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Vicente Malheiros da Fonseca – Desembargador do TRT-8

JOSÉ AGOSTINHO DA FONSECA nasceu em Manaus (Amazonas), em 14 de novembro de 1886; e faleceu em Santarém (Pará), em 11 de novembro de 1945.

Com poucos meses de idade, mudou-se para Belém (PA) e, em 1906, para Santarém (PA), onde viveu e constituiu família. Profissionalmente, era alfaiate.

Ele foi o pioneiro daquilo que se convencionou chamar de “música santarena”, herança que transmitiu aos filhos, netos, bisnetos, trinetos etc.

Embora amazonense, por nascimento, a vida musical de José Agostinho da Fonseca foi realmente desenvolvida na cidade de Santarém, Estado do Pará.

Como se deu a mudança de José Agostinho da Fonseca de Belém para Santarém?

Em 1906, José Agostinho viajou com dois amigos para Santarém – onde morava, na época, a sua mãe, na companhia de Anysio Chaves, filho do Desembargador Ernesto Chaves –, depois de concluir o curso de formação profissional, como alfaiate, e de formação artística, como músico, além do curso de educação tradicional, no excelente Instituto de Educandos e Artísfices, em Belém (PA), em cujo educandário obteve o 1º lugar e foi premiado com uma caneta de ouro, até hoje guardada como relíquia pela família.

Desde então, José Agostinho permaneceu e se estabeleceu em Santarém (PA). Nessa cidade, o compositor casou-se, teve filhos, instalou a sua oficina de alfaiate e a sua escola de música, bem como desenvolveu intensa atividade artística, inclusive em orquestras de baile e em peças teatrais.

Logo que chegou a Santarém, José Agostinho conheceu a jovem Ana (Dias da Fonseca), que se tornou sua esposa e o inspirou na criação da música “Idílio do Infinito” (1906), a primeira música escrita em Santarém. O pioneiro da “música santarena” era conhecido como o “músico-poeta” (cf. Felisbelo Sussuarana).

Embora nascido em Manaus (AM), José Agostinho da Fonseca, jamais cogitou de retornar àquela cidade, de onde saiu com apenas 6 meses de idade, pois não tinha qualquer vínculo com a capital amazonense.

Quando já estava morando em Santarém, ele recebeu um convite para exercer o magistério no Instituto de Educandos e Artífices, em Belém (PA), mas o recusou, uma vez que pretendia permanecer na “Pérola do Tapajós”, onde sempre viveu. Todos os seus filhos, já falecidos, se dedicaram à música: Maria Annita (pianista e professora de piano), Wilson – conhecido como maestro Isoca (compositor, pianista e professor de música), Wilmar (músico, escritor e poeta), Adahyl (soprano) e Wilde – conhecido como maestro Dororó (regente e professor de música). Edmundo faleceu ainda recém nascido.

A herança musical de José Agostinho da Fonseca, toda oriunda de Santarém (PA), já se encontra na quinta geração, pois muitos de seus netos, bisnetos e trinetos também se dedicam à arte de Euterpe.

Enfim, a tradição musical da família Fonseca, iniciada por José Agostinho da Fonseca, em Santarém (PA), está preservada e tem produzido bons frutos, ao longo de várias gerações.

Excelente biografia sobre ele escreveu meu tio Wilmar Fonseca, no livro adiante mencionado.

Observe­-se esta abalizada opinião sobre José Agostinho da Fonseca, na imprensa da capital paraense:

“… se houvesse vivido nas capitais, seria um nome nacional”, disse Paulo Eleutério, Sênior (Jornal “A Província do Pará”, edição de 05.11.1948, apud Wilmar Fonseca, no livro “José Agostinho da Fonseca – O Músico Poeta”, Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, p. 42 e 53).

A respeito de sua obra musical manifestou­-se a autoridade do compositor Guerra-Peixe:

“… observa­-se que sua linha melódica, mesmo quando limitada ao estilo que era habitual ouvir e escrever, assinala bastante inquietação, como quem tentasse voar mais alto, porém sem perder de vista os fins a que se propunha. Sua linha melódica registra saltos constantes, flutuações que só modernamente vem sendo experimentadas. E isso a gente pode concluir da leitura que, momentaneamente, parece abalar os padrões já aceitos. Foi muito criativo neste sentido” (Wilde Dias Fonseca, em “Santarém: Momentos Históricos”, 4ª edição, Santarém: Gráfica e Editora Tiagão, 1996, p. 153).

