Publicado em: 28 de março de 2025
A Turquia enfrenta uma onda de protestos após a detenção de Ekrem İmamoğlu, prefeito de Istambul e principal opositor político do presidente Recep Tayyip Erdogan. İmamoğlu foi preso em 19 de março de 2025 sob acusações de corrupção e supostos vínculos com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), organização considerada terrorista pelo governo turco. A detenção ocorreu um dia após a Universidade de Istambul anular seu diploma universitário por alegadas irregularidades, o que o impediria de concorrer às eleições presidenciais de 2028.
A prisão de İmamoğlu desencadeou manifestações em várias cidades turcas, com milhares de pessoas indo às ruas em apoio ao prefeito e em defesa da democracia. As autoridades responderam com uma repressão significativa, resultando na detenção de quase 1.900 manifestantes ao longo de oito dias de protestos. Entre os detidos, há jornalistas que cobriam os eventos, o que levanta preocupações sobre a liberdade de imprensa no país.
Entretanto, um momento, digamos, peculiar dos protestos, ganhou destaque nas redes sociais: um manifestante vestido com uma fantasia do Pikachu foi filmado fugindo da polícia durante uma manifestação em Istambul. O vídeo, como era de se esperar, viralizou, e tornou-se um símbolo lúdico da resistência em meio à tensão política.
O homem por trás da fantasia foi identificado como Hasan Taskan, um influenciador digital que, em tom irônico, comentou: “Pikachu foi às ruas porque não podia usar seus poderes”. Um usuário do X brincou: “Os Pokémon se rebelaram contra Erdogan.”
Países como Alemanha e França condenaram a detenção de İmamoğlu, considerando-a um ataque à democracia. Organizações de direitos humanos, incluindo a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, criticaram as ações do governo turco e pediram o fim da violência policial contra manifestantes.
Nesta quinta-feira, 27 de março, o governo turco deportou o jornalista britânico Mark Lowen, correspondente da BBC, após sua cobertura ao vivo dos protestos. Segundo as autoridades, Lowen representaria uma “ameaça à ordem pública”. Ele foi detido na quarta-feira, sendo preparado para deportação apenas 17 horas depois. “Ser deportado de um país onde vivi por cinco anos e pelo qual tenho tanto afeto foi extremamente angustiante”, declarou o repórter à BBC. A diretora de notícias da emissora, Deborah Turness, classificou a medida como “preocupante” e destacou que “nenhum jornalista deveria sofrer esse tipo de tratamento apenas por exercer sua profissão”.
Além de Lowen, outros sete jornalistas turcos e um fotojornalista da agência francesa AFP também foram presos durante a cobertura dos protestos, embora todos tenham sido posteriormente liberados. Mesmo diante das prisões, o ministro da Justiça da Turquia, Yilmaz Tunç, negou que o país detenha jornalistas por seu trabalho e afirmou que a prisão de İmamoğlu se baseia na gravidade das acusações de corrupção, e não em motivações políticas.
A versão oficial contrasta com as declarações de manifestantes, que veem na detenção uma retaliação após o prefeito ser apontado como principal rival de Recep Tayyip Erdogan para as eleições presidenciais de 2028. Desde o início dos protestos, 1.878 pessoas foram presas — apenas 489 foram liberadas até o momento, segundo o ministro do Interior, Ali Yerlikaya. A ONG Repórteres Sem Fronteiras classifica a Turquia como um dos piores países do mundo em liberdade de imprensa, ocupando o 158º lugar entre 180 no ranking de 2024, e denuncia que 90% da mídia local é influenciada diretamente pelo governo.
O presidente Erdogan acusou a oposição de prejudicar a economia do país por meio dos protestos e alertou que atos de sabotagem econômica terão consequências judiciais.
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