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O ano era 1982.

Eu tinha 12 anos e morava numa cidade bem pequena, chamada Anaheim, na Califórnia, com minha mãe, meu padrasto e meu irmão. Era dezembro, estava frio e era o primeiro natal que passaríamos longe do nosso país, amigos, avós, primos e de tudo o que conhecíamos.

Meu padrasto que era americano resolveu então que teríamos um natal dos sonhos e totalmente ao estilo do país. Quinze dias antes saímos para escolher a árvore, um pinheiro natural robusto e lindo, que ficou no canto da sala ao lado da varanda, em frente à lareira. Nós mesmos o decoramos com luzes, bolas e fios prateados e até hoje quando decoro as minhas árvores me lembro daquele momento e até do cheiro… Sabe quando você se lembra do cheiro de um dia especial? Pois é, eu me lembro…

Na noite do dia 24, usei um vestido todo rodado, de veludo verde com mangas compridas e gola de renda branca. Meias também brancas e sapato de verniz preto. Uma tiara completava o traje inesquecível, da menina curiosa e serelepe que fui um dia. Minha mãe serviu perú à moda brasileira e ficamos nos divertindo ao redor da lareira, ornada com meias de lã coloridas e cheias de balas e doces.

No outro dia, ao acordar, não acreditamos na quantidade de presentes que havia sido deixada debaixo da árvore, todos para nós. Mas haveria mais…

Descemos até a garagem e um carro novo, um Camaro branco enfeitado com um grande laço vermelho, como que embrulhado para presente, esperava pela minha mãe. A placa tinha o nome dela. E com ele, nos dirigimos ao passeio mais lindo que uma criança pode sonhar fazer na manhã de natal: fomos à Disneylândia.

Cinderela, castelo, Mickey, montanhas russas, a parada com todos os personagens… Era tanta beleza e tanta felicidade que eu entrei numa espécie de transe. Como que para conseguir registrar cada minuto daquele sonho no meu coração, para sempre. Foi com toda a certeza um dos melhores dias de toda a minha vida, pelo conjunto da obra. Um natal mágico para recordar por todo o sempre.

Minha infância nem sempre foi muito boa, preciso falar a verdade, mas esse sonho eu vivi.

Essa temporada nos Estados Unidos me abriu os olhos e a mente para o mundo, me mostrou o quão grande ele é, e me influenciou pelo resto de minha vida.

E por isso, eu agradeço à minha mãe.

O casamento dela não durou, voltamos ao Brasil e só fui voltar aos Estados Unidos já adulta. Fui algumas vezes mas nunca mais voltei à Califórnia. Nunca revi Anaheim e perdi totalmente o contato com o meu padrasto.

Queria um dia poder agradecer a ele também, por ter me dado o melhor natal da minha vida.

E você? Qual natal não sai da sua memória? Qual não sai do seu coração?

E qual natal inesquecível você vai deixar para os seus filhos?

As vezes a vida nos impõe tantos problemas, num ritmo tão frenético, que esquecemos que uma de nossas missões é a de criar memórias neles. Você está criando nos seus? Não precisa ser na Disney, não precisa sair do Brasil. Saia apenas do básico. Conviva com seus filhos,
invente brincadeiras, chame-os para decorar a árvore (e faça disso um evento). Crie momentos. Porque quando a gente cresce, eles viram pequenos oásis em nossas mentes. Quando eu estou angustiada, me recolho, me concentro e minha mente volta para aqueles dias, e para o dia de natal em que eu fui mais feliz. E como fui!

Feliz Natal com muitas memórias novas a todos.

Julia Fontelles
51 anos, empreendedora há mais de 30 anos, proprietária da Le Panier D’Amelie-Cestaria, especializada em cestas de café da manhã e de happy hours. E-mail julia.villasanti@live.com

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