Fui submetido durante minha vida a sete cirurgias.
Na primeira, aos dezesseis anos, me tiraram o apêndice.
Na segunda, já casado, as amígdalas.
A terceira, uma desagradável hérnia umbilical. Em meio às intervenções no coração, lá se foi a vesícula.
Em 1992, a primeira angioplastia. Sou tão antigo que à época não existia a implantação de stents.
Depois, quatro anos passados, abriram meu peito, desta vez para a colocação de duas artérias: uma, a radial e outra, a mamária.
Vinte anos se passaram e meu coração se comportava bem. Até que um dia, como se dizia nas histórias de antigamente, ao fazer um eco de rotina ouvi de um médico de Belém: “vais viver 100 anos”. Não gostei do resultado. Marília, sempre vigilante e amorosa, me convenceu a irmos a São Paulo. Aceitei.
Marcada a consulta com o cardiologista clínico desde 1992, após exames preliminares recebi sua decisão:
-Vou te internar, agora. Gosto de checar as informações médicas, qual a sua gravidade …
-Daniel (o meu médico em SP), estamos hospedados a uma quadra do hospital. Amanhã, às 7h estarei aqui.
– Não, vou te internar agora. Dona Marília trará a bagagem do hotel para cá.
Minha conclusão foi imediata: a “bronca é feia”.
Mas por que estou contando isso?
O motivo da narrativa tem a ver com o meu comportamento quando fui hospitalizado. Lá, sou a figura mais agradável e simpática com enfermeiros, assistentes, estagiários e médicos. Além de fazerem parte do meu dia a dia, há uma conveniência prática. Eu estarei em suas mãos, até a “alta”, o momento mais agradável e esperado.
Pois bem. O primeiro exame foi a repetição do Eco.
Levado em uma cama, vestido apenas como nasci e coberto por um lençol, cheguei à sala de exames. Introduzido na ampla sala, uma jovem médica muito bonita, recém-formada e estagiária do setor, a mim se apresentou: “meu nome é Renata, o senhor vai ficar aos meus cuidados e antes do exame vamos proceder uma anamnese (termo que os médicos usam para apavorar seus pacientes. Nada mais é do que uma série de perguntas sobre o estado geral de saúde).
-O Sr. é diabético?
– Não.
– O Sr é fumante?
-Não.
– O Sr. bebe?
– Sim, água, refrigerantes e sucos.
-E alcoólicos?
– Não.
– Vou lhe fazer uma pergunta, pois o cardíaco não pode usar.
– Faça.
– O Sr. toma Viagra?
Levantei bem a minha cabeça e lhe perguntei:
– Isso é um convite ou uma insinuação?
Risadas ecoaram no recinto.
Ao ver o embaraço em que a jovem doutora ficou, totalmente enrubescida, a vermelhidão em seu rosto, baixei o lençol até a altura do umbigo.
– Doutora, sou católico e só acredito em duas ressurreições: Lázaro e Jesus Cristo.
Com um gesto na boca apontando em direção da genitália completei:
-Este daí de baixo está morto.
A brincadeira correu entre os integrantes do corpo clínico e para todo exame que era levado fez sucesso. Mas, dias depois, recebi alta com três stents implantados.
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