Wilson Fonseca transcreve as oportunas palavras do Maestro Francisco Mignone sobre a obra musical de José Agostinho da Fonseca:

Francisco Mignone, conceituado compositor brasileiro, na sua apreciação (4-­4-­1981), escreve:

“Não há dúvida que há muito ‘Brasil bem brasileiro’ nas composições de José Agostinho da Fonseca e, sobretudo, uma antecipação de nacionalismo brasileiro que deu à nossa arte de Euterpe características que mais adiante serviriam a compositores de fama e de integral e completo espírito de nacionalidade” (Meu Baú Mocorongo, vol. 3, p. 677).

(Transcrito do Capítulo “José Agostinho da Fonseca – O Pai”, do livro “A Vida e a Obra de Wilson Fonseca – Maestro Isoca”, de minha autoria, em homenagem ao centenário de nascimento de meu saudoso pai, impresso na Gráfica do Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2012).

José Agostinho da Fonseca estudou no “Instituto de Educandos Artífices” (depois, “Instituto Lauro Sodré”, no prédio onde hoje está sediado o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, na Av. Almirante Barroso, nº 3089), na capital paraense. Tocava clarinete, saxofone, piano e contrabaixo.

Ele estudou também com o Maestro Paulino Chaves, seu “irmão de leite” (que estudou música na Alemanha), inclusive instrumentos de cordas. Criou e dirigiu orquestras em Santarém.

Conheceu pessoalmente Carlos Gomes, falecido em Belém, e tocou clarineta, ainda jovem, nas exéquias do grande maestro brasileiro.

Também manteve contato pessoal com Villa-Lobos, em Santarém, quando o renomado músico brasileiro viajou pela Amazônia e esteve em sua casa.

Obteve 3º lugar em concurso nacional de música, promovido pela revista carioca “O Malho”, com o maxixe “Jeca Tatu”, publicado na edição de 31.01.1920 (nº 907).

O remanescente de sua Obra Musical foi publicado em 1981 (valsas, schottischs, quadrilhas, tangos, dobrados, maxixes, sambas, canções, hinos, marchas, sacras. peças para teatro etc).

Destaco o importante trabalho de pesquisa realizada pelo professor e violinista Celson Henrique Sousa Gomes, em sua Tese doCurso de Doutorado em Música, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre), com ênfase em Educação Musical, particularmente a investigação sobre as atividades da família Fonseca (“Educação Musical na Família: As Lógicas do Invisível”), sob orientação da Profª. Drª. Jusamara Vieira Souza, sendo membros da banca Profª. Drª. Maria da Graça Jacintho Setton (USP); Profª. Drª. Ana Lúcia Marques de Louro (UFSM); e Profª. Drª. Maria Elizabeth Lucas (UFRGS). Defesa da tese: 27.03.2009. 

Na Amazônia, havia, na primeira metade do século XX, três teatros célebres: o Theatro da Paz, em Belém; o Theatro Amazonas, em Manaus; e o Theatro Victória, em Santarém, no interior do Pará, onde foram encenadas peças compostas por José Agostinho da Fonseca e Wilson Fonseca, inclusive sob a direção e participação de artistas e músicos residentes naquela cidade.

José Agostinho da Fonseca atuou no Theatro Victória, de Santarém, como compositor, maestro e ator.

Em Santarém, existe um logradouro público com o nome dele, em sua homenagem, a Travessa “Professor José Agostinho” (Lei Municipal nº 673, 23.07.1953); bem como a Filarmônica Municipal “Prof. José Agostinho”, que nasceu com o nome de Banda “Prof. José Agostinho” (Leis Municipais nºs. 11.991/1986 e 14.256/1992), fundada pelos irmãos Wilson Fonseca e Wilde Fonseca, onde toquei na juventude.

A Filarmônica pode ser considerada “um patrimônio cultural da Pérola do Tapajós”, juntamente com a Orquestra Sinfônica “Maestro Wilson Fonseca”, dirigida por meu irmão Maestro José Agostinho da Fonseca, em Santarém.

José Agostinho da Fonseca foi compositor evoluído.

Não parou nem no tempo nem no espaço.

Na era das valsas escreveu valsas; no tempo do schottisch escreveu schottisch. Se a sociedade exigia quadrilha ele compunha quadrilha; se desejava um one-step diferente ele tinha um one-step caboclo. Escreveu maxixes quando a irreverente dança era malquista pela alta roda e estava sob ameaça de “excomunhão”, dizia-se. Ainda assim, aventurou e recebeu destaque nacional com JECA TATU.

