Publicado em: 16 de abril de 2025
Um projeto desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) traz respostas promissoras para um dos grandes desafios ambientais da região Norte: a recuperação de solos contaminados por metais pesados como cádmio, cromo, cobre, zinco e arsênio, elementos altamente tóxicos à saúde humana e ao meio ambiente, frequentemente encontrados em áreas degradadas pela mineração e por lixões.
Coordenado pelo professor Cândido Ferreira Neto, o trabalho é conduzido por alunos e professores do Grupo de Pesquisa de Estudos da Biodiversidade de Plantas Superiores (EBPS) da UFRA e aposta em uma abordagem dupla e inovadora: o uso de biocarvão (biochar) e plantas fitorremediadoras para restaurar a vitalidade dos solos e promover reflorestamento com espécies amazônicas adaptadas.
Comum na dieta amazônica, o açaí gera grandes volumes de resíduos, especialmente os caroços, que não têm destino apropriado e frequentemente se tornam poluentes ambientais. Por meio de um processo chamado pirólise (a degradação térmica do material em altas temperaturas e ausência de oxigênio), os pesquisadores transformaram o caroço de açaí em biocarvão, mantendo suas propriedades físico-químicas essenciais à nutrição do solo.
Aplicado ao solo, o biocarvão atua como um filtro de metais pesados, adsorvendo essas substâncias e ajudando a corrigir a acidez do solo (pH), ao mesmo tempo em que libera macro e micronutrientes como nitrogênio, fósforo, magnésio, potássio e enxofre. O biocarvão também retém carbono, reduzindo sua emissão para a atmosfera, o que contribui no combate ao efeito estufa. “O biochar também retém carbono no solo, evitando que o gás carbônico alcance a atmosfera, o que contribui para evitar mais danos ao efeito estufa”, explica Ferreira.
A segunda frente do projeto envolve o uso de plantas nativas com capacidade fitorremediadora, ou seja, que absorvem metais pesados acumulando-os em suas raízes, troncos ou folhas, limpando gradualmente o solo. Espécies como ucuuba, mogno e palheteira já foram testadas com resultados promissores. As plantas de mogno resistiram bem a níveis tóxicos de cobre, enquanto a ucuuba apresentou tolerância significativa ao cádmio. A palheteira, por sua vez, demonstrou tolerância parcial e ainda será testada com outros metais.
A escolha das espécies segue critérios como tolerância a ambientes contaminados, capacidade de acumular metais e de translocar essas substâncias da raiz para a parte aérea. A interação entre o biocarvão e as plantas se mostrou positiva: o biochar reduz a disponibilidade dos metais no solo, o que permite que as plantas se desenvolvam melhor, mesmo em ambientes adversos.
Além do papel ambiental, a pesquisa aponta benefícios concretos para a agricultura familiar na Amazônia. Os testes realizados com culturas como milho e jambú indicam que a aplicação de biocarvão melhora significativamente a fertilidade do solo, aumentando a produtividade. Segundo, o pesquisador, os solos amazônicos são naturalmente ácidos e pobres. Com o biocarvão, o pH é corrigido e ainda oferecemos nutrientes essenciais, reduzindo a necessidade de calagem e adubação química.
A propriedade do biocarvão de reter água também é um diferencial importante em períodos de estiagem, garantindo umidade e estabilidade hídrica às plantas em solos degradados.
O projeto, que conta com financiamento da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) desde 2023, avança agora para testar novas espécies com potencial fitorremediador, como andira-uxi, pau-pretinho e tatapiririca, ampliando as possibilidades de recuperação de áreas críticas. A equipe também estuda a produção de biocarvão a partir de outros resíduos orgânicos, como ouriço e casca de castanha-do-pará, podas de árvores e casca de cacau, buscando formas sustentáveis de aplicação na produção de mudas, hortaliças e culturas como feijão e milho.
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