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A obra do escritor marajoara Dalcídio Jurandir foi declarada patrimônio cultural de natureza imaterial do Pará pela lei estadual nº 10.967/2025. A iniciativa foi do deputado Iran Lima (MDB), líder do Governo na Alepa. Biógrafo de Dalcídio e o maior especialista sobre a vida e obra do grande romancista marajoara, o professor doutor Paulo Nunes, poeta e escritor, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, em entrevista exclusiva para o portal Uruá-Tapera, comentou o tema.

“Exulto este fato, Dalcídio Jurandir patrimônio imaterial do Pará. Isto, no entanto, de nada vale se as novas gerações, nas escolas do Pará e do Brasil, não lerem os textos do homenageado autor. No Pará faltam políticas públicas que prestigiem e valorizem autores e autoras locais. As secretarias de Estado e municipais de Educação e Cultura, o que têm feito para livros dos nossos escritores chegarem às mãos dos estudantes? Sem políticas públicas tudo vira um oba-oba político, e mais nada. Nós, que militamos a favor da literatura amazônica, paraense, lutamos, para citar um exemplo, desde os anos 1980 para criar um museu para nossa literatura. Conseguimos, através da doação, pela família, do acervo de Bruno de Menezes. Muita luta junto à prefeitura de Belém. Aí muda o governo e o atual gestor de Belém desmonta tudo sem nenhuma justificativa convincente. Mas voltemos a Dalcídio…

Dalcídio Jurandir e sua obra de romancista, oportunamente, recoloca a Amazônia no cenário da literatura brasileira, na medida em que ele representa a nossa cultura diversificada, notadamente as do Marajó e das periferias de Belém. Dalcídio foi um sábio; ele criou uma pedagogia das ruas, valorizando as culturas da “criaturada dos pés no chão”, dos pretos e caboclos, dos migrantes pobres que têm em Dalcídio um forte protagonismo. Assim, reconhecer sua obra como patrimônio imaterial do Pará é gesto de reconhecimento fundamental. Que isto reforce a ação pública de republicação de sua obra, fundamental para o Brasil.

Reitero. Sem uma política de edição e distribuição de Dalcídio e outros autores e autoras locais tudo parece festa, oba-oba. Daí porque me congratulo com a Ioepa, que é a única instituição de Estado que tem um projeto de publicação de autores paraenses. Congratulo-me, portanto, com Jorge Panzera e sua equipe pela visão e compromisso com nossa literatura. Temos a PakaTatu, editora que investe pesado, e sem apoio público, em nossa literatura.

Dalcídio é um autor singular. Ele escreveu, disciplinadamente, durante 50 anos ininterruptos, uma obra grandiosa, denominada por ele ciclo de romances do Extremo Norte; ele é autor também de textos jornalísticos, crônicas, poemas e belas cartas, que dizem muito de nossa gente e nossa cultura. Impossível tratar da “Amazônia paraense profunda” sem conhecer seus autores e autoras. Dalcídio é um grande exemplo disto.

Dalcídio Jurandir traz consigo o Marajó; há um marajoaridade lancinante em seus textos. Ele é um humanista, um socialista convicto que aprendeu a mergulhar fundo em nossa amazonicidade. Essa experiência intelectual e sensível foi depurada, sem dúvida, pela sua vivência na Academia do Peixe Frito e no Partido Comunista. Congratulo-me com este reconhecimento a Dalcídio Jurandir, mas ressalto: faltam, no Pará, políticas públicas que façam nossos autores terem novos leitores, sobretudo nas escolas estaduais e municipais.”

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