Publicado em: 16 de maio de 2025
O novo rosto da criminalidade e o desafio de proteger a própria imagem na era dos deepfakes
O crime migrou. O assaltante que antes interceptava sua carteira no semáforo agora invade sua conta bancária através de uma única mensagem. O golpista que batia à sua porta com propostas enganosas agora cria perfis falsos com seu rosto e sua voz, simulando vídeos e áudios perfeitos, pedindo dinheiro a seus contatos.
A violência mudou de lugar – e passou da rua para a rede.
Vivemos uma transição silenciosa, mas avassaladora, da criminalidade tradicional para a criminalidade digital. E embora muitas vítimas ainda não saibam, o dano moral e material de um golpe virtual pode ser tão devastador quanto um roubo físico. Isso é agravado pela sofisticação crescente das ferramentas utilizadas por criminosos e pela falta de informação da população sobre os riscos e os caminhos legais de proteção.
A tecnologia é aliada — mas também pode ser armadilha.
A tecnologia trouxe inegáveis avanços: facilitou a comunicação, encurtou distâncias, otimizou processos. Vivemos com aplicativos no bolso que nos conectam ao trabalho, à família, aos bancos, ao mundo. No entanto, a mesma tecnologia que nos simplifica a vida também pode, se mal utilizada ou sem as devidas barreiras de segurança, nos expor de forma alarmante.
Em um mundo onde a nossa imagem, voz, hábitos e preferências circulam livremente pelas redes sociais, não somos apenas usuários: somos também alvos em potencial.
As ferramentas de Inteligência Artificial e edição digital, por exemplo, têm sido utilizadas de forma criminosa para criar os chamados deepfakes — vídeos e áudios falsos que simulam uma pessoa com impressionante fidelidade. Um rosto bem iluminado, um discurso plausível e um pedido urgente de dinheiro podem ser suficientes para enganar até familiares próximos.
Os golpes mais comuns hoje
A seguir, detalho os principais golpes virtuais que têm sido aplicados com frequência no Brasil — e que exigem atenção redobrada:
- Deepfakes para extorsão ou fraude
Golpistas criam vídeos com seu rosto e voz, simulando pedidos de transferências, ordens de pagamento ou declarações comprometedoras.
Como se proteger: restrinja a exposição de vídeos longos com fala contínua, não deixe perfis pessoais públicos, e oriente seus contatos a sempre confirmarem pedidos diretamente por ligação. - Clonagem de WhatsApp
A vítima tem sua conta sequestrada e os criminosos usam sua identidade para pedir dinheiro a amigos e familiares.
Como se proteger: ative a autenticação em dois fatores no WhatsApp e evite clicar em links duvidosos. - Golpes com perfis falsos em redes sociais
Criminosos copiam foto, nome e estilo de postagens para se passar pela vítima.
Como se proteger: denuncie imediatamente e oriente seus seguidores a não interagirem com contas suspeitas. - Phishing (links falsos)
Mensagens por e-mail ou SMS com links que direcionam a páginas falsas para capturar senhas ou dados bancários.
Como se proteger: sempre verifique o endereço do site, não clique em links não verificados e prefira acessar serviços digitando o endereço diretamente no navegador. - Comprovantes de Pix falsos
Golpistas simulam comprovantes de pagamento para receber produtos ou serviços sem pagar. Como se proteger: confirme se o valor caiu efetivamente na conta antes de liberar qualquer item. - Falsas propostas de investimento
Promessas de retornos rápidos com garantias irreais, geralmente associadas a criptomoedas ou ações.
Como se proteger: desconfie de lucros “fáceis”, e verifique a reputação das empresas em órgãos como o Banco Central e a CVM.
Dados que preocupam
De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), mais de 70% das tentativas de golpes hoje no Brasil ocorrem no ambiente digital. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) aponta que os prejuízos por fraudes superaram R$ 1,8 bilhão em 2023.
A cada hora, 4,6 mil brasileiros são alvo de tentativas de golpes por aplicativos de mensagens ou ligações. Em 2022, o país registrou mais de 103 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos e, em 2024, os crimes digitais cresceram 45%, atingindo a marca de 5 milhões de fraudes.
Atualmente, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking global de ataques cibernéticos, com 1.379 golpes por minuto, e mais de 40 milhões de brasileiros já perderam dinheiro em decorrência desses crimes, cujas perdas financeiras médias chegam a R$ 1.303 por vítima.
Isso reforça a urgência de encararmos o universo digital como um território de risco — onde precisamos de estratégia, proteção e orientação jurídica constante.
A importância da assessoria jurídica especializada
Ao contrário do que muitos imaginam, os crimes virtuais não são meras inconveniências: são atos tipificados na lei penal brasileira, como estelionato (Art. 171 do Código Penal), falsidade ideológica (Art. 299) e uso indevido de imagem (Art. 20 do Código Civil).
A assessoria jurídica preventiva atua na orientação sobre como se proteger e reduzir riscos — inclusive ajudando a construir protocolos internos, cláusulas contratuais de proteção de imagem e estratégias digitais seguras.
Já no aspecto reativo, um advogado especializado pode:
- Redigir notificações extrajudiciais a plataformas;
- Solicitar remoção de conteúdo com base na LGPD;
- Propor ações judiciais por danos morais e materiais;
- Acompanhar investigações junto às delegacias de crimes cibernéticos.
E se você for vítima?
- Registre um Boletim de Ocorrência (BO) imediatamente.
No Pará, você pode fazer isso de forma online:
Acesse: https://www.delegaciavirtual.pa.gov.br
Escolha: “Crimes Cibernéticos”
Inclua prints, links e todos os detalhes possíveis
- Entre em contato com a Delegacia de Repressão a Crimes Tecnológicos (DRCT), que é especializada nesse tipo de investigação.
- Busque orientação jurídica para proteger sua reputação e identificar os responsáveis.
Conclusão: sua imagem é seu maior ativo
Hoje, proteger sua imagem, sua voz e sua presença digital é tão essencial quanto proteger sua casa, seu carro ou seu negócio. A exposição irresponsável pode ser porta de entrada para danos emocionais, financeiros e institucionais irreversíveis.
Não estamos diante apenas de crimes — mas de uma transformação profunda da forma como o mal se infiltra nas relações humanas e nas instituições. E a resposta a essa nova era de desafios está na informação, na cautela e na ação estratégica com apoio jurídico especializado.
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