Publicado em: 11 de maio de 2025
Introdução
A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, é um ecossistema vital para a estabilidade climática global, a partir dos serviços ecológicos e econômicos prestados por sua imensa diversidade biológica. Assim como, a partir das comunidades originárias, e locais, que desenvolveram saberes de como conviver com ela sem devastá-la e sem sofrer com a miséria. Fato científico que recomenda maior atenção e aprendizado com a sociobiodiversidade amazônida, reconhecendo e respeitando seu protagonismo.
No entanto, esta região enfrenta uma série de desafios relacionados à Governança Socioambiental (ESG, na sigla em inglês), de governança corporativa e de governos. Neste documento, exploramos os principais desafios para a ESG na Amazônia e as estratégias para superá-los.
Os fundos ESG (Governança Socioambiental) têm ganhado destaque nas bolsas de valores ao redor do mundo. Estes fundos são projetados para atender a critérios específicos que promovem práticas sustentáveis e responsáveis. A demanda por investimentos ESG reflete uma crescente conscientização dos investidores sobre a importância de adotar abordagens sustentáveis que não apenas gerem retornos financeiros, mas também contribuam positivamente para a sociedade e o meio ambiente – claro que na perspectiva de sintonia com novos valores que passam a orientar o comportamento dos consumidores.
Crescimento dos Fundos ESG
De acordo com dados da Ibovespa, o número de fundos ESG tem crescido exponencialmente. Em 2020, havia cerca de 2.000 fundos ESG em todo o mundo. Esse número mais que dobrou em 2023, chegando a aproximadamente 4.500 fundos. A Europa lidera com uma participação significativa, representando cerca de 50% dos fundos ESG globais.
Os mercados europeus são pioneiros em investimentos ESG, refletindo uma forte legislação e políticas ambientais. Em 2023, os fundos ESG na Europa somaram mais de €1 trilhão em ativos sob gestão. Países como a Alemanha, França e Reino Unido são líderes nesse segmento, com um crescimento anual médio de 20% no número de fundos ESG. Os Estados Unidos e Canadá também têm mostrado um aumento substancial em investimentos ESG. Em 2023, os fundos ESG na América do Norte gerenciavam cerca de $800 bilhões em ativos. O crescimento anual médio na região é de cerca de 25%, com um aumento significativo no interesse por parte de investidores institucionais e individuais. A previsão para 2025 é que somem globalmente 53 trilhões de dólares em investimentos. No Brasil, já superamos 50 bilhões de reais em 2024.
A adoção da Governança socioambiental(ESG) pelas grandes empresas, ao realizar a contabilidade dos impactos sociais e ambientais gerados pela sua tecnologia de produção, antes negada e relegada à Sociedade, tem gerados bons resultados, já percebido por segmentos crescentes de consumidores que passam a orientar seu consumo a partir daí. Principais impactos obtidos:
- Redução de Emissões de Carbono: Muitas empresas que recebem investimentos ESG estão comprometidas com a redução de suas emissões de carbono, contribuindo para a luta contra as mudanças climáticas.
- Melhoria nas Práticas Sociais: Investimentos ESG promovem melhores condições de trabalho, diversidade e inclusão nas empresas.
- Transparência e Governança: Empresas que aderem a critérios ESG tendem a ter melhor governança corporativa e maior transparência em suas operações.
Desafios
Apesar do crescimento impressionante dos fundos ESG, ainda existem desafios a serem superados:
- Padronização de Critérios: A falta de padronização global nos critérios ESG dificulta a avaliação e comparação de fundos.
- Greenwashing: Algumas empresas podem adotar práticas ESG superficialmente, sem reais mudanças em suas operações (prática conhecida como greenwashing).
- Educação dos Investidores: É crucial educar os investidores sobre a importância e os benefícios dos fundos ESG.
Desmatamento e Perda de Biodiversidade, como ativo econômico
Um dos maiores problemas ambientais na Amazônia é o desmatamento. A expansão da agricultura, pecuária, mineração e infraestrutura, no contexto do Modelo Commodities, tem levado à destruição de vastas áreas de floresta sem qualquer remuneração que melhore a qualidade de vida média da população local e urbana. Além disso, há perda de biodiversidade, principal ativo econômico do bioma, em decorrência da escala de produção, de uma agressiva exclusão socioeconômica, de altas emissões de gases de efeito estufa e a destruição de habitats essenciais para inúmeras espécies afetando setores como a medicina, a agricultura e o turismo entre outras.
Conflitos de Terra
Os conflitos de terra são comuns na Amazônia, envolvendo comunidades originárias(indígenas e quilombolas), pequenos agricultores, grandes proprietários de terras e empresas. A falta de clareza sobre a posse da terra, sua precária titulação e a ausência de um sistema eficaz de governança fundiária agravam essas disputas, resultando em violência e injustiças sociais, bloqueando o desenvolvimento sustentável da região para todos e todas.
