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A literatura indígena encontra na infância terreno fértil para florescer. Com narrativas que mesclam mitos, simbolismos e valores ancestrais, os livros escritos por autores indígenas proporcionam experiências de pertencimento, empatia e formação identitária.

Reconhecido como uma das principais vozes da literatura indígena contemporânea, o escritor e educador Daniel Munduruku reforça a importância de apresentar essas narrativas desde cedo. “As histórias permitem não nos esquecermos de onde viemos e para onde caminhamos. Elas formam o ethos do pertencimento do indivíduo ao povo ao qual pertence”, afirma. Segundo ele, as crianças têm uma sensibilidade única para absorver o significado simbólico desses textos. “Elas ainda estão envoltas no mistério da existência e, por isso, compreendem com mais profundidade o que as histórias representam.”

Escritor e professor do povo Munduruku, nascido em Belém do Pará, Daniel formou-se em Filosofia, com licenciatura em História e Psicologia, pela Universidade de São Paulo. Além disso, fez mestrado em Antropologia social e doutorado em Educação, também na USP, e pós-doutorado em Literatura, pela Universidade Federal de São Carlos. Diretor-presidente do Instituto Uka – Casa dos Saberes Ancestrais, Daniel tem mais de 50 livros publicados e já recebeu prêmios como o da FNLIJ, além de uma menção honrosa da UNESCO.

Daniel faz parte da curadoria do Clube de Leitura Quindim, um serviço que envia mensalmente obras pensadas para cada faixa etária infantil.

Para Renata Nakano, idealizadora e diretora do clube, contar com Daniel Munduruku no processo de curadoria é um passo fundamental para ampliar os horizontes da bibliodiversidade no Brasil. “Conheço o trabalho do Daniel há muitos anos, especialmente porque ele foi pioneiro. Ele traz um olhar cuidadoso para esse recorte da literatura brasileira, sempre atento à emergência de novos nomes e à diversidade de formas como a literatura indígena se apresenta”, destaca.

Renata também chama atenção para o papel do Estado na valorização dessa produção. “O governo tem um papel importante de ampliar a diversidade nas leituras infantis, especialmente por ser o principal comprador de livros no país. Políticas públicas de incentivo são essenciais para garantir que obras de autores indígenas estejam presentes em escolas e bibliotecas.”

A inclusão da literatura indígena no universo infantil é, ao mesmo tempo, uma ferramenta de educação antirracista e uma estratégia de preservação cultural. Ao conhecerem outras formas de ver e viver o mundo, as crianças desenvolvem respeito, curiosidade e reconhecimento da diversidade como riqueza.

Entre os títulos selecionados pelo clube está “O Caminho para a Casa de Barro”, de Xadalu Tupã Jekupé e Rita Carelli, publicado pela editora Baião. A obra narra a trajetória de Xadalu — e, com ele, de tantos outros indígenas — que viram suas terras serem demarcadas, invadidas e retiradas de suas vidas. Um livro sensível e potente, que convida leitores de todas as idades a refletirem sobre pertencimento, território e resistência.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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