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Quando se pergunta a razão pela qual a cidade de Santarém é conhecida como a Pérola do Tapajós é quase inevitável que a resposta esteja no lindo poema de Felisbelo Sussuarana, musicado por Wilson Fonseca, em parceria com Pedro Santos, no ano de 1935, adiante transcrito.

Felisbelo Jaguar Sussuarana nasceu em Santarém (PA), em 28 de abril de 1891. Filho de Alexandre Alves da Silveira Sussuarana e Filomena Nóvoa Sussuarana. Faleceu em sua terra natal em 10 de outubro de 1942.

Em 28 de abril de 2023 a Escola fez 42 anos de fundação, data comemorativa ao aniversário natalício do Patrono do educandário, quando foi apresentado, em primeira audição pública mundial, em sua nova versão, e oficializado pela Resolução nº 001/2023, o “Hino da Escola Felisbelo Jaguar Sussuarana”, que tem letra do próprio Felisbelo (1915), complementada por Emir Bemerguy (1981) e Vicente Malheiros da Fonseca (2023), com música de Wilson Fonseca (1943-1946), e arranjo orquestral por mim elaborado, com interpretação pelo cantor Júlio César Antunes, acompanhado pela Filarmônica Municipal “Professor José Agostinho”, sob a regência do Maestro Rafael Brito. Na ocasião a Sala dos Professores da Escola foi batizada com o nome de Renato Sussuarana, filho de Felisbelo, presente na ocasião. Fui representado, no evento, por meu irmão José Agostinho da Fonseca Neto (Maestro Tinho).

Veja o vídeo do Hino:

Felisbelo teve onze filhos em dois matrimônios. Do casamento com Raimunda Miranda Sussuarana: José Maria, Edmir, Maria Madalena, Wladimir e Joana D’Arc. Viúvo, contraiu núpcias com Antônia Ceci Carvalho Sussuarana, de cujo casal nasceram os filhos Claudionor, Felisberto, Miriam, Renato, Jairo e Emanoel. Felisberto (falecido) e Renato dedicaram-se à literatura e à poesia. Ambos também são meus parceiros musicais, como letristas.

Em 1980, o Governo do Estado do Pará prestou justo tributo à sua memória, criando, em Santarém, a Escola Estadual de Ensino Médio e Fundamental “Felisbelo Jaguar Sussuarana”.

Em Santarém existe a Travessa “Felisbelo Sussuarana”.

Estudou em sua terra natal e em Belém (PA).

Com esforço e dedicação, tornou-se praticamente autodidata, tendo sido gramático e literato de grandes méritos.

Professor, escritor, filólogo, poeta, jornalista, cronista, teatrólogo, sua produção literária é vasta e brilhante, deixando ampla obra dispersa em jornais e revistas, embora tenha sido carente de recursos materiais.

Escreveu peças teatrais, como “O divino martírio”, “A República das saias”, “Seu Libório”, “Eu Vou Telegrafar”, “Olho de Boto” e outras.

A Revista Teatral “Eu Vou Telegrafar”, com libreto de Felisbelo Sussuarana (Mundico Malagueta) e músicas de José Agostinho da Fonseca, foi encenada na reinauguração do Theatro Victória, sob a direção de Joaquim Toscano de Vasconcelos, todos residentes em Santarém (PA), inclusive os atores.

Felisbelo Sussuarana é autor da letra do “Hino do Centro Recreativo“, de Santarém, com música de Wilson Fonseca (1936), editado em 1959 pela gráfica Irmãos Vitale, de São Paulo (SP).

Wilson Fonseca (Maestro Isoca) compôs o Dobrado nº 1 – “Felisbelo Sussuarana” (1946), em homenagem ao ilustre parceiro e inspirado poeta santareno. Essa música foi aproveitada para o Hino da Escola que leva o seu nome, em Santarém.

Tenho a honra de ser Titular de duas Cátedras na Academia de Artes do Brasil, uma delas na qualidade de “Imortal da Poesia no Brasil” (Cadeira nº 27), que tem como Patrono, por minha indicação, Felisbelo Jaguar Sussuarana, o qual atribuiu a meu avô paterno o cognome de “Músico-Poeta”, tal era a amizade entre ambos.

Felisbelo Sussuarana também é Patrono da Cadeira nº 10 da nossa Academia de Letras e Artes de Santarém (A.L.A.S.), cujo atual Titular é o Escritor e Professor Jackson Fernando R. Matos.

