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Amanda Julie Ribeiro, de 10 anos, desapareceu no dia 7 de junho de 2022 e foi encontrada morta quatro dias depois, amarrada em volta da cintura e do pescoço, sob o trapiche de um depósito de gás desativado, às margens do rio Anajás, com evidências de tortura e mutilações. As investigações apontaram como motivação do crime uma dívida de drogas do pai da vítima com traficantes locais, integrantes de facção. Ontem, o Tribunal do Júri, reunido no prédio da Câmara Municipal de Anajás, município do arquipélago do Marajó (PA), condenou Jobson da Silva Miranda (“Loro”) a 29 anos e 45 dias de prisão pelo crime. O coautor Josuel dos Santos Gomes (“Durão”) morreu em confronto com a polícia. Já a menor envolvida foi condenada a cumprir medida socioeducativa de prestação de serviços à comunidade, mas o Ministério Público apresentou recurso de apelação e o Tribunal de Justiça do Estado do Pará reformou a sentença, aplicando a medida socioeducativa de internação.

A população local compareceu em peso para assistir ao julgamento, clamando por justiça, como forma de garantir que crimes tão brutais não se repitam. Durante a sessão do Júri, os detalhes hediondos do crime, praticado com requintes de perversidade, provocaram comoção geral. Testemunhas e peritos apresentaram provas de tortura e assassinato por meio cruel. O julgamento começou às 9h e foi concluído de madrugada, com a divulgação da sentença.  

Sequestros, estupros, torturas, desaparecimentos e assassinatos de crianças e adolescentes no Marajó são frequentes ao longo das décadas, mas, após a comoção inicial, caem no esquecimento e na impunidade. As famílias das vítimas, que sobrevivem em condições abaixo da linha da pobreza, só acreditam na providência divina. O modus operandi, de extrema violência, se repete.

Em 16 de março de 2024, Vanessa Maia, 14 anos, cuja família registrou BO de desaparecimento às 22h do dia anterior, foi encontrada sem vida nos fundos de uma casa abandonada, em Melgaço, no Marajó. A adolescente, baixinha e de aparência frágil, estava afundada em um poço, coberta parcialmente por mato, na rua Benevenuto Nogueira, no bairro do Tucumã, e apresentava sinais de enforcamento e violência sexual. O suplício a que a menina foi submetida é aterrorizante. Antes de ser brutalmente assassinada, ela ficou em cativeiro sofrendo tortura, com agressões físicas, psíquicas e sexuais. Foi espancada, estuprada, empalada nas partes íntimas, teve o pescoço torcido até quebrar, depois foi colocada em um saco preto e jogada no poço.

No dia 7 de setembro de 2024, mais um crime monstruoso no arquipélago do Marajó abalou a população do Pará. Por volta das 10h da manhã daquele sábado, moradores locais avistaram nas margens de um igarapé perto da rua Miritizal, no município de Muaná, o corpo de uma bebê dentro de uma sacola plástica, em meio a lama. A criancinha estava em estado de decomposição, com a cabeça separada do tronco e com todos os membros quebrados. Várias pessoas viram a cena terrível, com grande número de urubus sobrevoando o lugar.

Já a pequena Elisa Ladeira Rodrigues, de dois aninhos, sumiu na localidade Igarapé do Zinco, zona rural de Anajás, num sábado, 16 de setembro de 2023. O desaparecimento de Elisa continua um mistério e a investigação cheia de revezes. Renan, o homem que o cão farejador da PMPA identificou com o cheiro da bebê, disse que tinha vendido a menina por R$1 mil reais a Fabiano Ferreira Trindade, que a teria estuprado e matado. A polícia prendeu os dois. Fabiano logo foi solto. Renan fugiu durante a reconstituição do crime e após dias embrenhado na mata se entregou já com advogado, foi transferido para Belém e encontrado morto em circunstâncias até hoje não esclarecidas, logo no retorno ao estabelecimento prisional, depois da audiência de custódia. Fabiano, que estava solto mesmo tendo contra si mandado de prisão preventiva exarado pela Vara Única de Anajás nos autos de um processo de estupro de vulnerável, foi preso novamente. Desde então o silêncio impera sobre o caso.

Os crimes contra as crianças e adolescentes marajoaras continuam impunes. Até quando?

Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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