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A Systemica, empresa ligada ao banco BTG Pactual e a única a apresentar proposta, venceu a licitação do projeto Unidade de Recuperação Triunfo do Xingu (URTX), realizada na sede da Bolsa de Valores de São Paulo, hoje (28). Vai ter 40 anos para recuperar mais de dez mil hectares de floresta e o sequestro de 3,7 milhões de toneladas de carbono equivalente. O investimento é de R$ 258 milhões, com expectativa de retorno de R$ 869 milhões e criar cerca de dois mil empregos na região. Trata-se da primeira concessão para reflorestamento remunerada a partir de créditos de carbono. A proposta na outorga variável é de 6% sobre a receita operacional bruta anual da concessão, além da outorga fixa de R$ 150 mil, a ser paga na assinatura do contrato. O Governo do Pará espera arrecadar mais de R$ 46 milhões com as outorgas, valor variável conforme a cotação dos créditos de carbono.

A área concedida fica dentro da APA Triunfo do Xingu – criada em 2006, com 1.679.280,5 hectares -, no limite Leste de Altamira com São Félix do Xingu, e acesso pela Estrada Transiriri. A experiência da URTX será replicada em outras regiões do Pará. O governador Helder Barbalho já anunciou que está preparando novos editais de concessão de outras duas áreas, no total de mais 30 mil hectares ainda este ano.

O modelo de concessão da URTX prevê a criação de uma brigada de incêndio na área, capacitação da mão de obra local e apoio às cadeias produtivas da bioeconomia. O edital estabelece responsabilidades compartilhadas entre o estado e a concessionária para treinamento, conscientização e manejo do fogo no entorno. A contratação de trabalhadores locais e o apoio às cadeias produtivas sustentáveis também fazem parte do projeto.

O BTG Pactual, ao comprar participação na Systemica em 2023, já estava de olho nos negócios na Amazônia parauara. No território quilombola de Cachoeira Porteira, em Oriximiná, existe um projeto de crédito de carbono implementado pela Systemica, que estrutura, desenvolve e implementa projetos de redução de emissões de gases de efeito estufa e comercializa os ativos ambientais gerados. A empresa pretende ter um milhão de hectares sob gestão e comercializar 1,5 milhão de toneladas de créditos de carbono por ano a partir de 2025, mais que dobrando o volume acumulado desde 2020.

Por sua vez, os sócios da Systemica, Munir Soares e Tiago Ricci, além do BTG Pactual, compraram do médico pediatra paraense Eduardo Martins, 36 anos, nascido em Parauapebas, a Remata, que trabalha no restauro de florestas desde 2019, focada na cultura do cacau. Rebatizada Arapuá no ano passado, a empresa continuará a ser operada pelo antigo dono, a fim de aproveitar o relacionamento que ele soube construir com as famílias proprietárias das terras que podem ser exploradas na venda de carbono na região da Transamazônica. Assim, ao invés de um executivo sudestino com os jargões dos banqueiros da Faria Lima falando de private equity, Eduardo visita e toma café com os comunitários usando a mesma linguagem paraensês.

Enquanto Martins cuida das operações no Pará, o CEO da Arapuá, baseado em São Paulo, é Felipe Monteiro, experiente no mercado de crédito de carbono, com passagem pela Empiricus Investimentos, do grupo BTG, onde cuidou de fundos voltados para esse segmento. “Queremos ser um ecossistema one stop shop desse setor: a gente origina a área, conversa com o produtor para saber se tem uma área degradada ou um passivo ambiental, faz o arrendamento, a implantação, o manejo e a comercialização do produto”, é a receita do executivo.

Participaram do evento em São Paulo o governador Helder Barbalho; José Otávio Passos, diretor da TNC Brasil; Nilson Pinto, presidente do Ideflor-Bio; Bruno Kono, presidente do Iterpa; Raul Protázio Romão, titular da Semas Pará; o deputado Chicão, presidente da Alepa e outros parlamentares.

Fotos Kauê Diniz/B3

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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