Felisbelo Sussuarana, que não cheguei a conhecer pessoalmente (mas dele sempre tive ótimas referências, por intermédio de meu saudoso pai, pela permanente leitura de sua rica produção literária, pelo extraordinário livro biográfico escrito por seu filho Felisberto e por conversas com seus familiares), foi parceiro musical de três gerações de nossa família (José Agostinho da Fonseca, meu avô paterno; Wilson Fonseca, meu genitor; e eu).

Os notáveis poetas Felisberto Sussuarana e Renato Sussuarana, filhos de Felisbelo, também são meus ilustres parceiros musicais.

De autoria de Felisbelo são as revistas teatrais Eu Vou Telegrafar (1925) e Olho de Boto (1936), cujas peças musicais – muitas delas compostas por José Agostinho da Fonseca e Wilson Fonseca – até hoje são executadas, inclusive nos CDs “Sinfonia Amazônica” (vol. 1 e 2) gravados, em 2002, pela Orquestra Jovem e Coral Wilson Fonseca, sob a batuta do Maestro José Agostinho da Fonseca Neto, marcos na histórica da música de Santarém.

O cognome de Santarém, como Pérola do Tapajós, não se justifica somente por algum sentido figurado, poético ou musical, mas porque a terra querida desfruta realmente de uma privilegiada situação sócio-histórico-cultural, dada sua vocação natural de ‘pérola encantada do altivo Tapajós’, um patrimônio de valor inestimável.

Quem desejar conhecer melhor a “Pérola do Tapajós”, vale a pena ler o que escreveu o Maestro Wilson Fonseca na coletânea Meu Baú Mocorongo: “Já se disse alhures que povo sem tradição é povo sem alma. E o santarenense tem alma porque desde os seus primórdios procurou fazer tradição. E a cada um de nós cabe conservá-la em todas as suas manifestações, para grandeza de nosso povo no suceder dos séculos”.

Antes da “Pérola do Tapajós” (1935), do Maestro Isoca e seus parceiros, seu pai José Agostinho da Fonseca já havia composto a valsa “Tapajônia” (1917), com letra do mesmo Felisbelo Sussuarana. Felisbelo também é meu parceiro letrista na marcha-rancho “Rio Símbolo”, cujo texto poético é da década de 30 do século XX e a música, de 1978, mais uma homenagem ao “mais belo rio do mundo”.

Deve ser registrado, com bastante ênfase, que Wilson Fonseca, em parceria com Pedro Santos (música) e Felisbelo Sussuarana (letra), compôs em 1935 (portanto, antes de “Aquarela do Brasil“, de Ary Barroso, criada em 1939), a “Pérola do Tapajós” (valsa), que constitui música de expressa exaltação à terra querida (Santarém-Pará).

E mais: o meu avô paterno, José Agostinho da Fonseca (1886-1945), compôs, no longínquo ano de 1917, a belíssima “Tapajônia” (valsa, com letra de Felisbelo Sussuarana), uma admirável peça de louvor à cidade de Santarém.

Filho e neto de compositores, eu venho me dedicando, desde a década 70 do século passado, à composição de uma série de criações musicais, que intitulei de “Valsas Santarenas” (atualmente, 140). E confesso que a fonte de inspiração são justamente essas duas valsas, de meu pai (“Pérola do Tapajós“) e de meu avô (“Tapajônia“).

A valsa “Tapajônia” era extraordinariamente interpretada pelo talentoso tenor santareno Joaquim Toscano, cujo timbre vocal lembrava famoso Enrico Caruso. E a “Pérola do Tapajós” era umas das peças do repertório do notável tenor santareno Expedito Toscano, filho de Joaquim.

Em 1973 a “Pérola do Tapajós” foi incluída no Long Play “Santarém do Meu Coração“, gravação ao vivo, com registro de momentos da histórica “Semana de Santarém“, realizada em outubro de 1972, no Theatro da Paz, em Belém (PA), idealizada pelo Maestro Waldemar Henrique (Diretor do Theatro da Paz), sob o patrocínio do Governo do Estado do Pará (Dr. Fernando Guilhon), Fundação Cultural do Estado do Pará e Universidade Federal do Pará. Coordenação da Equipe de Gravação: José Agostinho da Fonseca Neto. Lançamento do disco: Sociedade Musical de Santarém. Supervisão: Vicente Salles (musicólogo paraense, que foi membro da Academia Brasileira de Música). Intérprete: Conjunto Serenata (Flauta: Pedro Santos; Sax-Alto: José Wilson Fonseca; Piano digital: Vicente Fonseca; Piano acústico: Wilson Fonseca; Contrabaixo: José Agostinho da Fonseca Neto. Esse mesmo Conjunto Musical executou, na ocasião, a valsa “Rachelina” (José Agostinho da Fonseca).

