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A instalação de um Banco Vermelho Gigante na Praça Felipe Patroni, nesta sexta-feira, 13, reuniu homens e mulheres na luta contra o feminicídio em Belém. Às 9h30, em seu gabinete no Palácio Antonio Lemos, o prefeito Edmilson Rodrigues assinou um termo de compromisso com o presidente do Grupo Ser Educacional, Jânyo Diniz, e a reitora da Universidade da Amazônia, Betânia Fidalgo Arroyo, com a interveniência do Instituto Banco Vermelho. O local da instalação não poderia ser mais estratégico. A praça fica rodeada pelos prédios do Ministério Público do Estado, do Tribunal de Justiça, do Governo do Pará e da Assembleia Legislativa, no centro histórico da cidade. A ação é destinada a lançar luzes sobre a violência contra a mulher, criando espaços de diálogo, educação e prevenção para toda a população.

Betânia Fidalgo Arroyo acentuou que é inaceitável uma sociedade em que predomina o feminicídio, em que mulheres são assassinadas dentro de casa e fora dela, importunadas e cuja dignidade, o respeito, o bem maior que é a vida, levado a zero. “Nós precisamos hoje tirar foto aqui neste banco, cada uma de nós, colocar em nossas redes sociais, dizer para as pessoas o que o banco representa, porque estaremos dando o exemplo de que precisamos valorizar a vida e que as mulheres precisam sim de respeito e devemos combater juntas o feminicídio. E é claro que nós queremos que os homens também estejam junto conosco nessa luta, que eles levem e pratiquem essa mensagem. Há muitas formas de violência contra as mulheres, até chegar ao assassinato. E às vezes começam por uma “brincadeira” dita no local de trabalho, por um desrespeito às meninas que estão nascendo, que estão dentro das nossas casas e que não cabe a elas lavar, passar, cuidar dos irmãos menores. É inverdade que as mulheres nascem fortes e têm energia e por isso podem fazer muitas coisas. Homens também nascem fortes, têm energia e podem fazer muitas coisas. Então os meninos desde cedo têm que entender que o trabalho doméstico, que a vida em família é para meninos e meninas. E aqui faço um apelo às mães e aos pais: vamos educar as crianças para uma outra lógica de comportamento, para que este banco não seja mais necessário. Hoje o que a gente quer são muitos bancos na cidade de Belém, mas o melhor é que um dia não precisemos mais do Banco Vermelho porque o feminicídio será zero, porque conseguiremos construir uma sociedade onde não tenhamos mais esse tipo de representação ou de política pública. Quero agradecer de coração à Prefeitura de Belém, através do prefeito Edmilson Rodrigues, que acolheu este projeto. Ao presidente do Grupo Ser Educacional, mantenedor da Unama, o professor Jânyo, a presença dele, nossos coordenadores, professores, aqui. Isso é muito importante porque fortalece a Unama nos seus 50 anos. E talvez este seja o projeto mais significativo, porque é feminicídio zero, contra a violência, uma questão de gênero premente que precisa ser colocada. Quero agradecer ao Ministério Público que está aqui com seus promotores, às mulheres do Brasil, através da Dra. Bruna Khoury, que também está aqui. Agradeço a todos e todas e vamos encampar esta campanha, vamos poder dizer que Belém do Pará iniciou uma caminhada do Brasil e do mundo inteiro contra o feminicídio. Vai ser uma honra para cada belenense, para cada paraense, para cada brasileiro”, pugnou, emocionada.

Sandra Helena Cruz, da Coordenadoria da Mulher de Belém, justificou a ausência do prefeito Edmilson Rodrigues, que não pôde participar da inauguração por conta da vedação eleitoral. “Agradeço imensamente a ele por esta sensibilidade em trazer para Belém um projeto tão importante de enfrentamento ao feminicídio. Isso é uma coisa extremamente significativa, muitas mulheres estão nos seus lares, ao lado dos seus companheiros ou companheiras e acabam tendo as suas vidas ceifadas por um processo que é evolutivo. Começa com a relação abusiva, a agressão, a violência doméstica, a violência psicológica, e vai aumentando até que culmina na morte. Esse enfrentamento tem que ser de forma articulada e integrada e é uma tarefa difícil no dia-a-dia da política pública. Então a gente não poderia deixar de agradecer ao IBV, que traz esse programa que tem um simbolismo num banco, que é onde normalmente começa a nossa vida também de relações sociais afetivas, paquerando, passeando na praça, sentando no banco, e ali a gente acha que está iniciando uma vida social saudável, mas que às vezes acaba também nos expondo, expondo o corpo da mulher, com a importunação, com o assédio. Gostaria também, enquanto Combel, de agradecer à Secretaria de Planejamento da Prefeitura, que correu, que acelerou para que pudéssemos instalar neste momento mais um programa de enfrentamento da violência contra mulheres. Agradecer também ao Ministério Público, ao Tribunal de Justiça. Este programa se agrega ao que já vínhamos construindo, temos um aplicativo, o SOS Manas, que está em funcionamento, mas o módulo que a gente quer avançar em relação à celeridade da medida protetiva está em finalização”.

Participou também da inauguração e do ato público o secretário municipal de Coordenação Geral do Planejamento e Gestão, João Cláudio Tupinambá Arroyo, que ressaltou o impacto social e cultural da iniciativa.

Em nome do procurador-geral de Justiça do MPPA, César Mattar Jr., a promotora de justiça Luziana Barata Dantas, do Núcleo de Proteção à Mulher, disse que não adianta só o Ministério Público processar, o Tribunal condenar, as instituições denunciarem: toda a sociedade precisa estar unida para o combate efetivo ao feminicídio. E o banco é muito emblemático porque ele está na praça, um espaço democrático de todos. “Este banco simboliza a força de que a sociedade precisa, a união das mulheres e dos homens, porque nós sozinhas não vamos conseguir, precisamos também, sim, ter os homens lado a lado para que ajudem, aqueles que já têm uma concepção, uma outra mentalidade, a desconstruir essa estrutura social ainda tão opressora para a mulher, que ainda nos afasta tanto da igualdade, em vários aspectos. A casa da gente é o lugar mais perigoso, e a rua também é um local onde nós não nos sentimos seguras. Eu espero que este banco vá para todos os municípios, porque é algo para a reflexão e para a união social. Muito obrigada, parabéns à Unama e à Prefeitura por esta iniciativa”.

O Instituto Banco Vermelho nasceu da inquietação de duas mulheres pernambucanas, Andrea Rodrigues e Paula Limongi, que, impactadas pela crueldade do feminicídio, transformaram o luto em luta. Tendo como foco o feminicídio zero, o IBV atua nacionalmente engajando a sociedade civil e o poder público no enfrentamento à violência de gênero através de intervenção e ocupação urbana, projetos educativos, ações culturais e campanhas de mobilização, entre outras atividades, e já está presente em onze estados brasileiros.

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