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Na próxima segunda-feira, dia 28, é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQ+. Ao relembrar a Revolta de Stonewall, refletimos também sobre as conquistas e lutas que a comunidade LGBTQ+ enfrenta diariamente ao redor do mundo. E, é claro, também no mundo dos games. 

Não é uma associação óbvia, mas vídeo games, desde sua criação, têm algo de “queer” em sua essência. “Spacewar!”, um dos primeiros jogos inventados, foi algo feito na surdina, meio escondido, meio ilícito, assim como viviam milhares de LGBTQ+ em 1962, época em que o jogo foi “inventado”. O motivo? Computadores eram um recurso raro e caríssimo, na época. O Massachusetts Institute of Technology, por exemplo, tinha apenas um, que precisava ser compartilhado para processar dados – basicamente cálculos – de diversas pesquisas. Era essa a função prioritária, normativa, se preferir, do computador.  

Spacewar! - Wikipedia
“Spacewar!” sendo jogado em um computador do mesmo modelo em que foi criado

Foi aí que um grupo de estudantes, liderados por Steve Russell, resolveu bagunçar o coreto e invadir o laboratório durante algumas noites. A intenção? Usar o poderoso aparato para programar um jogo, algo que deixou os professores da época furiosos e de cabelo em pé. Imagine só, usar apenas para o prazer algo que, na visão de toda a sociedade, deveria servir a uma função prática? Mas tenham eles gostado ou não, “Spacewar!” se tornou um dos primeiros vídeo games multiplayer (para mais de um jogador ao mesmo tempo) a existir e abriu espaço para a realização de quase todos os jogos que conhecemos hoje. 

Por aí, já dá pra ver que não é só por acaso que diversos criadores de games são LGBTQ+. Você provavelmente conhece The Sims, certo? Sabia que o jogo é dedicado a Dani Bunten, uma mulher trans? Isso porque foi ela a criadora de M.U.L.E., em 1983. O game de estratégia para vários jogadores é importante até hoje, por ter trazido conceitos de design que inspiraram jogos de simulação – como The Sims – e criar princípios de design que possibilitaram a criação de games do gênero “battle Royale”, como Fortnite. Quem joga esses jogos provavelmente também pode agradecer Bunten por seu legado. 

Mas se seu negócio são jogos mais narrativos, como “Star Wars: Knights of the Old Republic” ou mesmo o RPG de fantasia “Dragon Age: Inquisition”, então você com certeza conhece o trabalho de David Gaider. O designer de narrativas canadense é gay e criou as histórias destes e muitos outros jogos. 

David Gaider, em foto divulgada em seu Twitter 

Nesta semana, a coluna é dedicada a jogos com temática LGBTQ+ e, especialmente, a jogos criados por pessoas queer. Confira as sugestões, escolha sua favorita e jogue com orgulho! Happy pride! 

Jogos com temática LGBTQ+ 

Tell me Why (2020, disponível para Xbox One e Windows) – O game conta a história de dois irmãos gêmeos com poderes telepáticos que voltam à sua cidade natal depois de vários anos para investigar a morte da mãe. “Tell me why” é tido como responsável por uma das melhores representações de um personagem transgênero já feitas para um game.   

Hades (2018, disponível para iOS, Nintendo Switch, Playstation 5 e Windows) – Se jogos apenas narrativos não são muito a sua praia, que tal se jogar num roguelike de ação que mescla gameplay e narrativa de forma orgânica e perfeita? O game, que é premiadíssimo e considerado um dos melhores lançamentos recentes, tem uma energia queer indescritível e extremamente bem construída, além de ser quase uma aula de mitologia grega.  

Gone Home (2013, disponível para iOS, Nintendo Switch, Playstation 4, Xbox One e Windows) – Colocar o jogo nesta lista é quase um spoiler, mas não recomenda-lo seria um pecado ainda maior.  “Gone Home” subverte a própria ideia do que é um game, (de forma ainda mais intensa para a época em que foi lançado) convidando o jogador a explorar uma casa vazia e descobrir, por meio de pistas, o que aconteceu. A mistura de gêneros, incluindo a atmosfera de terror, e a forma como a história é contada inspiram novos games a cada ano. Além da trilha sonora e ambientação “anos 90” serem impecáveis.  

Night in the woods (2017,  disponível para iOS, Nintendo Switch, Playstation 4, Xbox One e Windows) – Mesmo com personagem não-humanos, o jogo traz uma cativante história com diversos personagens LGBTQ+. Além de divertido, nos convida a desconstruir nossas noções de gênero e sexualidade mesmo em um contexto de fantasia. 

Games de criadores LGBTQ+ 

Before your eyes (2021, disponível para Windows) – O game é jogado por meio da sua webcam e tem uma premissa extremamente original e emocionante. Hana Lee, artista principal do projeto, se define como pessoa não-binária e com certeza é alguém para se estar de olho. Um dos seus projetos, No Longer Home, em parceria com Cel Davison (que também se define como pessoa não-binária) promete ser uma experiência mágica e autobiográfica.  

Os jogos do Male Doll Studio (disponíveis para Windows) – Liderado por Victória Invicta, uma drag queen brasileira, o Male Doll Studio combina influências como bara (estilo de desenho japonês que normalmente mostra homens extremamente sexualizados e em situações homoeróticas) e games clássicos para criar uma linguagem única, colorida e, claro, extremamente queer. Boyfriend’s Rescue (com forte influência de Super Mario World) é um dos meus favoritos e mostrado no trailer acima (para maiores de 18 anos)!  

Código QR

Descrição gerada automaticamente com confiança baixa

Queer Games Bundle 2021 – Esse “bundle“ (pacote com diversos games) traz mais de 200 jogos pelo preço de um. A ideia é mostrar como com apenas um terço do orçamento de um jogo AAA (“Triple A”, como são chamadas as super-produções na indústria de games), é possível que criadores menores produzam muito e com qualidade. A maioria dos jogos são visual novels (narrativas interativas), mas há destaques interessantes, como um roguelike de se juntar com amigos para expulsar fascistas das ruas (Converger) ou um RPG sobre uma cidade com uma competição de “mostrar muque”, inspirado em SaGa (Heart is Muscle). Há até jogos analógicos, para se imprimir e ter experiências teatrais interativas, por exemplo.  

*O artigo acima é de total responsabilidade do autor.

Dimas de Lorena Filho
É jornalista com mais de 10 anos de experiência em comunicação corporativa em empresas como Experian, Monsanto e Bayer. Largou da chupeta por causa do videogame. E fez mestrado só pra poder estudar "joguinho". Atualmente, estuda Game Design na Universidade de Ciências Aplicadas de Colônia, na Alemanha.

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