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As cineastas parauaras Monique de Bouteville (Encantados Produções), Jorane Castro (Cabocla Filmes e UFPA) e Fernando Segtowick (Marahu Filmes) estão participando do Marché du Film, o principal mercado de negócios do Festival de Cannes e um dos mais importantes do mundo para a indústria audiovisual. Realizado paralelamente à mostra oficial, o evento reúne produtores, distribuidores, programadores, agentes de vendas e representantes de fundos e festivais internacionais em um ambiente estratégico para negociações, parcerias e lançamentos.

Em sua dinâmica intensa, o Marché du Filme funciona como vitrine privilegiada para projetos em desenvolvimento, filmes finalizados e ideias em busca de coprodução, financiamento ou distribuição global. Para os profissionais do cinema, especialmente de regiões fora do eixo hegemônico – como é o caso da Amazônia – a presença nesse mercado representa uma oportunidade de inserção, visibilidade e construção de redes que podem impulsionar novos olhares e narrativas no cenário internacional.

A Encantados Produções levou para o Marché du Filme três projetos audiovisuais que refletem o território e as vozes da região: “Sossego”, “AIRA” e “Temperos de Aimée”. As produções desenvolvem narrativas que falam “de dentro para dentro”, como define Monique de Boutteville. 

O filme “Sossego” é dirigido por de Bouteville em parceria com Eva Pereira, cineasta tocantinense. A narrativa acompanha uma jovem amazônida em busca de pertencimento, identidade e reconexão com suas raízes. A produção já conta com apoio federal e está sendo apresentada em Cannes durante os encontros de coprodução França-Brasil (Co-production Day), com atenção especial ao mercado francês.

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“AIRA”, voltado ao público infantojuvenil, é uma ficção que mergulha nos mitos e símbolos da Amazônia através da jornada de autodescoberta de sua protagonista. A produção é realizada em parceria com a FaroRio.

Já “Temperos de Aimée”, dirigido por Zienhe Castro — também fundadora do Amazônia Doc — entrelaça experiências afetivas e culinárias na tela, explorando os sabores e histórias da cultura amazônica. O filme é uma coprodução com a ZFilmes.

Conversei com a Monique, que explica que “a Produtora Encantados tem uma atuação numa região específica da Amazônia, que é o Marajó. Eu atuo no Marajó desde 2005, produzindo cultura audiovisual, teatro e festivais junto com os colaboradores que são artistas e pesquisadores marajoaras e que trabalham nesse universo já há décadas”. Ela ressalta a importância de estarmos representados nesse tipo de evento e lutar pelas nossas produções, por viabilizar os nossos projetos, para que a Amazônia não seja só olhada, mas também escutada pelas vozes que são do lugar, que vivenciam o lugar. “Assim nós vamos começar a gerar narrativas e produtos cinematográficos que são realmente, que falam realmente da região, e não produtos que marginalizam ou que criam ideias distorcidas da região, sem que haja uma vivência realmente do território”. 

Projetos pensados e liderados por profissionais da região são essenciais para a nossa decolonização artística. Produções que realmente falam de dentro para dentro são necessárias e, felizmente, cada vez mais presentes. Esses filmes, além de desconstruírem estereótipos e preconceitos, têm a vocação também de criar público no nosso estado. Monique aproveita para deixar uma sugestão: “talvez fosse interessante que o estado do Pará ou que a Amazônia Legal pensasse em ter uma representação física dentro do festival de Cannes, já que nós vemos várias instituições de algumas regiões do Brasil que estão muito bem representadas com estande, com a visibilidade. Este investimento seria muito bem-vindo para que os cineastas amazônicos possam também estar dentro de estruturas que acolham e divulguem, e façam também a difusão desse universo, desse trabalho.”

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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