gentil, meu primo Miguel Augusto.

Os nomes dos jogadores tirávamos do jornal ou da “Manchete Esportiva.

Muitas vezes a gente “irradiava” as partidas imitando o estilo dos locutores de verdade que ouvíamos pela Rádio Nacional ou Bandeirantes.

Jogava na mesa da varanda ou no chão do meu quarto, onde eu riscava com giz um campo de futebol e minha mãe nunca reclamou.

A maior rivalidade é quando jogava com o Ronaldo.

O time dele era Flamengo e os meus botões eram do tricolor carioca.

As partidas eram disputadíssimas e divertidas. Pena que o tempo não perdoa.

José Wilson Malheiros
Magistrado do Trabalho Aposentado, Advogado, Músico, Poeta, Compositor, Instrumentista, Professor, Jornalista, Diácono e Escritor.

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