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O transporte para o arquipélago do Marajó sempre foi precário e as denúncias são feitas há décadas, sem providências efetivas. São constantes as panes que deixam os passageiros à deriva, incêndios e naufrágios, apesar das passagens caríssimas e das condições abaixo do nível da pobreza em que vivem os marajoaras. O Portal Uruá-Tapera publicou anteontem a mais recente de incontáveis matérias sobre a falta de segurança, de higiene e de dignidade nas embarcações que fazem as linhas, além da falta de fiscalização. Hoje, a Capitania dos Portos da Amazônia Oriental confirmou que, por enquanto, são 14 mortos – adultos, crianças e idosos – no naufrágio da lancha “Expresso Dona Lourdes”, que saiu de Santa Cruz do Arari hoje de manhã cedo e naufragou perto da Praia da Saudade, na Ilha de Cotijuba, em Belém. Trinta pessoas foram resgatadas com vida pelo pescador chamado Zezinho e levadas para as praias da Saudade, do Vai quem quer, Praia do Amor e a Praia Funda. Sobreviventes afirmam que 110 passageiros estavam a bordo. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) divulgou uma lista com 51 nomes que seriam de sobreviventes. Uma pessoa que não embarcou em Salvaterra contou que a lancha estava superlotada porque era a única opção e já estava cheia quando aportou lá, ainda assim embarcaram mais 14 pessoas, sem qualquer fiscalização. O Marajó está de luto, Belém e todo o Pará também.

Equipes de inspetores navais e do Aviso Hidroceanográfico Fluvial ‘Rio Xingu’, da Marinha, participam das buscas. Um helicóptero do Graesp dá apoio, além de nove embarcações do Grupamento Fluvial. O Corpo de Bombeiros Militar do Pará e a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil deslocaram duas embarcações com mergulhadores para tentar resgatar os desaparecidos. Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram o desespero da descoberta da água nos motores, o naufrágio e depoimentos de sobreviventes.

Como sempre nas tragédias, há o “jogo de empurra” responsabilidades. A Arcon afirma que a embarcação era “clandestina” e que “alertou por três vezes a Capitania dos Portos”. Mas se a população usuária sabe o dia, a hora e o local da viagem não é crível que o órgão fiscalizador desconheça, o que evidencia não existir clandestinidade e sim ilegalidade e impunidade. A pessoa que escapou do naufrágio revela que houve tumulto na hora do embarque. Mas não havia fiscalização. Os passageiros pagaram com as suas vidas, além dos seus pertences e dos preços extorsivos. Em todos os muitos naufrágios e sinistros dessas embarcações, os donos das empresas jamais foram responsabilizados e punidos criminal, civil e administrativamente. Familiares das vítimas nunca foram indenizados. As embarcações irregulares, obsoletas, inseguras e desconfortáveis continuam operando, superlotadas, e os usuários são embarcados e desembarcados como gado em embarcadouros cujas condições são deploráveis.

Os órgãos de fiscalização ignoram, mas todo mundo sabe que há várias lanchas iguais à Expresso Dona Lourdes fazendo viagens que saem de diversos embarcadouros, todas com grande número de passageiros, literalmente empurrados para a morte.

Os sobreviventes receberam atendimento no postos de saúde da Ilha de Cotijuba, além da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Icoaraci e da Unidade Básica de Saúde (UBS) da Marambaia. O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, cancelou sua agenda e foi apoiar pessoalmente as vítimas do naufrágio, na Unidade Pedagógica da Faveira, localizada em Cotijuba, onde a Prefeitura montou um ponto de auxílio. Disponibilizou as embarcações que servem às escolas municipais, as equipes médicas de Outeiro e Cotijuba, os carros da Escola Bosque, além de alimentação, atendimento básico como aferição de pressão e doação de roupas. Edmilson mobilizou, ainda, a Secretaria Municipal de Saúde, Fundação Escola Bosque, Funpapa, Guarda Municipal e Comissão de Defesa Civil, e decretou luto oficial por três dias.

O governador Helder Barbalho também cancelou sua agenda no Sul do Pará e retornou a Belém para acompanhar o gabinete de crise que foi criado. O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos e Ações Estratégicas da Defensoria Pública do Pará está atendendo as vítimas e familiares. Para solicitar ajuda, basta ligar para (91) 3201-2680. Em suas redes sociais, Helder garantiu que está prestando todo o apoio às vítimas e vai trabalhar de forma incansável para encontrar os desaparecidos e responsabilizar os culpados pela tragédia com a embarcação que afundou em Cotijuba na manhã de hoje. E decretou luto de três dias em todo o Pará.

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