A cantora Andréa Pinheiro deixou registrada a sua interpretação da “Pérola do Tapajós” no CDEncontro com Maestro Isoca“, acompanhada pelo magnífico Sebastião Tapajós (Violão) e, ainda, José Wilson Malheiros da Fonseca (Saxofone-Alto), José Agostinho da Fonseca Neto (Piano digital) e Vicente José Malheiros da Fonseca (Piano acústico), filhos de Isoca,na última homenagem prestada, em vida, ao compositor santareno, em janeiro de 2002, em Belém, no Art Doce Hall (Sala Augusto Meira), evento idealizado pela Profª. Glória Caputo, sob o patrocínio do Banco da Amazônia, organizado por mim, com participação do Maestro Wilson Fonseca, vários músicos brasileiros e estrangeiros e familiares do homenageado, dois meses antes de seu falecimento. O CD foi lançado na 2ª Bienal Internacional de Música de Belém, em 22 de setembro de 2002, pela Prefeitura Municipal de Belém (Administração: Edmilson Rodrigues), no Palco da Aldeia Cabana de Cultura Amazônica “David Miguel”. 

Ouça a música:

A linda valsa “Pérola do Tapajós” foi gravada no CDMade in Pará II“, lançado em julho de 2003, no Theatro da Paz, em Belém, em evento patrocinado pela empresa Albrás (Alumínio Brasileiro S/A) e promovido pela cantora e compositora santarena María Lídia Mendonça. Intérpretes: Paulo Ivan Campos (Canto) – cantor santareno, Ziza Padilha (Violão), Kzam Gama (Contrabaixo), Arlindo Dadadá (Percussão) e Tynnôko Costa (Teclados e Arranjo). Essa excelente gravação (2003), da valsa “Pérola do Tapajós” (1935) constitui, sem dúvida, um necessário resgate de uma composição importante na história da música da Amazônia.

Ouça a música:

A “Pérola do Tapajós” ainda teve outras gravações, tais como: em 2001, pelo cantor santareno Antônio Waughan; em 2007, por Eduardo Lima (Sax-Soprano), com acompanhamento de Paulo José Campos de Melo, ao Piano (CD “Sopros da Amazônia”); e em 2008, pelo violonista Sebastião Tapajós, no CD “Cordas do Tapajós”, com participação de Moacir Santos, Djalma Pereira (“Cavaco”) e Fagner Viana – Derek (violões).

Resta aguardar pela redescoberta da bela valsa “Tapajônia” (1917), de José Agostinho da Fonseca e Felisbelo Sussuarana.

No capítulo sobre a Discografia de Wilson Fonseca, que há muito venho organizando, constam referências de várias gravações da valsa “Pérola do Tapajós”.

Há pelo menos duas importantes gravações da valsa “Pérola Tapajós” que não figuram em discos:

1995 – Gravação particular de meu acervo, com interpretação do próprio compositor Wilson Fonseca, ao piano. Portanto, é um registro histórico dos mais importantes. Trata-se de gravação ao vivo, em agosto de 1995, durante os ensaios do recital realizado homenagem de Wilson Fonseca, denominado “Hino a Santarém“, no Teatro “Margarida Schivasappa” (Centur), em Belém, sob os auspícios do Governo do Estado do Pará, em comemoração ao transcurso do 75º aniversário de vida musical do Maestro santareno, com a participação de diversos cantores e instrumentistas nacionais e estrangeiros, como também de seus familiares. O evento foi gravado e o seu registro consta, em parte, no CD Wilson Fonseca, da série “Projeto Uirapuru – O Canto da Amazônia” (volume I), lançado em 1996, pela Secretaria Estadual de Cultura (SECULT). Ocorre que algumas músicas não foram incluídas no CD, como é o caso dessa notável valsa “Pérola do Tapajós”. A gravação, inédita, é de Otto Drechsler (Rio Digital Arts Ltda., Rio de Janeiro). É uma das músicas mais tradicionais do cancioneiro santareno.

