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Cinquenta e dois anos depois de ter sido lançado com destino a Vênus, um pedaço da nave soviética Kosmos 482 deve finalmente retornar à Terra, em uma reentrada descontrolada que está sendo monitorada por agências espaciais internacionais. O evento, previsto para ocorrer por volta de sábado, 10 de maio, desperta a curiosidade da comunidade científica e da população global, mas especialistas garantem que as chances de causar danos são mínimas.

Lançada em 1972 durante a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, a Kosmos 482 era parte de uma missão interplanetária fracassada. Sem conseguir se libertar da órbita baixa da Terra, a nave se desintegrou em quatro partes. Uma delas, a cápsula de pouso construída para resistir às condições extremas da atmosfera de Vênus, continua em órbita e deve cruzar novamente a atmosfera terrestre nesta semana.

De acordo com a NASA, trata-se de uma cápsula esférica feita de titânio, com aproximadamente um metro de diâmetro e quase 500 quilos. Projetada para suportar temperaturas e pressões extremas, ela possui um escudo térmico robusto que pode permitir que parte de sua estrutura sobreviva à violenta reentrada na atmosfera da Terra.

Contudo, o sistema de paraquedas da cápsula, projetado para atuar na atmosfera venusiana, está certamente degradado após mais de meio século exposto ao ambiente espacial. Isso torna a queda completamente descontrolada.

Ainda que o risco para a população mundial seja extremamente baixo, a área de possível impacto cobre uma faixa entre 52 graus de latitude norte e 52 graus de latitude sul, abrangendo praticamente todo o mundo habitado, incluindo o Brasil, apesar de o centro das previsões atuais não estar sobre o país. As condições orbitais, entretanto, mudam constantemente, e não é possível descartar completamente essa possibilidade.

Casos semelhantes já ocorreram no passado. Em 2018, a estação espacial chinesa Tiangong-1 se desintegrou sobre o Oceano Pacífico, e em 2022, o foguete Longa Marcha 5B, também da China, caiu sobre o Oceano Índico. A maioria dos objetos que reentram na atmosfera se desintegra completamente antes de atingir o solo. As probabilidades de uma pessoa ser atingida por um detrito espacial como a Kosmos 482 são comparáveis ao risco de ser atingido por um raio.

A cápsula está sendo rastreada pelas principais redes de monitoramento espacial, incluindo o Centro de Vigilância e Rastreamento da União Europeia (EU SST), que trabalha para refinar as previsões nas próximas horas.

O episódio desencadeia o debate sobre a necessidade de projetos mais responsáveis para futuras missões espaciais. As naves modernas devem ser construídas com sistemas que permitam uma reentrada controlada e segura, minimizando riscos e permitindo um melhor manejo ambiental dos detritos espaciais.

Hoje, segundo a ESA, há cerca de 50 mil objetos com mais de 10 centímetros de diâmetro orbitando a Terra — uma verdadeira ameaça para a segurança de futuras missões espaciais e para a integridade dos satélites em operação. De acordo com o relatório mais recente da agência europeia, ocorrem mais de três reentradas de objetos grandes por dia.

Gabriella Florenzano
Cantora, cineasta, comunicóloga, doutoranda em ciência e tecnologia das artes, professora, atleta amadora – não necessariamente nesta mesma ordem. Viaja pelo mundo e na maionese.

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