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“Olá, velho amigo.
Um outro amigo, com quem
professo da mesma convicção religiosa, me disse que antes de melhorar, ainda
vai piorar muito.
Pois é, amigo, só
encontro explicação plausível para a sucessão dos últimos acontecimentos
violentos no imponderável. Sei que existem explicações de cunho psico-sociológico
para todas as freguesias e gostos, uns simplórios outros cerebrinos, mas
qualquer um não resiste à mera constatação que você realizou – na forma de
perguntas que abaixo transcrevo, e que traduzem-se em questionamentos que
também faço todos os dias: “Fala
Sinélio… O que tá acontecendo com o Brasil? a economia está melhor que antes,
as desigualdades menores, melhor educação, mas nem por isso a criminalidade
cai, todo o diagnostico e discurso dos sociólogos e esquerda então eh meio
míope, não? E isso agora, queimar ônibus eh o que? forma de protesto? protesto
contra o que? e qual o objetivo?”
Enfim, lamento dizer,
mas está cada vez pior, amigo. Aqui em Belém (ou no Estado como um todo), nos
esforçamos muito, mas muito mesmo, para que a criminalidade (violência) seja
contida. Mas o que vemos é que hoje, com o dobro ou o triplo de esforço e
aparato policial, não conseguimos mais ter a paz daquela sociedade em que eu e
você fomos criados e convivemos quando e tenra idade.
A sociedade brasileira
mudou… e mudou pra prior. Outro dia, em conversa com a Joselma, no café da
manhã, ela me disse que estava em uma sociedade estranha pra si; que seu modo
de encarar a vida era incompatível com tanta barbaridade e violência.
Frustração de quem, como eu e você, esperava estar em um mundo melhor.
Você está certo quanto a
impunidade. Não tenho dúvida: ela é a mola propulsora do crime como um todo,
conquanto se traduz em verdadeiro encorajador da transgressão. E o policial
corrupto? nem se fala! Esse é pior que bandido declarado, pois do bandido se
espera, naturalmente, que ele seja seu inimigo (do bem). Já o policial, você
espera proteção, ajuda, socorro… é em quem você confia, naquele momento, para
te salvar do algoz…. e acaba sendo aquele que vai estuprar sua dignidade e
confiança nas instituições.
Igual ao coelho ferido
na estepe, que grita por socorro… o lobo atende ao chamado e corre ligeiro…
o socorro que o coelho espera certamente vai ser pago de uma outra forma.
Você sabe, tenho três
filhos em idade escolar. Procuro viver dignamente com o que ganho. E tem sido
assim, graças a Deus. Infelizmente não dá pra fazermos tudo o que queremos de
uma só vez. Preciso de planejamento e disciplina. O mais duro é explicar para
meus filhos COMO o delegado tal ou o coronel tal tem esse ou aquele carro, esse
ou aquele padrão de vida e eu não. Antes era mais difícil, quando ainda mais
jovens. Hoje, já adolescentes, já sabem que existem vários tipos de policiais e
não mais me embaraçam com perguntas desse jaez. Pena. Já estão desiludidos (ou
cônscios) da sociedade em que vivem. Erro e erro muito amigo, como qualquer um
que deambula sobre este planeta, mas encarar o rosto dos meus filhos com a
altivez de quem está do lado certo, eis aí algo que não está a venda e não tem
preço.
A discussão é longa… e
boa… mas, por último, me referindo à herança dos governos militares, sou da
opinião que o ordenamento jurídico brasileiro atual, dado pelo estado
democrático de direito insculpido na Constituição é incompatível com policias
militarizadas. O policial, antes de ser um repressor, deve ser um garantidor de
direitos. Se tiver tempo (e disposição) escrevi um breve artigo a esse
respeito. http://www.segup.pa.gov.br/?q=node/188.
Me despeço, amigo,
dizendo que você faz parte de meu patrimônio imaterial, porque, como disse
Shakespeare, “o que importa não é o
que você tem na vida, mas quem você tem da vida.”
Grande abraço.
Sinélio.”
(Sinélio Ferreira
de Menezes Filho, 
delegado de Polícia Civil)
Meu comentário: interessante
e oportuna a reflexão do delegado, adepto da polícia cidadã e do respeito aos
direitos humanos. Como o delegado tal ou
o coronel tal tem esse ou aquele carro, esse ou aquele padrão de vida e outros
com a mesmo cargo ou patente não podem ter?
A essa pergunta é preciso que
quem tem poder para tal dê a necessária resposta. A sociedade merece.
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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