Ouça a música:

2004 – Gravação particular de meu acervo. Intérpretes: Francisco Campos (canto) e Vicente Fonseca (piano digital).

Ouça a música:

No Youtube existem disponíveis alguns vídeos da “Pérola do Tapajós“, tendo por intérpretes: Kaila Moura (Canto), Edmárcio Paixão (Guitarra), Júnior Castro (Flauta), Andreson Dourado (Teclado), e Adriano Dourado (Bateria), postado em 2014; e Gean Araújo (Trombone); e Andreson Dourado (Piano), gravado para o Projeto “Clube das Quintas”, com apoio da Prefeitura Municipal de Santarém (Pará), postado em 2021.

Eu elaborei vários arranjos para esta bela valsa: Duo para Saxofone-Tenor e Piano (2007); Tenor ou Soprano e Piano (2008); Coro a 3 vozes mistas e Piano (2009); e Duo para Saxofone-Alto e Piano (2011).

Para saber mais sobre Felisbelo Jaguar Sussuarana, recomenda-se o excelente livro, em homenagem ao centenário de seu nascimento, “O Mergulho de Felisbelo Sussuarana no Claro-Escuro do Homem e da Obra” – ensaio biográfico, Gráfica e Editora Tiagão, sob os auspícios da Prefeitura Municipal de Santarém, 1991, de autoria de seu filho Felisberto Sussuarana, igualmente poeta e escritor.

Mais informações sobre Felisbelo podem ser encontradas no livro “Meu Baú Mocorongo” (Wilson Fonseca), impresso por RR Donnelley Moore (SP) e editado pelo Governo do Estado do Pará (Secretaria Especial de Promoção Social, Secretaria Executiva de Cultura e Secretaria Executiva de Educação), parte do Projeto Nossos Autores, coordenado pelo Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares (SIEBE), lançado em Santarém (PA), em 17.11.2006 (2º volume, p. 457/463).

PÉROLA DO TAPAJÓS

(Valsa)

Letra: Felisbelo Sussuarana

Música: Pedro Santos e Wilson Fonseca (1935)

Tu és, ó cidade de beleza,

Na doce paz da tua singeleza

A resplender, banhada de arrebóis,

A pérola encantada

Do altivo Tapajós!

Em ti, a sonhar, doce recanto,

Sonhos de amor

Eu vivo num quebranto

Consolador.

Rincão de encantos mil,

Pedaço de alvorada dentro do Brasil!

P’ra te cantar

E exalçar,

Ó meu rincão,

Ó bem meu,

Da aurora roubo

O clarão!

Roubo do sol os raios e o calor

E o doce olor

Dos rosais;

Roubo o matiz

Do arrebol,

E roubo mais

O primor

Do rouxinol!

Santarém, terra mimosa,

Teu lindo nome

Quero banhado de mil sóis,

A graça majestosa

Do teu grande rio,

Desse Tapajós!

Ó meu rincão,

Tuas morenas

Filhas pequenas

Amo com esta afeição

Que vem do amor

Que me faz cantor!

Vicente Malheiros da Fonseca
Vicente José Malheiros da Fonseca é Desembargador do Trabalho de carreira (Aposentado), ex-Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (Belém-PA). Professor Emérito da Universidade da Amazônia (UNAMA). Compositor. Membro da Associação dos Magistrados Brasileiros, da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 8ª Região, da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, da Academia Paraense de Música, da Academia de Letras e Artes de Santarém, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, da Academia Luminescência Brasileira, da Academia de Música do Brasil, da Academia de Musicologia do Brasil, da Academia de Música do Rio de Janeiro, da Academia de Artes do Brasil, da Academia de Música de Campinas (SP), da Academia de Música de Santos (SP), da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Letras, da Academia Brasileira de Ciências e Letras (Câmara Brasileira de Cultura), da Academia Brasileira Rotária de Letras (ABROL) - Seção do Oeste do Pará, da Academia de Música de São José dos Campos (SP), da Academia de Música de São Paulo. Membro Honorário do Instituto dos Advogados do Pará. Sócio Benemérito da Academia Vigiense de Letras (Vigia de Nazaré-PA).

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