Quando o samba urbano estava em gestação, buscando a sua definição, ele também contribuiu para que isto ocorresse, escrevendo tangos brasileiros e tangos carnavalescos.

E ao despontar sobranceiro, com Sinhô à frente, escreveu “Trepações”.

Depois, aderindo ao novo ritmo sincopado, criou “A Defesa é Federá”, para fazer sucesso, inclusive em Belém, nos idos de 1925.

Se os libretistas desejavam música para o teatro de revista local, eles tinham músicas com temas e ritmos regionais.

E participando, como compositor, ensaiador da orquestra e cantores e ainda figurando como ator da peça ‘EU VOU TELEGRAFAR’, de Felisbelo Sussuarana, fez pregão e cantou os maxixes “Almofadinha” e “Zezinho Fontainha” de sua autoria. Seja dito de passagem que dessa revista há, além destes, mais dois maxixes que entusiasma a quem os ouve.

(Wilmar Dias da Fonseca, no livro “José Agostinho da Fonseca: O Músico-Poeta”, Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, Belém/Santarém-PA, p. 117).

José Agostinho da Fonseca escreveu pelo menos três músicas em homenagem a Santarém e ao rio Tapajós: as valsas “Santarém Moderna” (1912/1914) e “Tapajônia” (1917, com letra de Felisbelo Sussuarana) e o tango-brasileiro “Tapajoara” (1920).

A partitura da valsa “Tapajônia”, uma das preferidas do tenor Joaquim Toscano (1888-1956), pai do tenor Expedito Toscano (1926-1970), foi publicada no Álbum do Centenário de Santarém (1948).

A música está publicada no livro “Obra Musical de José Agostinho da Fonseca (remanescente)”, editada em 1981, sob os auspícios dos filhos do compositor, pela Imprensa Oficial do Estado do Pará, p. 90.

Enquanto Ernesto Nazareth (1863-1934) escrevia os seus famosos tangos-brasileiros, no Rio de Janeiro – antiga capital da República –, meu avô José Agostinho da Fonseca (1986-1945) compunha, em Santarém (PA), seus tangos-brasileiros, maxixes, sambas e valsas, contemporâneo que foi também de Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Sinhô (1988-1930), Donga (1890-1974), Pixinguinha (1897-1973) e tantos outros grandes compositores brasileiros, embora residente na longínqua Amazônia brasileira, na Pérola do Tapajós.

Tomo a liberdade de transcrever trechos dos textos que escrevi sobre algumas composições musicais de José Agostinho da Fonseca, nos encartes dos CDs “Sinfonia Amazônica” (volumes 1 e 2), gravados pela Orquestra Jovem “Wilson Fonseca”, sob a regência de José Agostinho da Fonseca Neto (Maestro Tinho), meu irmão:

Elogios ao Abacate – maxixe, de José Agostinho da Fonseca, de 1925, peça da Revista Teatral “Eu Vou Telegrafar”, com libreto de Felisbelo Sussuarana (Mundico Malagueta), encenada na reinauguração do Teatro Vitória, sob a direção de Joaquim Toscano de Vasconcelos, todos residentes em Santarém (PA), inclusive os atores.

Maxixe, de José Agostinho da Fonseca, de 1925, peça da Revista Teatral “Eu Vou Telegrafar”, com libreto de Felisbelo Sussuarana (Mundico Malagueta), encenada na reinauguração do Teatro Vitória, sob a direção de Joaquim Toscano de Vasconcelos, todos residentes em Santarém (PA), inclusive os atores. O arranjo, neste disco, é de Wilson Fonseca. Conta Wilmar Fonseca, no livro “José Agostinho da Fonseca – O Músico Poeta”, Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, p. 180, que essa fruta “combate eficazmente o envelhecimento precoce, eleva a capacidade orgânica, dá impulso vitalizante e enche de ilusão os ingênuos ‘precários’. E o abacate surge com esse ‘poder miraculoso’, fazendo concorrência à marapuama e à catuaba usadas com a mesma finalidade, desde os tempos dos pajés tapuiuçus. E o Manjor, apologista da fruta, que participara da cena anterior, faz, convicto, Elogios ao Abacate: ‘Não há fruta em parte alguma/Digo em suma/Que me faça desprezar/O abacate saboroso/Primoso/Que me faz ‘té remoçar…’”. E por aí vai o renitente maxixe, do saudoso ZéAgostinho, cujos compassos iniciais foram inspirados na admirável melodia do dueto (Rodolfo e Marcello) que inaugura o 4º Ato da ópera “La Bohème”, de Puccini: “O Mimi, tu più non torni”, de que tanto gostava o excelente tenor Joaquim Toscano. Elogios à parte, não há quem não possa gostar desse maxixe agostiniano.

