Pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade mapearam populações naturais de castanheira (Bertholletia excelsa Bonpl.) no mosaico das unidades de conservação de Carajás, na região Sul do Pará, na primeira etapa do projeto de pesquisa “Estrutura e dinâmica populacional da castanheira no mosaico de unidades de conservação de Carajás”, coordenado pelo Prof. Dr. Ricardo Scoles (Ufopa) e executado em campo pelo engenheiro florestal e doutor em Botânica Marcos Vinicius Batista Soares, bolsista de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia da Ufopa, em parceria com o NGI Carajás do ICMBio e financiamento da Fundação Tecnologia Florestal e Geoprocessamento (Funtec/DF). “O objetivo principal desta pesquisa é avaliar o estado de conservação das populações de castanheiras no mosaico de áreas protegidas de Carajás, pressionadas há décadas pelo avanço da agropecuária e mineração”, explicou Scoles. São três unidades de conservação: Floresta Nacional de Carajás (Flonaca), Floresta Nacional de Tapirapé-Aquiri (Flonata) e Reserva Biológica de Tapirapé (Rebiota).
A equipe de pesquisa contou com a valiosa participação do cacique Roiri Xikrin. O principal resultado do trabalho foi a seleção e delimitação de castanhais com histórico de extrativismo tradicional para elaboração de parcelas de estudo e monitoramento das populações de B. excelsa.
“Par uma melhor compreensão da dinâmica populacional de uma espécie arbórea de longa vida como a castanheira, é relevante desenvolver estudos demográficos das populações de castanheira-do-pará nas suas áreas de ocorrência que garantam uma gestão sustentável mediante um efetivo monitoramento que permita a elaboração de indicadores de manejo e aplicação de modelagem florestal com predições futuras e incertezas associadas. Com isso, pode-se avaliar as tendências demográficas das suas populações ao longo do tempo. Poucas experiências de monitoramento das populações de castanheira a médio ou longo prazo há na Amazônia, à exceção da região de Trombetas”, alertou Scoles, que desde 2021 vem alertando para essa situação.
A principal ameaça ambiental dentro do território do mosaico é a mineração, que extrai, de forma intensiva, ferro e outros minerais (cobre, manganês, ouro e níquel) na Flonaca e na Flonata, principalmente. Já no entorno das UCs do Mosaico de Carajás, é forte a pressão das atividades agropecuárias e garimpeiras, além do desmatamento.
Os castanhais ocupavam extensas áreas por toda a região de Carajás e Marabá (Polígonos dos Castanhais), até a chegada da frente agropecuária e mineral. Atualmente, as populações de castanheiras do Sudeste paraense estão concentradas no mosaico de áreas protegidas. Os principais coletores de castanhas nessas áreas são os indígenas Xikrin (principalmente na Flonaca e Flonata) e os agroextrativistas que residem nos projetos de assentamento e na vila Lindoeste, em São Felix do Xingu (PA), no entorno da Flonata. Contudo, o estudo e o monitoramento da dinâmica das populações naturais de B. excelsa na região de Carajás são muito relevantes em termos técnico-científicos para a consolidação do programa de conservação dos castanhais em Carajás. “Ainda que a espécie esteja protegida pela lei do corte, é classificada como vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza, e sua situação no Sudeste do Pará é altamente preocupante devido ao desmatamento acumulado”, destaca Scoles.
Serão realizadas quatro expedições de campo com duração entre duas e três semanas cada uma. Para a Flonaca, estão previstas duas no primeiro semestre de 2025: a primeira no período da safra (entre janeiro e março) para mapear os castanhais coletados em parceria e consentimento com os indígenas Xikrin; e a segunda após a safra, em maio, a fim de inventariar castanheiras previamente selecionadas. As outras duas missões seguirão cronograma definido e devem ocorrer até setembro deste ano. A finalidade é sempre medir e remedir as castanheiras monitoradas cinco anos atrás para cada uma das duas unidades de conservação e instalar parcelas permanentes para estudo e monitoramento dos castanhais do mosaico nos próximos anos.
A castanheira-do-pará é uma árvore de grande porte que sobressai no dossel florestal (estrato emergente) e se distribui de forma descontínua por toda a bacia da Amazônia. Uma das características mais marcantes é a tendência de formar aglomerações naturais com alta concentração de árvores (castanhais); de acordo com estudos de pesquisadores brasileiros, são registradas entre cinco e 20 árvores por hectare. Esta espécie amazônica produz um fruto lenhoso com sementes comestíveis em forma de amêndoas, que competem com o açaí na liderança da geração de renda oriunda de produtos florestais não madeireiros, de acordo com relatórios divulgados pelo IBGE.
Fotos: acervo do projeto

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