Na edição de maio/2003, escrevi neste jornal um artigo sob o título “JOSÉ AGOSTINHO, CARLOS GOMES, VILLA-LOBOS e WILSON FONSECA”, onde narrei sobre curiosos encontros musicais ocorridos entre esses quatro gênios da música brasileira.
Retorno ao tema, com novas informações que ilustram os contatos pessoais entre meu avô José Agostinho da Fonseca (1886-1945) e o Maestro Carlos Gomes (1836-1896), falecido em Belém.
Em longas e proveitosas conversas com meu tio e padrinho Wilde Fonseca (Maestro Dororó, 87 anos), que veio a Belém para implantar um marca-passo, agreguei aos fatos, que me foram transmitidos por meu pai (Wilson Fonseca, Maestro Isoca), outras informações preciosas sobre os encontros musicais de meu avô e o maestro campineiro. Esses contatos pessoais ocorreram tanto no Conservatório de Música, então dirigido por Carlos Gomes, em Belém, como nas ocasiões em que o grande maestro brasileiro visitava o Instituto de Educandos Artífices (depois, Instituto Lauro Sodré), onde meu avô estudou. E não há dúvida de que José Agostinho da Fonseca, então com 10 anos de idade, participou das exéquias do Maestro Carlos Gomes, em setembro de 1896, na capital paraense, na condição de membro da famosa Banda de Música do Instituto de Educandos Artífices. Além das narrativas de meu saudoso pai, confirmadas por meu tio Dororó, louvo-me das informações de Vicente Salles e Clóvis Moraes Rego, com os quais conversei sobre o assunto. Aquele Instituto era considerado um dos principais estabelecimentos de ensino, no gênero, no Brasil, onde lecionavam professores especializados na Europa. Por isso, o destaque no cortejo fúnebre de Gomes.
No livro “Carlos Gomes no Pará” (Clóvis Moraes Rego), L & A Editora, 2004, UFPa, que me foi ofertado, com dedicatória do próprio autor, há diversas evidências da participação destacada da famosa banda de música daquele Instituto, inclusive com fotografias, que revelam a magnitude e a autêntica apoteose das homenagens fúnebres a Carlos Gomes, em Belém. Por isso, meu avô jamais esqueceu do memorável e histórico evento, narrado para seus filhos.
Esse fato deve ser motivo não apenas de orgulho para nós, seus descendentes, como também dever que temos de preservar a memória de nossos ancestrais.
O tio Dororó me confessou que jamais havia assistido alguma ópera ao vivo. Já ouvira muitas e sua preferida era justamente “O Guarany”, de Carlos Gomes. Cuidei então de levá-lo ao Theatro da Paz, onde se realiza o excelente Festival de Ópera da Amazônia. Embora convalescente da recente cirurgia cardíaca, meu tio conseguiu realizar um velho sonho. Aceitou o convite e lá fomos nós ao teatro, acompanhados de familiares. Diante de nós, a mais conhecida ópera do famoso compositor paulista, cuja abertura é tocada no início da “Voz do Brasil”, nas estações de rádio. A produção foi magnífica. Depois da récita, fomos jantar e encontramos o regente da ópera, Maestro Roberto Duarte, carioca, membro da Academia Brasileira de Música, que nos revelou ter conhecimento e bom conceito da obra musical de meu pai.
Ainda no hospital, entreguei ao tio Dororó as partituras de arranjos que escrevi para a primeira e a última composição musical de meu avô: “Idílio do Infinito” (1906), para Quinteto de Sopros; e “Ave Maria” (1938), para Quarteto de Cordas. Retornei para casa e compus o chorinho “Marcapasso” (Duo para Flauta e Piano), que lhe dediquei, por sugestão de minha irmã Conceição.
(Vicente Malheiros da Fonseca – magistrado e compositor – vjmf@terra.com.br)
Comentários