Publicado em: 9 de maio de 2025
O Brasil registrou, em 2024, a marca de 227.656 internações hospitalares pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência de acidentes de trânsito — o que representa uma média de uma internação a cada dois minutos. O dado é de um estudo conjunto da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) e da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abremed), divulgado neste mês de maio, dentro das ações da campanha Maio Amarelo, que este ano tem como lema “Mobilidade Humana, Responsabilidade Humana”.
As consequências para o sistema de saúde pública são bilionárias. Segundo o estudo, apenas em 2024, o SUS desembolsou R$ 3,8 bilhões para custear o atendimento hospitalar das vítimas de trânsito, uma quantia que seria suficiente para construir entre 32 e 64 hospitais de médio porte, implantar 35 mil quilômetros de ciclovias urbanas ou adquirir 15 mil ambulâncias básicas.
O Brasil contabilizou mais de 150 mil internações de motociclistas em 2024, o que representa mais de 60% de todos os atendimentos hospitalares relacionados a acidentes de trânsito no ano. O número é superior à soma das internações de pedestres (16%), ciclistas (7%) e ocupantes de automóveis (7%). Os dados, coletados entre 2015 e 2024, confirmam um perfil já conhecido, mas ainda sem solução: a maior parte das vítimas é homem jovem.
Entre todas as internações registradas na última década, 78% das vítimas eram do sexo masculino, enquanto as mulheres representaram 22%. A maior incidência está entre os jovens de 20 a 29 anos, que somam 28% do total de casos. Na sequência, aparecem os adultos de 30 a 39 anos e de 40 a 49 anos, faixas que, juntas, superam 65% de todas as hospitalizações. Embora em números absolutos representem uma parcela menor (9%), os idosos são os mais vulneráveis a complicações graves e óbitos em decorrência das lesões. Já 15% dos casos envolvem vítimas com menos de 20 anos, muitas vezes expostas por negligência no uso de equipamentos de segurança, como cadeirinhas infantis.
O estudo mostra um aumento de 44% nas internações por acidentes de trânsito em dez anos, saltando de 157 mil em 2015 para 227 mil em 2024. O crescimento foi registrado em todas as regiões do país, com destaque para o Sudeste, que lidera em números absolutos com 747.757 internações no período, representando 40% do total nacional. O estado de São Paulo concentra a maior parte, com 387.991 registros, seguido por Minas Gerais (218.402) e Rio de Janeiro (94.895).
O Nordeste aparece como a segunda região mais afetada, com 514.702 internações. Bahia (107.820), Ceará (107.107)e Piauí (72.140) lideram entre os estados nordestinos. A região teve um crescimento contínuo, com destaque para Paraíba e Sergipe, que praticamente dobraram o número de atendimentos entre 2015 e 2024.
O Sul do Brasil registrou 208.698 internações, sendo o Paraná (98.539) o estado com maior número, seguido por Santa Catarina (71.794). Em 2024, a região bateu recorde histórico, com 24.670 internações.
O Centro-Oeste teve 208.173 casos em dez anos, praticamente dobrando o número anual, que saltou de 12.859 em 2015 para 25.407 em 2024. Goiás lidera com 98.343 internações, seguido pelo Mato Grosso (43.466) e pelo Distrito Federal (4.182 em 2024), que triplicou seu número em uma década.
Já o Norte acumulou 157.656 internações, com crescimento gradual. O Pará concentra quase metade do total, com 71.087 registros, e o Amapá chamou a atenção ao triplicar sua média histórica, atingindo 1.001 internações em 2024.
Com quase metade das vítimas entre 20 e 39 anos, o levantamento sublinha o impacto econômico e social dos acidentes de trânsito, que afetam principalmente a população em idade produtiva. As motocicletas, mais acessíveis e utilizadas como ferramenta de trabalho em todo o país, concentram a maior parte das internações, o que é um alerta claro para a necessidade urgente de políticas públicas de prevenção e proteção social às vítimas.
Comentários