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É difícil, muito difícil, escrever sobre um amigo que nos deixa, assim, abruptamente! E, nos últimos 30 dias, perdi, nada mais nada menos, do que três pessoas que, cada qual a seu modo, tiveram importância significativa em minha vida: o primeiro, foi Octávio Avertano Barreto da Rocha; uma semana depois o José Wilson Malheiros da Fonseca e, hoje, tomo conhecimento da morte de Francisco Sidou. Os dois primeiros, meus confrades de Academia Paraense de Letras (Avertano, também do IHGP e Malheiros, da Academia de Jornalismo) e Sidou, confrade na APJ.

Conheci Avertano e Sidou aos 17 anos, quando dei início à minha carreira como jornalista, no extinto JORNAL DO DIA, uma redação vibrante comandada pelo saudoso Sá Leal e recheada dos nomes mais expressivos da imprensa paraense dos anos 60. Um extraordinário período de aprendizado e formação de amizades que resistiram ao tempo e às eventuais divergências.
Avertano foi meu “padrinho” a capitanear meu ingresso na Academia Paraense de Letras e quem me saudou na sessão de posse. Também prefaciou meu livro “Reflexões Reclusas” e, sendo ele um filósofo respeitável, muito me honraram suas generosas palavras. Com José Wilson Malheiros da Fonseca, o “bardo” santareno como carinhosamente o designava o presidente Ivanildo Alves, dividi momentos de sustentação de nossas posições ideológicas em respeitosos, mas enérgicos, debates com os que defendiam princípios contrários aos por nós defendidos.
Aqui entra a figura de Francisco Sidou, um jornalista combativo, autêntico, defensor intimorato da sua amada Belém do Pará por quem sofria ao constatar tanto abandono e incúria. Sua paixão pela nossa cidade extrapolava os limites políticos, partidários ou doutrinários, para se opor e criticar quem fosse responsável pelas calamidades urbanas do presente ou se fizesse omisso perante os desafios de seu crescimento. Assim ele o foi desde jovem, como bancário concursado do BASA, a defender os interesses da classe e, também, do clube que ajudou a construir, o Bancrévea.

Tínhamos uma visão diferenciada do mundo, no viés político e ideológico e, sem diminuir o afeto recíproco e a admiração sincera um pelo ouro, travamos acaloradas discussões virtuais que, por vezes, incomodavam nossos outros pares na Academia, que nos viam brigando para valer. Contudo, ele não poupava, assim que surgisse uma oportunidade factível, de ser generoso nos elogios, a mim e ao Wilson Malheiros. Sidou havia prometido me visitar, tão logo retornasse do Marajó, onde curtia merecido descanso. Esse encontro agora ficou no terreno da impossibilidade física e estou impedido, por encontrar-me fora de Belém, de prestar-lhe minha homenagem póstuma, ditada por um coração que se enluta neste sábado do verão paraense.

Para o guerreiro indomável Francisco Sidou, agora na imortalidade das nossas lembranças, a minha lágrima de saudade e respeito, com a certeza, pela fé, que um dia nos reencontraremos na ressurreição dos mortos, com a Graça de Deus, no Reino dos Céus. Aos seus familiares, a minha solidariedade e conforto.

(*) Senhor, concede-lhes o eterno descanso

Walbert Monteiro
Walbert Monteiro, nascido em Belém (PA), é jornalista e escritor, membro das Academias Paraenses de Jornalismo e de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Pará. Tem vários livros escritos, com viés preponderantemente memorialista.

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