Direitos das Comunidades Originárias
As comunidades originárias são guardãs tradicionais da floresta amazônica, mas frequentemente enfrentam ameaças a seus direitos territoriais e culturais. Projetos empresariais que não conhecem a realidade socioambiental da região, principalmente na mineração e construção de barragens, por ignorância, desconsideram os direitos e o papel funcional das comunidades indígenas, levando ao deslocamento forçado e à perda de meios de subsistência, provocando resistências legítimas que aumentam sobremaneira os custos das operações, aumento este muitas vezes jogado para absorção da própria Sociedade.
Principais Desafios da Governança Socioambiental(ESG)
Corrupção e Governança Ineficaz
A corrupção, a ignorância científica e a falta de governança eficaz são barreiras significativas para a implementação de políticas ambientais e sociais na Amazônia que passem a impulsionar uma economia sustentável. A aplicação inadequada das leis ambientais, a impunidade e a falta de transparência no processo de tomada de decisão minam os esforços de conservação e desenvolvimento sustentável.
Falta de Investimento Sustentável
O desenvolvimento econômico na Amazônia muitas vezes prioriza projetos de curto prazo, com impacto ambiental e social negativo. A falta de investimento em práticas sustentáveis e em infraestrutura verde impede o progresso na agenda ESG. Incentivar investimentos responsáveis e promover a economia verde são passos essenciais para enfrentar esses desafios.
Limitações do Modelo de Commodities
A dependência da Amazônia à exportação de commodities, como soja, carne bovina e madeira, apresenta sérias limitações para o desenvolvimento econômico da região. Esse modelo de economia voltada para a exportação de produtos primários, brutos e baratos, tem um impacto significativo no meio ambiente, contribuindo para o desmatamento, a perda de biodiversidade e a degradação do solo. Além disso, a concentração de riqueza e o benefício restrito a poucos setores da sociedade perpetuam a desigualdade social e econômica.
Uma economia baseada em commodities também é vulnerável às flutuações dos preços no mercado internacional, o que torna a Amazônia economicamente instável e dependente das demandas externas, quebrando o empresariado que vive do varejo interno e depende da renda média das famílias sob pressão inflacionária permanentemente. A falta de diversificação econômica impede a região de desenvolver setores de alto valor agregado, como a biotecnologia, a farmacêutica e a pesquisa científica, que poderiam gerar emprego qualificado e promover inovação, aquecendo o mercado interno.
Oportunidades para o Futuro
Para enfrentar os desafios ESG na Amazônia, é crucial adotar uma abordagem integrada e sistêmica que considere as dimensões ambiental, social, econômica e cultural para uma governança sustentável eficaz. Algumas oportunidades incluem:
- Iniciativas de Conservação: Projetos que visam conservar e restaurar áreas degradadas, promovendo a biodiversidade e serviços ecossistêmicos.
- Empoderamento das Comunidades Locais: Fortalecimento dos direitos e capacidades das comunidades indígenas e locais para gerir recursos naturais de forma sustentável.
- Transparência e Governança: Melhoria da transparência e da aplicação das leis ambientais e sociais, combatendo a corrupção e promovendo a governança inclusiva.
- Transição para uma Economia de Alto Valor Agregado: Para superar as limitações do modelo de commodities, é necessário investir em uma economia de alto valor agregado, que valorize os recursos naturais da Amazônia de forma sustentável e inovadora. A sociobioeconomia, por exemplo, é uma alternativa promissora, pois utiliza a biodiversidade local para desenvolver produtos farmacêuticos, cosméticos, alimentos funcionais e outros bioprodutos de alto valor, internalizando riqueza desde a comunidade local, diretamente produtora do valor a ser comercializado, aumentando assim o mercado consumidor. O desenvolvimento de tecnologias e de pesquisas científicas voltadas para a utilização sustentável dos recursos naturais pode transformar a Amazônia em um polo de inovação e conhecimento. A educação e a capacitação profissional são fundamentais para formar uma mão-de-obra qualificada, capaz de atuar nesses novos setores econômicos e contribuir para a transformação da realidade socioeconômica da região.
- Economia Inteligente e Turismo: Nossas sondagens científicas têm recomentado especial atenção ao Turismo como economia de base, como hub econômico. Sua combinação entre intensidade, diversidade e capilaridade a torna merecedora de atenção, estudos e estratégias. Não por acaso, os árabes já projetam substituir a força do petróleo pelo turismo, daí Dubai. Os franceses, ingleses, italianos, asiáticos etc também se desdobram neste setor de força sistêmica, que não impacta apenas sobre si mesmo, mas transborda e beneficia economicamente todos os demais.
Os desafios ESG na Amazônia são complexos e interligados, exigindo uma abordagem colaborativa e sistêmica. É fundamental que governos, empresas, organizações não-governamentais, universidades e comunidades trabalhem juntos para preservar este ecossistema vital, assegurando um futuro sustentável para as gerações presentes e futuras. A Amazônia não é apenas um tesouro natural, mas também um legado cultural e um pilar para a estabilidade socioclimática global.
Comentários