Hoje eu li o POST de uma pessoa que dizia se afastar radicalmente de qualquer outra que não fosse otimista sempre, e que tinha horror daqueles tipos que contam problemas aos primeiros minutos de conversa.
Por fim, ela recomendava cortar da vida de seus amigos, sem dó nem piedade, qualquer pessoa, “seja lá quem for”, que parecesse ser “negativa, pesada”…
Only good vibes…
E daí me pego pensando nessa quase ditadura da leveza, que se instalou nas pessoas de uns tempos pra cá, onde nos tornamos intolerantes com a tristeza alheia.
Isso sim para mim é o que se pode chamar de POSITIVIDADE TÓXICA.
Quando a sua necessidade de leveza desconsidera a dor do outro.
Em primeiro lugar, todos nós já passamos por momentos difíceis na vida. Todos nós já passamos por fases nebulosas em que achamos que nada vai dar certo, nada vai melhorar, onde só buscamos ter quem nos ouça sem julgamentos. Se você nunca passou por isso, não está vivendo a vida direito.
Por isso é importante nos colocarmos no lugar do outro, uma vez que mais adiante podemos também estar nele.
É uma pressão absurda essa, a de ser “leve” o tempo todo.
A leveza eterna é impossível.
Nos anos 80 o escritor tcheco-francês Milan Kundera escreveu sua obra prima, um livro intitulado A Insustentável Leveza do Ser, que tratava dessa nova tendência que começava a surgir, de relacionamentos fugazes sem compromisso, sem expectativas, “sem peso”. O personagem principal vivia um caso de muitos anos com Sabine, “mulher leve”. Então viviam os dois um romance sem qualquer compromisso. A dinâmica estava perfeita para ele, que era casado, enquanto ela fingia para si mesma de que era isso o que ela queria também. Afinal, eram “tempos modernos”…
Eis que Tomas, o personagem principal, tem também a esposa Tereza, mais nova, mais profunda, “a mulher pesada”, que exigia mais do relacionamento. Depois de um tempo sem Tereza, que muitas vezes considerava um fardo, ele descobre que é ela quem ele verdadeiramente ama. É com ela, que quer ficar. Escolhe o profundo ao invés do raso, deixando Sabine devastada.
Leveza demais acaba sendo insustentável.
O romance é pano de fundo para tratar uma questão filosófica: o que é melhor para o ser humano? O peso ou a leveza?
Citando Kundera do livro:
“Quanto mais pesado o fardo, quanto mais nossas vidas se aproximam da Terra, mais reais e verdadeiras elas se tornam. Por outro lado, a absoluta ausência de carga faz com que o homem seja mais leve que o ar, eleve-se às alturas, abandone a terra e seu ser terreno, e se torne apenas meio real, seus movimentos tão livres quanto insignificantes.”
Particularmente, acredito que na vida só conseguimos reconhecer a alegria se já visitamos a tristeza. Só conseguimos compreender o claro se já sabemos como é a escuridão. Somos todos feitos por luz e sombras, qualidades e defeitos, felicidade e dor.
Só conseguimos viver de forma verdadeiramente leve se também abraçarmos o nosso peso, de vez em quando.
Importante ressaltar que a linha entre o vazio e o “ser leve” é bem tênue.
Vejo pessoas tendo relacionamentos rasos com pessoas vazias, confundidas como “pessoas leves”.
Leveza demais é NADA. Não se sustenta. Como já dizia a minha avó: “Saco vazio não fica em pé!”
Se você não consegue jamais lidar com a dor do outro, não consegue estar disponível para quem quer que seja se for para ouvir um problema, se todo mundo tem que ser leve, alegrinho, uhuuuuuu, o tempo todo para que você consiga continuar convivendo com pessoas, talvez VOCÊ não seja leve, como pensa. Talvez seja apenas uma pessoa vazia.
Esse foi o tapa de hoje.
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