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Por preâmbulo desta crônica, informo: a obra guarda uma pequeníssima, porém curiosa informação (que pode alimentar a tese do “Dia da Vigia” – seis de janeiro) que interessa muito à história local.

Vamos lá!

Apesar da vasta literatura que se conhece sobre a fundação de Belém, a 12 de janeiro de 1616, a história da capital ainda precisa ser aprofundada e mais popularizada, principalmente nas escolas. E, sem dúvida, mais detalhes precisam vir à luz.

Na bibliografia sobre a capital paraense, destaco duas obras: “Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará / Fundação e História 1616-1823”, obra portentosa de Augusto Meira Filho, e “Fundação de Belém do Grão Pará – Jornada de Francisco Caldeira de Castelo Branco em 1616”, de Ribeiro do Amaral (1853 – 1927).

Detenho-me sobre essa obra do historiador maranhense, livro premiado pela prefeitura de Belém, que em abril de 1915 publicou um edital de “concorrência para elaboração de detalhada memória histórica” da fundação da capital. A publicação de um livro sobre a história de Belém fez parte dos festejos do tricentenário de Belém.

O concurso premiou a obra de Ribeiro do Amaral, que por carta datada de dois de julho de 1915, assinada por Inácio Moura, presidente do Comitê do Tricentenário, foi convidado a assistir aos festejos que iniciariam em dezembro do mesmo ano.

O historiador maranhense, em nota de abertura do livro, dá a entender que a carta de Moura o induziu a disputar o concurso.

Ele se dedicou a reunir material para o livro: “Precisamos (consultou), com documentos, autênticos alguns deles, senão inéditos, muito pouco conhecidos ainda hoje, a outros já publicados, a data da partida da esquadrilha (de Castelo Branco), do Maranhão, e a da sua provável chegada e fundação do primeiro estabelecimento (o Forte do Castelo) português no Pará; fazendo acompanhar tudo isso dos mais detalhados e minuciosos esclarecimentos possíveis; não só sobre o pessoal da expedição, pilotos e comandantes das embarcações, seus roteiros de viagem e notas das ocorrências da jornada, mas ainda, e principalmente sobre a provável data da chegada dos expedicionários, desembarque (na Baía do Guajará), exploração realizada e fundação da cidade”.

Escreveu Amaral: “Possa este trabalho merecer a aprovação dos santos e, de qualquer modo, contribuir para o maior esplendor das festas que se vão celebrar, e dar-nos-emos por mais que compensados de todos o não pequeno esforço que nele pusemos – São Luiz do Maranhão, oito de dezembro de 1915”.

Se o historiador veio para as festas, não se tem notícia, mas o fato é que o livro nunca foi publicado, conforme as regras do concurso da PMB. Só veio à luz em 2004, pela Editora do Senado Federal. Foi uma iniciativa do ex-presidente da República, José Sarney, que assina o prefácio da obra.

O manuscrito de Ribeiro do Amaral permaneceu na Biblioteca Municipal de São Luís até 1951, quando foi entregue à família do historiador. E Elozine Amaral, viúva do Odorico Amaral de Matos, filho do historiador, integrou a obra a José Sarney. “Foi depois da morte do marido que ela encontrou, entre seus documentos, este estudo, que deixa o ineditismo. Sem dúvida, contribuição muito importante à história de Belém do Pará” – informa José Sarney, no prefácio.

Comparado com a obra de Augusto Meira Filho, a contribuição de Amaral (o livro tem apenas 108 páginas) seria uma monografia, embora o autor diga que fez uma volumosa pesquisa.

Ele registrou que “as notícias da jornada” de Francisco Caldeira de Castelo Branco foram “escassas, apagadas e, sobretudo, muitíssimo (sic) incompletas; tão escassas e apagadas que por dilatadíssimos anos laboraram os mais conspícuos dos nossos historiadores no mais deplorável de todos os enganos sobre a verdadeira data da sua partida do Maranhão e, ainda agora, volvidos três séculos já, e, infelizmente, de todo, o dia certo, preciso da sua chegada ao sítio escolhido (o promontório onde edificaram o forte) e que, logo após, receberia o nome de Nossa Senhora de Belém”.

Augusto Meira Filho, provavelmente, não conheceu o manuscrito de Amaral, tão bem guardado estava em São Luiz do Maranhão, publicado só recentemente; e o autor não consta da bibliografia da “Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará”.

A obra do maranhense deveria fazer parte das bibliotecas das escolas municipais da capital. Nela fica-se sabendo, por exemplo, que a caravana de Castelo foi formada por 150 homens; talvez por falta de revisão, à página 36 consta que foi integrada por “cinquenta 50 homens em três embarcações”, carregadas de “novas amarras” e “mantimentos para cinco meses”.

Castelo Branco partiu do Porto de São Luiz no Dia de Natal. Amaral registra várias fontes que se referem à chegada da esquadra, no dia três de dezembro de 1615. O livro revela que o fundador de Belém ainda se encontrava em São Luiz, no início de dezembro.

Pasmem! Amaral não confirma a chegada de Castelo branco a 12 de janeiro, mas reitera a data da partida: ”O nome de Belém naturalmente deu-lhe Caldeira em memória do dia 25 de dezembro, sob cujos auspícios desferrara (desatracaram os navios) a expedição do porto de São Luiz”.

“Qual, porém, a data da sua chegada, em que dia, sim, teria aportado Francisco Caldeira, ao local, onde se ostenta hoje a formosíssima Belém do Pará?”

“É a pergunta essa que, primeira, muito naturalmente, acudirá ao espírito de todos os que se acham empenhados neste grandioso certame” (referia-se ao concurso de 1915).

Ele diz (pag. 73) que “positivamente” não sabia, pois “o cronista da expedição guardou o mais profundo e absoluto silêncio sobre essa data magna, bem como sobre tantíssimas coisas outras referentes a esta impressionante jornada”.

Nélio Palheta
Nélio Palheta é jornalista com larga experiência em impresso, telejornalismo e Assessoria de Comunicação. Presidiu a Imprensa Oficial do Estado do Pará, a Funtelpa e foi secretário de Estado de Comunicação. É escritor, autor de Equinócio - Poesia (2017). Com 50 anos de atividades profissionais, está aposentado e mora em Vigia de Nazaré, tendo ocupado o cargo de Secretário Municipal de Cultura.

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