Por Antigamente não existia o tal “Chá de Revelação”.
No meu tempo a gente ia fazer a ultrassom com a maior expectativa do mundo. “Será que já vai dar pra ver?” Levávamos uma fita virgem de vídeo cassete para gravar e torciamos para o bebê se mostrar.
Era um encontro muito íntimo. Somente a mãe, o pai, no máximo as avós. As vezes só irmãozinho mais velho. O silêncio da sala era interrompido pelas batidas do coração e pela voz do médico que naquela penumbra ia explicando: “aqui está a mãozinha, aqui o nariz, olha…tem cabelo!” E íamos rindo e nos encantando, já procurando semelhanças e achando lindo nosso bebê em preto e branco.
E de repente o doutor perguntava: “Já querem saber? Já estou vendo aqui!”
Marido segura na mão da esposa e os dois prendem a respiração para um dos momentos mais emocionantes e íntimos que um casal pode ter na vida: “É um menino, olha aqui os documentos dele!”
E a mãe descobre o sexo do seu filho olhando pra ele, e lágrimas caem dos olhos, com a presença forte de Deus e de realmente quem importa naquela sala escura, apertada e sem flashes de celular. Todos se abraçam, todos choram, e há muita paz! Um momento exclusivo e permitido apenas aos que justamente mais amarão aquele bebê.
Hoje, até esse momento lindo e de pura comunhão e poesia se transformou em “instagramável”.
Fico pensando em que momento alguém decidiu que era melhor saber o sexo do seu filho espocando um balão, cortando uma fatia de bolo cor de rosa ou soltando fumaça, no meio de tanta gente, e se preocupando com penteado, decoração, flashes…
O Chá de Revelação na verdade revela muito dos tempos atuais, onde os momentos mais mágicos de uma pessoa não são mais privados, onde até isso nos tiraram: a capacidade de nos emocionar sem lentes por perto.
Ele revela que hoje há mais necessidade de postar do que de sentir…
Não sou contra ele e não julgo quem faz. Se fosse jovem muito provavelmente faria o mesmo, afinal agora é assim e pronto, a festa é bonita, animada e contagia a todos. De forma alguma esse texto é uma crítica ao evento, gostaria de deixar claro. Vivemos num tempo em que absolutamente tudo é registrado e compartilhado e o que me parece estranho hoje é completamente normal para os nascidos no final do século passado. Um outro exemplo disso são os pedidos de casamento atuais onde o momento em que o rapaz se ajoelha diante do seu amor é registrado por fotógrafos profissionais enquanto a noiva, especialmente arrumada para a ocasião, finge surpresa. Hoje é assim… E não tem melhor ou pior, tem apenas diferenças. Sinal dos tempos…
Todavia, fico com aquela sensação que só tem quem já viveu muito para comparar as experiências: no MEU tempo era mais gostoso e muito mais romântico.
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