0
 

O novo rosto da criminalidade e o desafio de proteger a própria imagem na era dos deepfakes

O crime migrou. O assaltante que antes interceptava sua carteira no semáforo agora invade sua conta bancária através de uma única mensagem. O golpista que batia à sua porta com propostas enganosas agora cria perfis falsos com seu rosto e sua voz, simulando vídeos e áudios perfeitos, pedindo dinheiro a seus contatos.

A violência mudou de lugar – e passou da rua para a rede.

Vivemos uma transição silenciosa, mas avassaladora, da criminalidade tradicional para a criminalidade digital. E embora muitas vítimas ainda não saibam, o dano moral e material de um golpe virtual pode ser tão devastador quanto um roubo físico. Isso é agravado pela sofisticação crescente das ferramentas utilizadas por criminosos e pela falta de informação da população sobre os riscos e os caminhos legais de proteção.

A tecnologia é aliada — mas também pode ser armadilha.

A tecnologia trouxe inegáveis avanços: facilitou a comunicação, encurtou distâncias, otimizou processos. Vivemos com aplicativos no bolso que nos conectam ao trabalho, à família, aos bancos, ao mundo. No entanto, a mesma tecnologia que nos simplifica a vida também pode, se mal utilizada ou sem as devidas barreiras de segurança, nos expor de forma alarmante.

Em um mundo onde a nossa imagem, voz, hábitos e preferências circulam livremente pelas redes sociais, não somos apenas usuários: somos também alvos em potencial.

As ferramentas de Inteligência Artificial e edição digital, por exemplo, têm sido utilizadas de forma criminosa para criar os chamados deepfakes — vídeos e áudios falsos que simulam uma pessoa com impressionante fidelidade. Um rosto bem iluminado, um discurso plausível e um pedido urgente de dinheiro podem ser suficientes para enganar até familiares próximos.

Os golpes mais comuns hoje

A seguir, detalho os principais golpes virtuais que têm sido aplicados com frequência no Brasil — e que exigem atenção redobrada:

  1. Deepfakes para extorsão ou fraude
    Golpistas criam vídeos com seu rosto e voz, simulando pedidos de transferências, ordens de pagamento ou declarações comprometedoras.
    Como se proteger: restrinja a exposição de vídeos longos com fala contínua, não deixe perfis pessoais públicos, e oriente seus contatos a sempre confirmarem pedidos diretamente por ligação.
  2. Clonagem de WhatsApp
    A vítima tem sua conta sequestrada e os criminosos usam sua identidade para pedir dinheiro a amigos e familiares.
    Como se proteger: ative a autenticação em dois fatores no WhatsApp e evite clicar em links duvidosos.
  3. Golpes com perfis falsos em redes sociais
    Criminosos copiam foto, nome e estilo de postagens para se passar pela vítima.
    Como se proteger: denuncie imediatamente e oriente seus seguidores a não interagirem com contas suspeitas.
  4. Phishing (links falsos)
    Mensagens por e-mail ou SMS com links que direcionam a páginas falsas para capturar senhas ou dados bancários.
    Como se proteger: sempre verifique o endereço do site, não clique em links não verificados e prefira acessar serviços digitando o endereço diretamente no navegador.
  5. Comprovantes de Pix falsos
    Golpistas simulam comprovantes de pagamento para receber produtos ou serviços sem pagar. Como se proteger: confirme se o valor caiu efetivamente na conta antes de liberar qualquer item.
  6. Falsas propostas de investimento
    Promessas de retornos rápidos com garantias irreais, geralmente associadas a criptomoedas ou ações.

Como se proteger: desconfie de lucros “fáceis”, e verifique a reputação das empresas em órgãos como o Banco Central e a CVM.

Dados que preocupam

De acordo com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), mais de 70% das tentativas de golpes hoje no Brasil ocorrem no ambiente digital. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) aponta que os prejuízos por fraudes superaram R$ 1,8 bilhão em 2023.

A cada hora, 4,6 mil brasileiros são alvo de tentativas de golpes por aplicativos de mensagens ou ligações. Em 2022, o país registrou mais de 103 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos e, em 2024, os crimes digitais cresceram 45%, atingindo a marca de 5 milhões de fraudes.

Atualmente, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking global de ataques cibernéticos, com 1.379 golpes por minuto, e mais de 40 milhões de brasileiros já perderam dinheiro em decorrência desses crimes, cujas perdas financeiras médias chegam a R$ 1.303 por vítima.

Isso reforça a urgência de encararmos o universo digital como um território de risco — onde precisamos de estratégia, proteção e orientação jurídica constante.

A importância da assessoria jurídica especializada

Ao contrário do que muitos imaginam, os crimes virtuais não são meras inconveniências: são atos tipificados na lei penal brasileira, como estelionato (Art. 171 do Código Penal), falsidade ideológica (Art. 299) e uso indevido de imagem (Art. 20 do Código Civil).

A assessoria jurídica preventiva atua na orientação sobre como se proteger e reduzir riscos — inclusive ajudando a construir protocolos internos, cláusulas contratuais de proteção de imagem e estratégias digitais seguras.

Já no aspecto reativo, um advogado especializado pode:

  • Redigir notificações extrajudiciais a plataformas;
  • Solicitar remoção de conteúdo com base na LGPD;
  • Propor ações judiciais por danos morais e materiais;
  • Acompanhar investigações junto às delegacias de crimes cibernéticos.

E se você for vítima?

  1. Registre um Boletim de Ocorrência (BO) imediatamente.

No Pará, você pode fazer isso de forma online:
Acesse: https://www.delegaciavirtual.pa.gov.br
Escolha: “Crimes Cibernéticos”
Inclua prints, links e todos os detalhes possíveis

  1. Entre em contato com a Delegacia de Repressão a Crimes Tecnológicos (DRCT), que é especializada nesse tipo de investigação.
  2. Busque orientação jurídica para proteger sua reputação e identificar os responsáveis.

Conclusão: sua imagem é seu maior ativo

Hoje, proteger sua imagem, sua voz e sua presença digital é tão essencial quanto proteger sua casa, seu carro ou seu negócio. A exposição irresponsável pode ser porta de entrada para danos emocionais, financeiros e institucionais irreversíveis.

Não estamos diante apenas de crimes — mas de uma transformação profunda da forma como o mal se infiltra nas relações humanas e nas instituições. E a resposta a essa nova era de desafios está na informação, na cautela e na ação estratégica com apoio jurídico especializado.

Mei Habib
Mei Loureiro Habib é advogada especializada em Gestão Estratégica e Marketing Jurídico, com atuação em Direito Digital, Consultoria e Assessoria de Projetos. Atua na orientação de profissionais, empresas e instituições públicas e privadas, conectando estratégia, inovação e segurança jurídica para impulsionar resultados sustentáveis na era digital. E-mail: consultoriaceoge@gmail.com WhatsApp: (91) 98276-0930

O caso dos bebês reborn

Anterior

Biógrafo de Dalcídio Jurandir pede políticas públicas para leitura

Próximo

Você pode gostar

Mais de Direito

Comentários