Puçanga – composição de José Agostinho da Fonseca, no gênero batuque, peça da Revista Teatral “Olho-de-Boto”, de Felisbelo Sussuarana (1936), encenada no Teatro Vitória, em Santarém (PA).

Zezinho Fontainha – outro maxixe, de José Agostinho da Fonseca, peça da Revista Teatral “Eu Vou Telegrafar”, escrito por Felisbelo Sussuarana, em 1925.

Chuane – maxixe (1923), de José Agostinho da Fonseca (1886-1945), com arranjo de Wilson Fonseca (1963).

Teatro Vitória – maxixe, de José Agostinho da Fonseca (1925), integrante da revista teatral “Eu Vou Telegrafar”, de Felisbelo Jaguar Sussuarana (1891-1942), encenada na reinauguração do Teatro Vitória, sob a direção de Joaquim Toscano de Vasconcelos, todos residentes em Santarém (PA), inclusive os atores. O arranjo é de Wilson Fonseca (1993).

Pratos Regionais – samba (1936), de Wilson Fonseca e José Agostinho da Fonseca, para a revista teatral “Olho-de-Boto”, de Felisbelo Jaguar Sussuarana (Mundico Malagueta), encenada no Teatro Vitória, de Santarém, em 19 de julho de 1936.

Elogios à Mulata – outro samba (1936), de Wilson Fonseca, escrito também para a revista teatral “Olho-de-Boto”, de Felisbelo Jaguar Sussuarana, encenada no Teatro Vitória, de Santarém. O arrojado e moderno arranjo (2002) é de Agostinho Júnior, neto do compositor, integrante da orquestra, no oboé e no piano, em sintonia com o estilo inconfundível de Isoca.

Conforme está ali registrado, “devo confessar que o texto que consta do encarte do 1º volume da série, lançado em junho passado [2002], resulta de preciosas conversas que tive com meu pai. Deus permitiu que ele chegasse a ouvir as músicas gravadas naquele CD histórico. Agora, na eternidade, sua memória continua viva, neste 2º volume. Esta mensagem foi escrita com o coração, mas também com a mão de meu pai sobre meus ombros, como o amigo de todas as horas. É gesto que não pesa. Ao contrário, enleva. Afinal, a preservação de sua magnífica obra constitui uma missão de vida (cf. artigo que escrevi na Revista ‘Brasiliana’ no 11, maio/2002, p. 10-15, da Academia Brasileira de Música, sob o título ‘Tributo ao Maestro Wilson Fonseca’)”.

(Trechos transcritos do livro “A Vida e a Obra de Wilson Fonseca – Maestro Isoca”, de minha autoria, em homenagem ao centenário de nascimento de meu pai, impresso na Gráfica do Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2012).

O 3º CD da Coleção “Choro Carioca – Música do Brasil” (Caixa com 9 CDs individuais e um libreto), produzido por Maurício Carrilho e Luciana Rabello, lançado em setembro de 2006, pela gravadora Biscoito Fino (Acari Records, AR – 21), com patrocínio da Petrobrás, registra algumas músicas de autoria de meu avô patrono José Agostinho da Fonseca: “MUTAMBA” (tango brasileiro – 1912/1914); “VILA PARAÍSO” (schottisch – 1912/1914); “TAPAJOARA” (tango brasileiro – 1920); e “IDÍLIO DO INFINITO” (schottisch – 1906), a primeira composição de José Agostinho da Fonseca. considerada a primeira obra musical, escrita em pentagrama, elaborada em Santarém (PA).

.A magnífica contribuição de José Agostinho da Fonseca para a história e a cultura musical de Santarém, do Pará e do Brasil, é incontestável, embora precise ser melhor divulgada.

Vejamos a opinião crítica de Luís Roberto Trench, Presidente das Academias de Música do Brasil, de Musicologia do Brasil e de Música do Rio de Janeiro:

MAESTRO JOSÉ AGOSTINHO DA FONSECA – CHANCELER MAGNO IN MEMORIAM DA ACADEMIA DE MUSICOLOGIA DO BRASIL

Nascido no Amazonas (1886-1945) e radicado em Santarém, Estado do Pará, José Agostinho da Fonseca é uma destas Personalidades instigantes e ainda insuficientemente conhecidas de nossa Música Erudita e Semi-Erudita.

