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O cinema brasileiro, desde as primeiras décadas do século XX, registrou o Calendário Carnavalesco por meio de pequenos filmes mudos e depois em média e longa-metragem. No registro: as passagens de blocos de rua, agremiações que desfilavam em automóveis, bailes das classes abastadas e o surgimento das primeiras escolas de samba.

Elaborar uma lista com filmes de temáticas que remetem ao carnaval brasileiro é uma tarefa de eterna pesquisa, pois demanda recortes necessários que possam sinalizar os diversos períodos e ciclos regionais num país multicultural e de dimensões continentais.

Há a presença do cinema industrial, com destaque para produção de chanchadas produzidas pelos estúdios Cinédia e Atlântida. A chanchada (comédia musical de humor ingênuo e popular) merece atenção especial pelo investimento dos estúdios, sucesso de público e o massacre editorial da crítica especializada, que hoje reconsidera preconceitos e valoriza o contexto histórico em que os filmes foram produzidos.

De uma forma ou de outra, filmes de carnaval ou com temática carnavalesca, dialogam com o imaginário popular em forma de arte em dias de folia e alteridade ao estado de coisas imposto como realidade. Daí o delírio, a fantasia, o dionisíaco em forma de cinema.

Abaixo, uma pequena lista de filmes que aguçam a curiosidade e encanto por produções realizadas desde a década de 1930 até os dias atuais:

1933. A Voz do Carnaval, de Adhemar Gonzaga. Lançado pela produtora Cinédia, mistura cenas do carnaval carioca e paulista. Sucesso imediato, o filme atraiu milhares de fãs de rádio, que queriam ver como eram aqueles cantores, conhecidos somente pela voz.

1936 – Alô, Alô, Carnaval, de Adhemar Gonzaga – com Carmen Miranda e Francisco Alves e outros cantores do rádio.

1947 – Este Mundo é um Pandeiro, de Watson Macedo. Com Oscarito e Grande Otelo, o filme inaugura a era de ouro das chanchadas produzidas pela Companhia Cinematográfica Atlântida.

1949 – Carnaval no Fogo, de Watson Macedo. Aqui, temos a célebre paródia de Oscarito e Grande Otelo para o clássico Romeu e Julieta.

1950 – Aviso aos Navegantes, de Watson Macedo. Uma das grandes chanchadas carnavalescas do cinema brasileiro, com Oscarito, Grande Otelo e Anselmo Duarte.

1954 –  Nem Sansão, nem Dalila (de Carlos Manga). Paródia ao filme de Cecil B. de Mille (Sansão e Dalila), o filme é uma crítica ao autoritarismo e populismo político da era Getúlio Vargas.

1955 – O Homem do Sputnik, de Carlos Manga. Além das performances de Oscarito, o filme ficou conhecido pela ótima paródia de Brigitte Bardot, feita por Norma Bengell.

1972 – Quando o Carnaval Chegar, de Cacá Diegues. Um filme além da oposição chanchada x cinema novo, ao filmar com lirismo um musical com Chico Buarque, Maria Bethânia e Nara Leão.

1978 – A Lira do Delírio, de Walter Lima Jr. Talvez o melhor filme brasileiro ambientado em época de carnaval. Agonia e êxtase em dois momentos na vida de personagens interpretados por Anecy Rocha, Claudio Marzo e Paulo César Pereio.

1999 – Orfeu, de Cacá Diegues. A proposta nacional para o mito grego de Orfeu e Eurídice, com música de Caetano Veloso. No elenco: Toni Garrido. Patrícia França e Murilo Benício.

2007 – Ó Pai Ó, de Monique Gardenberg. A ação se passa num animado cortiço do centro histórico do Pelourinho, em Salvador. Com Lázaro Ramos e Emanuelle Araújo.

2013 – Damas do Samba, de Susana Lira. A importância das mulheres para a história do samba, com a presença de nomes como Beth Carvalho e Dona Ivone Lara.

2019 – Fevereiros, de Marcelo Debellian. A vitória da escola de samba carioca Estação Primeira de Mangueira com enredo homenageando a cantora Maria Bethânia.

2019 – Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar, de Marcelo Gomes. A incrível história dos moradores de Toritama, em Pernambuco, que produzem mais de 20 milhões de jeans anualmente em fábricas caseiras. No Carnaval, vendem tudo e descansam em praias paradisíacas.

2017 – Clara Estrela, de Rodrigo Alzuguir e Susanna Lira. O filme narra, por meio de entrevistas em diversos programas de TV e rádio, a trajetória de Clara Nunes, cantora que conquistou o Brasil e o mundo. 2020 – Fim de Festa, de Hilton Lacerda. O Brasil como o país da ressaca. Clima de festa da carne e assassinato num filme policial com Irandhir Santos e Gustavo Patriota.

José Augusto Pachêco
José Augusto Pachêco é jornalista, crítico de cinema com especialização em Imagem & Sociedade – Estudos sobre Cinema e mestre em Estudos Literários – Cinema e Literatura. Júri do Toró - 1º Festival Audiovisual Universitário de Belém, curadoria do Amazônia Doc e ministrante de palestras e cursos no Sesc Boulevard e Casa das Artes.

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