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Nos idos de 2006 eu li um livro que me marcou muito, pelo caráter jornalístico e ao mesmo tempo humano com que a história foi contada.

Este livro se chama O Livreiro de Cabul, da jornalista norueguesa Åsne Seierstad.

A autora foi correspondente de guerra no Afeganistão durante algum tempo. Em 2002, após a queda do regime talibã, durante alguns meses viveu na casa de Sultan Kan, nome fictício de um livreiro verdadeiro, que inspira o título do livro. A partir desse tempo vivendo sob o mesmo teto surgiu a obra, que fala sobre a condição em que vivem as famílias, e principalmente, as mulheres afegãs.

Sultan Khan é um livreiro na capital do Afeganistão que tem o sonho de reconstruir a livraria destruída pelo regime Talibã. Ainda que seja contrário ao regime, ainda que se ache liberal e moderno e até se vanglorie disso diante da jornalista, é impressionante notar pelo que conta a história, que como chefe de família ele rapidamente se acostumou a tratar as mulheres de sua casa quase como objetos, sem direitos, nem sonhos, muito menos escolhas.

Nós mulheres precisamos estar sempre atentas. Qualquer mudança coloca todos os nossos direitos em risco.

Na semana passada o mundo recebeu com perplexidade e horror a notícia da retomada de Cabul por este grupo terrorista.

Imediatamente imagens chocantes começaram a ser mostradas em todos os canais de TV e redes sociais, pelas quais vimos pessoas se aglomerando desesperadamente em fuga, sendo capazes até mesmo de se pendurar em asas de avião, de onde caíram para a morte na frente de todo o planeta.

Não fosse tudo isso o bastante, especialmente nós mulheres ocidentais fomos tocadas pelo fato de que nessas fugas havia uma maioria absoluta de homens, o que indicava que mulheres e crianças estariam sendo deixadas para trás, largadas à própria sorte e a mercê do novo regime.

Nos sentimos impotentes, tristes, dói em nossas almas pensar em quantas Malalas existirão, quantas serão impedidas de exercer seus direitos mais básicos, quantas lutarão, quantas resistirão, quantas morrerão…

Ainda há quem ache o feminismo um movimento arcaico e desnecessário, quando nunca precisamos tanto dele.

Se hoje nós mulheres ocidentais podemos trabalhar, votar, escolher nossos maridos, disputar cargos públicos, participar de concursos e campeonatos, se hoje podemos nos divorciar, amar livremente e ser quem nascemos para ser, devemos tudo isso ao movimento feminista. Devemos ao sacrifício Não há mulher que não seja feminista mesmo quando ela não se reconheça como tal, mesmo que ela decida ser “recatada e do lar”, porque o feminismo defende todas as mulheres, inclusive essas. Feminismo é a luta das mulheres por direitos IGUAIS. NEM MAIS NEM MENOS QUE ISSO.

Ainda há muito o que fazer, muitos passos para dar em busca dessa igualdade merecida e sonhada, e não se iludam: se não caminharmos cada vez mais para frente, se aceitarmos ataques ao movimento feminista, se tolerarmos qualquer tentativa de opressão, mais cedo ou mais tarde iremos retroceder e ISSO é o que não podemos aceitar.

Vigiemos pois a manutenção de cada um dos direitos que tão arduamente conquistamos e lutemos por mais, muito mais. Incansavelmente.

Mulheres, empoderem-se. Empreendam. Entrem na política. Abracem a magistratura. Precisamos de mais empreendedoras, senadoras, juízas… Precisamos de mais mulheres donas de suas vidas para que uma puxe a outra. Quem está em cima puxa quem está mais embaixo. Só assim seremos livres.

*O artigo acima é de total responsabilidade da autora.

Julia Fontelles
51 anos, empreendedora há mais de 30 anos, proprietária da Le Panier D’Amelie-Cestaria, especializada em cestas de café da manhã e de happy hours. E-mail julia.villasanti@live.com

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