Este grande Compositor brasileiro, contemporâneo de Villa-Lobos (que pessoalmente o visitou, em Santarém, em seu tour de juventude pela Região Norte do País) e de Ernesto Nazareth, bem merece, em minha opinião o epíteto de “Ernesto Nazareth do Pará”.

Talento, verve e personalidade, nunca lhe faltaram. Sua relativamente curta existência terrena foi preenchida com uma grande atividade musical criadora, executora e arregimentadora.

Suas composições, multivariegadas nos meios, obedeciam basicamente a uma grande influência da Música Popular Urbana brasileira da época, mas também à uma forte influência da Cultura e do Folclore Santarenos.

A cidade de Santarém é um mundo à parte, mesmo no Estado do Pará. À localização geográfica privilegiada (assiste de camarote, ao fenômeno hidrográfico do “Encontro das Águas” – Rios Tapajós e Amazonas), corresponde uma riqueza folclórica local parcialmente inaudita ao resto do país e que se diferencia bastante da Cultura da Capital, Belém.

Neste tão especial mundo santareno, foi que o amazonense José Agostinho da Fonseca se aclimatou, se firmou e constituiu grande família, sendo o Patriarca de diversas gerações de Músicos da Família Fonseca.

Sua significação para a Música Erudita e Semi-Erudita Brasileira é especial e única.

Vivendo em uma época em que floresciam talentos geniais no gênero da Música Erudita Ligeira, como Ernesto Nazareth – o maior de todos, na então capital do Brasil, Rio de Janeiro, Mysael Domingues em Pernambuco, Chiquinha Gonzaga no Rio de Janeiro, Eduardo Souto e Zequinha de Abreu em São Paulo, José Agostinho da Fonseca teve uma marcante contribuição no referido setor, justamente pela Personalidade com que lavrava suas partituras, com diversas influências, sem dúvida, desde a Música dos grandes centros estrangeiros, até discretas tintas nazarethianas, como e principalmente o folclore santareno, do qual foi um primeiro grande bardo na Música.

Mas em um setor, que poderíamos classificar de erudito, nos deixou o mestre, riquíssima contribuição com uma Música de Câmara urdida para as mais diversas formações: Trios, Quintetos, Quartetos, muita Música para Piano e Canções. Sem esquecer algumas obras orquestrais.

Também na Música para Bandas e Bandas Sinfônicas nos deixou este Patriarca da Música Santarena, uma variegada e importante produção.

José Agostinho da Fonseca, em sua infância, conheceu pessoalmente Carlos Gomes, o genial Compositor de Ópera brasileiro, que conheceu a glória na Itália, tendo sido reconhecido por Verdi e por Wagner. Já muito enfermo e ao recusar o formal convite do Conservatório Benedetto Marcello de Veneza para ser Diretor da Instituição itálica, Carlos Gomes preferira aceitar o convite formal do então Governador do Pará, Lauro Sodré, que construíra, especialmente para Gomes, o Conservatório de Belém, para ser seu Diretor. Pôde José Agostinho da Fonseca ter 2 contactos com Carlos Gomes: um em vida, quando menino, ao se deparar com o grande brasileiro em reunião com autoridades paraenses, e depois, em suas exéquias fúnebres, ao tocar clarinete junto a outros Músicos, na mais grandiosa e imponente solenidade fúnebre já vista na História Paraense.

Esta Personalidade tão especial de nossa Música, acaba de ser por mim indicada para receber, In Memoriam, o título de CHANCELER MAGNO da ACADEMIA DE MUSICOLOGIA DO BRASIL. Sua cátedra In Memoriam, terá como Patrono, o Diplomata e Compositor brasileiro BRASÍLIO ITIBERÊ DA CUNHA, precursor do Nacionalismo em nossa Música Clássica, com a Rapsódia “A Sertaneja” – tocada por Franz Liszt.

