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Apesar do eleitorado brasileiro ser composto em maior parte por mulheres, ainda é uma luta árdua garantir paridade para mulheres na política. Estamos acompanhando em Belém o exemplo do cenário brasileiro: um homem que se elegeu fraudando a cota partidária de representação feminina, já prevista em lei, retirando o direito da bancada de mulheres amazônidas de assumir seu pleito.

No evento necessário realizado ontem na Câmara dos vereadores e vereadoras, organizado pela bancada e pelo mandato de Lívia Duarte, pudemos ver do que se trata realidade para nós, mulheres: a dificuldade de ocupar espaços não ocorre apenas para adentrarmos, mas para continuarmos lá. Sim, é preciso falar de políticas para as mulheres, feitas por mulheres, garantir nossa ocupação em tribunas, propondo e fiscalizando leis. Sim, podemos e devemos ocupar espaços de poder.

Ontem fiquei chocada em saber que no senado somente em 2016 houve abertura de banheiro feminino. A hegemonia masculina que nos expulsa dos lugares públicos aparece em todos os cantos, pondendo também ser observada nas organizações espaciais, tão excludentes, sem banheiros para nós ou lugar para nossas crianças. Para além, estas exclusões acontecem com violências, seja de homens que desrespeitam nossas roupas, cometem assédio moral e sexual publicamente, seja com a tentativa de tirar nosso direito de estar onde estamos, seja nos matando, como aconteceu com Marielle, corpo de mulher negra que tanto fissurava estruturas de poder.

Política não acontece só nas câmaras, mas são nestes espaços que são legitimadas e, por isso, representatividade é imprescindível para que nossas pautas possam ser consideradas. Não há interesse de homens em pensarem em violência doméstica, direitos sexuais e reprodutivos, melhoria de condições de trabalho, maternidade, fim da violência obstétrica e afins.

A política de cotas para mulheres não deve ser um ponto de chegada, sim um ponto de partida! E pra você que diz que não gosta de política, entenda, seu corpo é político, não saber sobre política é político, não eleger mulheres negras é político, não entender a importância de mulheres na política é político.

Ontem foi muito bonito ver a câmara ocupada por tantas mulheres de cores, identidades, credos distintos, tantos coletivos, movimentos sociais e organizações femininas, com crianças pela câmara. É nessa união que fazemos com que nossos direitos não sejam retirados. É de uma política de mulheres que vem a reforma política. E não vamos parar.

Bárbara Sordi
Psicóloga, Psicanalista, Especialista em Psicologia Hospitalar da Saúde, Facilitadora de Círculos de Paz, Professora da Universidade da Amazônia, coordenadora do Projeto “Sobre-viver às violências” e do Grupo de estudos “Relações de gênero, Feminismos e Violências”, Mestre e Doutoranda em Psicologia pela Ufpa e coordenadora/assessora da Vereadora Lívia Duarte. Mãe da Luísa e Caetano, Feminista Terceiro Mundista.

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