Uma cerimônia belíssima e emocionante, que iniciou com missa de corpo presente e culminou com o sepultamento de Dom José Luis Azcona Hermoso, 3° bispo prelado do Marajó, na igreja matriz de Soure, sede da Prelazia do Marajó, marcou as exéquias do pastor santo e incansável que dedicou sua vida ao Evangelho e a lutar pela dignidade do povo marajoara, homem de coragem, oração e entrega. O ritual impressionante começou às 17h de ontem (22) e durou cerca de quatro horas. A multidão que recebeu seu corpo no aeroporto da cidade e acompanhou o cortejo até a Catedral de Nossa Senhora da Consolação não arredou pé durante o velório que se estendeu desde a quinta-feira de manhã até a noite de sexta, com quatro missas de corpo presente, celebradas, respectivamente, por Frei Simon, OAR; o pároco Padre José Antônio; Frei Afonso, OAR; e o bispo da Prelazia do Marajó, Dom José Ionilton Lisboa. Estavam presentes os bispos Dom Teodoro (Diocese de Ponta de Pedras), Dom Jesus María López Mauleón (Prelazia do Alto Xingu-Tucumã) e Dom Jesus Maria Cizaurre Berdonces (bispo emérito de Bragança), além de parte significativa dos padres, diáconos, missionárias e seminaristas de todo o arquipélago do Marajó, e o prefeito de Soure, Guto Gouvêa. O Papa Francisco, através do núncio apostólico no Brasil, enviou mensagem, assim como dezenas de entidades religiosas, quatro delas lidas na íntegra e as demais mencionadas. A missa de sétimo dia será na próxima terça-feira, 26, às 19h30 na mesma Catedral onde seu corpo foi sepultado, com transmissão ao vivo pela Pascom da Paróquia Menino Deus de Soure.
Ao encerrar a homilia, o bispo Dom Ionilton foi aplaudido de pé por todos que superlotavam a catedral e os que na rua acompanhavam através de telão a liturgia. Ele começou agradecendo à família de Dom Azcona, que o ofertou à igreja aos dez anos de idade. “Nós cremos que a vida de Dom José Azcona não foi tirada, a vida dele agora está transformada e começa a experimentar a sua plenitude em Deus. Podemos dizer que Dom José Luis Azcona agora participa da liberdade e da glória dos filhos de Deus plenamente. Esperança na vida eterna, esperança na ressurreição, como nos garante Jesus. Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que morra, viverá. Nós cremos em Jesus e por isso sabemos que todos nós vamos morrer e ressuscitar. A palavra de Jesus é a palavra que se cumpre. Dom Azcona foi ocupar a morada daquela casa do Pai onde já havia muitos outros que lá estavam e muitos de nós vamos estar. Entre tantas ações de Dom José Luis Azcona, como religioso agostiniano, padre depois disso, destacou-se o seu serviço em defesa dos direitos humanos, em especial o combate ao tráfico humano, à exploração sexual de crianças, adolescentes e jovens no Marajó. Parafraseando o que diz Jesus no Evangelho desta celebração, podemos dizer que com certeza Dom José Luis nasceu no dia em que deu o último suspiro e deixou esta vida, que foi ao encontro de Deus e ouviu o que Jesus disse no Evangelho hoje. Vinde, José Azcona, bendito de meu Pai, porque você me viu sempre desrespeitado, injustiçado, explorado no mar de ódio e lutou pela minha libertação. Fez isso através especialmente da Comissão Justiça e Paz, em nível da regional Norte 2 da CNBB e em nível de Prelazia. Com certeza nosso irmão Dom José Azcona escutou de Jesus estas palavras. Vinde, Dom José Azcona, porque o senhor soube amar e servir a Jesus, aos pobres excluídos e marginalizados do Marajó. Eu quero pedir: não deixemos este serviço feito por Dom José Luiz Azcona aos pobres excluídos ser sepultado também hoje. Eu peço especialmente aos seminaristas, aos diáconos, aos meus irmãos padres, aos missionários e missionárias que nos esforcemos para fortalecer a Comissão Justiça em Paz de Breves e de Melgaço e retomar onde já teve a Comissão Justiça em Paz da Prelazia e que já não existe mais, como é o caso de Soure. E vamos trabalhar em memória de Dom José Luiz Azcona para que, em breve, em todas as dez paróquias da nossa Prelazia exista a Comissão Justiça e Paz. Em homenagem a este homem que a gente tanto ama e que vamos hoje sepultar seu corpo. Quiseram dizer um tempo atrás que a exploração sexual aqui no Marajó era algo típico deste arquipélago. Talvez diante da importância da pessoa de D. José Luiz Azcona, da sua luta, do seu trabalho, da sua defesa dos direitos humanos e dos mais injustiçados, talvez quiseram usar o trabalho de D. Azcona para promover ideologias religiosas e projetos políticos. Mas a luta de D. José Luiz Azcona é do bem. Por isso nós, Igreja Católica, seguindo o exemplo de D. José Azcona, vamos assumir esta causa a partir da doutrina social da igreja, do ensinamento do Papa Francisco, das orientações da CNBB. Nós queremos trabalhar incansavelmente para que o Marajó seja um arquipélago livre dos exploradores de nosso povo, livre da exploração de crianças e adolescentes e jovens e vamos homenagear Dom Azcona continuando o que ele fez, defendendo a vida a dignidade do povo do Marajó. Vamos denunciar os exploradores de nosso povo e levantar nossa voz como a gente canta no hino da Prelazia: “o povo marajoara levanta a sua voz”. Levantemos a voz então de irmãos e irmãs em defesa de nossas crianças, adolescentes e jovens. Levantemos a nossa voz em defesa dos direitos humanos de nosso povo. Levantemos a nossa voz em honra de Dom José Luis Azcona. Em defesa da nossa Amazônia, em defesa da cultura, da verdadeira cultura de nosso povo marajoara. Que esta celebração, diante do povo, de nossos evangelistas, seja um marco, um novo tempo, para ter ação do Marajó. Que nós sejamos outros José Luíses Azconas, espalhados por todos os cantos da Prelazia do Marajó!”
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