LUIS ROBERTO VON STECHER TRENCH

Chanceler de Honra do Brasil

Crítico, Ensaísta e Musicólogo

Presidente da Academia de Musicologia do Brasil

https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=316204410004179&id=100048438668670&sfnsn=wiwspmo

O excelente ensaio produzido pelo Confrade Luís Roberto Trench e publicado no Facebook, ao ensejo da outorga do título de Chanceler Magno “in memoriam“, da Academia de Musicologia do Brasil, para José Agostinho da Fonseca, merece encômios, dada a sua importância musicológica e a adequada contextualização do “músico-poeta” no âmbito da História da Música Brasileira, realmente uma personalidade instigante e ainda insuficientemente conhecida de nossa música erudita e semi-erudita, conforme destaca o ilustre Presidente daquela entidade acadêmica.

Agradeço ao Confrade Luis Roberto Von Stecher Trench II pela indicação do nome de meu avô paterno para Chanceler Magno “in memoriam” da Academia de Musicologia do Brasil, o que constitui grande honra para a nossa família.

Embora tenha desenvolvido a sua arte musical no interior da Amazônia, José Agostinho da Fonseca foi, realmente, um compositor evoluído, que se destacou em suas múltiplas atividades artísticas e deixou um legado extraordinário ao longo de várias gerações.

Meu pai escreveu inúmeros arranjos para músicas de meu avô paterno, durante a vida toda, mesmo depois do falecimento de José Agostinho da Fonseca, em 1945.

Eu elaborei e continuo a elaborar vários arranjos para músicas de meu avô José Agostinho da Fonseca e de Wilson Fonseca, como também escrevi letras para composições de meu pai.

Em junho de 2020, criei um texto poético e um arranjo para Trio de Flauta, Violoncelo e Piano, para a bela valsa “Betina“, que meu avô paterno, José Agostinho da Fonseca, compôs em 1922.

Tenho a honra de ser parceiro musical de meu avô José Agostinho da Fonseca e de meu pai Wilson Fonseca, ambos Patronos de academias cuturais de âmbito regional e nacional.

Concluo com uma das obras musicais de meu avô paterno:

JECA TATU

(Maxixe)

Música: José Agostinho da Fonseca (Santarém-PA, 1919).

Arranjo para Banda: Wilson Fonseca (filho do compositor).

A música obteve 3º lugar em concurso nacional de música, promovido pelo Suplemento Musical da Revista “O Malho”, do Rio de Janeiro, em 1919, que publicou a partitura musical em sua edição nº 907, de 31.01.1920.

A obra musical foi dedicada ao “Biri” (Wilmar Fonseca, filho do compositor e meu tio).

O maxixe “Jeca Tatu” foi gravado em 1983 pelos Músicos da Escola de Música de Brasília (DF), sob a regência de Luiz Gonzaga Carneiro (Gonzaguinha), no LP intitulado “Banda de Música de Ontem e de Sempre” (1), Funarte/FENAB/FBB, LP –107, Disco 2, Lado B, faixa 4.

O arranjo para Banda foi escrito por meu pai, Wilson Fonseca (Maestro Isoca).

Em 1992, a música também gravada, no LP “Nos Originais” (volume 3 – Wilson Fonseca), editado pela Universidade Federal do Pará, na versão para piano solo, na interpretação da Profª. Helena Gomes Maia.

Em dezembro de 2007, eu escrevi diversos arranjos para músicas de seu avô José Agostinho da Fonseca, destinados ao Violão solo, inclusive o maxixe “Jeca Tatu”.

Ouça a música “Jeca Tatu” (Banda):https://soundcloud.com/vicente…/jeca-tatu-jos-agostinho-da

Vicente Malheiros da Fonseca
Vicente José Malheiros da Fonseca é Desembargador do Trabalho de carreira (Aposentado), ex-Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (Belém-PA). Professor Emérito da Universidade da Amazônia (UNAMA). Compositor. Membro da Associação dos Magistrados Brasileiros, da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 8ª Região, da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, da Academia Paraense de Música, da Academia de Letras e Artes de Santarém, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, da Academia Luminescência Brasileira, da Academia de Música do Brasil, da Academia de Musicologia do Brasil, da Academia de Música do Rio de Janeiro, da Academia de Artes do Brasil, da Academia de Música de Campinas (SP), da Academia de Música de Santos (SP), da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Letras, da Academia Brasileira de Ciências e Letras (Câmara Brasileira de Cultura), da Academia Brasileira Rotária de Letras (ABROL) - Seção do Oeste do Pará, da Academia de Música de São José dos Campos (SP), da Academia de Música de São Paulo. Membro Honorário do Instituto dos Advogados do Pará. Sócio Benemérito da Academia Vigiense de Letras (Vigia de Nazaré-PA).

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