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Prepare-se para uma viagem filosófica e sensorial num futuro distante com questões contemporâneas que uma sessão de cinema pode proporcionar. A ficção científica, um dos gêneros literários mais adaptados para o mundo dos filmes, permite a recriação de sons e imagens em “Duna”, de Dennis Villeneuve, em cartaz no circuito comercial.

Comparativos sobre a tentativa de adaptação psicodélica do artista chileno Alejandro Jodorowsky, o filme do americano David Lynch e a versão de Villeneuve para a obra literária de Frank Herbert, são discussões que já nascem ultrapassadas pela redução argumentativa e omissão das escolhas estéticas dos três realizadores em contextos e oportunidades diferenciadas. Nos anos de 1970, o projeto não realizado de Jodorowski tinha pretensões grandiosas na metragem alongada, trilha sonora que incluía a música de Pink Floyd, a vontade de provocar no espectador sensações de uma viagem de LSD por meio da linguagem cinematográfica e participações de Mick Jagger, David Carradine e Orson Welles. David Lynch optou por uma adaptação que suprimiu muito da obra literária, com encadeamento lento em relação aos filmes de ficção científica realizados na década de 1980, falta de controle no corte final da produção e os cortes inacreditáveis impostos pelo produtor Dino De Laurentis. Hoje, a obra homônima de Frank Herbert também navega pela intertextualidade nos games e novelas gráficas.

Na versão 2021, o desenho de produção e a mise-en-scène são pontos altos do filme, devidamente alinhados com a música eletrônica e tribal de Hans Zimmer para narrar a primeira parte de uma história que se passa numa realidade distópica que reflete a escassez de recursos naturais, a desertificação dos planetas, a cobiça pelas especiarias em lugares periféricos na geopolítica interplanetária e a espera de um messias que não se sabe ao certo se é um predestinado ou mais uma blefe no jogo de traição e poder no deserto de Arrakis.

A parte 1 de “Duna” tem o compromisso didático de situar o espectador na adaptação de uma obra literária volumosa que se utiliza da narrativa épica com apresentação de personagens em constante ameaça, coreografia violenta das cenas de batalhas, fugas e reviravoltas em cenários sombrios para as performances de Timothée Chalamet, Oscar Isaac, Josh Brolin, Rebecca Ferguson, Javier Bardem, Charlotte Rampling e Zendaya.

Para não cair nas armadilhas do didatismo verbal, a montagem privilegia a jornada do herói no inóspito planeta como um rito de passagem, visões premonitórias e sobrevivência na guerra em que tudo se desmancha em areia nas novas terras de saque.

O canadense Dennis Villeneuve é conhecido por realizar filmes instigantes que valem a pena ver e (ou) rever como parte da cinematografia contemporânea. “Redemoinho” (2000) chamou atenção em vários festivais internacionais e circuito alternativo pela fábula surrealista narrada por um peixe que oferece a segunda chance que pode mudar vidas. Depois vieram os ótimos e controversos “Polytechnique” (2009), “Incêndios” (2010) e “O Homem Duplicado” (2013). Há também “Sicario – Terra de Ninguém” (2015), “A Chegada” (2016) e o contemplativo “Blade Runner 2049” (2017).

“Duna”, sob a direção de Dennis Villeneuve, é um daqueles filmes para assistir no telão e som digital da sala de cinema, com os protocolos vigentes. Vá e veja esse filme, um dos melhores lançamentos da temporada 2021.

Foto: Divulgação
José Augusto Pachêco
José Augusto Pachêco é jornalista, crítico de cinema com especialização em Imagem & Sociedade – Estudos sobre Cinema e mestre em Estudos Literários – Cinema e Literatura. Júri do Toró - 1º Festival Audiovisual Universitário de Belém, curadoria do Amazônia Doc e ministrante de palestras e cursos no Sesc Boulevard e Casa das Artes.

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