Dom Jesus Maria Cizaurre Berdonces, bispo emérito de Bragança, também da Ordem dos Agostinianos Recoletos e espanhol nascido em Navarra, atualmente residindo em Paragominas (PA), recordou momentos íntimos seus com Dom Azcona, durante a cerimônia das exéquias do amado bispo emérito da Prelazia do Marajó, e foi muito aplaudido. Durante 13 anos, Dom Jesus foi vigário paroquial em Portel, pároco em Afuá, vigário paroquial em Salvaterra, superior de missões e reitor do Seminário de Soure. Formador dos seminaristas Agostinianos Recoletos em São Paulo, de 1990 a 1994, ocupou os cargos de superior e pároco de São José de Queluz, em Belém do Pará, de 1994 a 1997. Foi, ainda, superior maior da Província Santo Tomás de Vilanova, no Brasil; bispo da Prelazia de Cametá e 1º bispo da Diocese de Cametá.
“A minha vida foi, de alguma maneira, um paralelo à vida do nosso querido bispo falecido. E o meu primeiro encontro com ele aconteceu na Espanha, em Monachil (Granada), no tempo da formação em um convento. Na convivência com ele, nós percebemos, todos os cristãos da formação, que ele era um homem de muita oração, de muito sacrifício e de uma determinação muito forte.
Como curiosidade, eu recordo que certa ocasião ele decidiu fazer um retiro na montanha, em uma caverna. Coincidiu que nós estávamos também fazendo um retiro, próximo de onde ele se encontrava. E lá, todo dia, alguns de nós, os noviços, levávamos pão e água para ele, só. Pão e água. Por aí vocês podem tirar como realmente era um homem austero e determinado. Posteriormente, no retiro, ele confessou uma coisa que me chamou profundamente a atenção.
Ele disse assim: “_Eu estava fazendo a oração e senti dentro de mim a voz de Cristo que dizia:
_ José Luis, você não me ama.
E eu respondia:_Mas como não te amo, se eu faço tantas coisas por você, faço jejum, faço penitência, como é que não te amo?
E aquela voz continuava. _José Luis, você não me ama, não me ama”.
No final, ele se convenceu de que tudo aquilo que tinha feito por Jesus Cristo, verdadeiro sacrifício, não tinha nenhum valor, porque faltava o amor. Aquela foi uma verdadeira missão para ele.
Depois tivemos oportunidade de nos encontrar também aqui no Marajó. Eu estava em Afuá, na ocasião, e ele foi enviado para o Marajó. E aqui começou a sua peregrinação em defesa dos pobres e daqueles que sofrem, especialmente aqueles que são abusados e explorados. Naquela época Dom José Luis escolheu esse propósito, a defesa dos pobres. Os pobres são um tema muito forte na sua vida. Ele lutou contra todos aqueles que prejudicavam especialmente as crianças, os jovens e os pobres.
Tive a oportunidade de me encontrar com ele várias vezes, acho que foram mais de vinte e quatro. Na assembleia da CNBB em São Paulo, várias vezes. E quando se levantava para falar, todo mundo ficava atento, porque sabiam da força com que ele falava, e colocava aquelas questões que normalmente nos afligiam, e que às vezes não tínhamos muita coragem de enfrentar. Ele as enfrentava e as colocava na assembleia para que as ouvissem. Da mesma maneira aqui no Regional também nos encontramos várias vezes e do mesmo modo ele sempre se posicionou a favor dos pobres, a favor daqueles que precisavam do seu apoio, do seu amor. No Marajó lutou muito, lutou para que acabassem de explorar as crianças, adolescentes e, como consequência dessa luta, eu percebi perseguição. Às vezes escancarada, muitas vezes escondida. Muitas vezes ele foi rejeitado e criticado. Não tem como escapar, se fizer o bem e trabalhar direito as críticas vêm. E ele, dando a vida, também foi criticado.
Para concluir, a experiência também na sua doença. Na sua doença, eu senti das pessoas que estiveram com ele, que suportou tudo com muita paciência. Fez o caminho da santidade e sacrifício, de fidelidade à igreja e de entrega ao povo. Descanse em paz e que o Pai dê força a todos”.
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