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Se tem uma coisa certa na vida, é que a não ser que ela nos imponha alguma tragédia, os filhos crescem.

Eles crescem e partem nos seus voos solos e de repente não podemos mais proteger, cuidar, avisar, e mesmo proibir o que achamos que devemos, sempre no intuito de evitar que sofram.

Todas nós, as mães, por acharmos que realmente temos esse poder, o de evitar que filhos sofram.

Mas não é somente isso o que queremos. Queremos que eles sigam por caminhos que muitas vezes não são os mesmos que eles desejam, queremos continuar a ser importantes em suas vidas, queremos que nossos conselhos e opiniões ainda sejam relevantes, queremos sobretudo que nossos maiores amores ainda nos amem do mesmo jeito que faziam quando eram pequeninos.

Porque no fundo, e no nosso coração, eles continuam assim, pequeninos, nossos bebês que ficaram do nosso tamanho, porém para sempre n ossos bebês.

Minha filha mais velha já há alguns anos fez o seu voo solo e hoje mora em São Paulo com o marido e seus filhos.

Tive que aprender a viver longe dela e dos netos, e posso dizer, ainda é difícil. Vivo num constante aprendizado do amar com des apego.

Mas quem disse que a vida é fácil?

Hoje quando a saudade aperta eu vou no aplicativo e compro uma passagem, passo lá alguns dias e volto ainda com mais saudade do que quando fui, e assim vamos vivendo. E de vez em quando ela e sua família vem aqui nos ver.

Neste novembro eles vieram e trouxeram toda a alegria do mundo para a nossa casa. Lhes digo que não há nada melhor nem mais intenso do que ser avó. É um amor desmedido que dá de forma desproporcional e a gente não tá nem aí por isso. Só queremos mesmo nos DOAR, vira a nossa “cachaça”: mimar os netos e fazer com eles tudo o que não poderíamos fazer com os filhos. Doce antes do almoço? Claro que sim! Dormir tarde porque está vendo Youtube? No nosso quarto pode sim. Brincar de cavalinho? Beleza, mont a aqui. Riscar a parede? Ainda bem que meus netos nunca pediram isso, porque era capaz de eu deixar. Cachaça é cachaça né? E como falei acima, mimar os netos é a nossa.

E depois de alguns dias completamente imersos na arte de ser avó, eles já foram.

A casa voltou a ser insuportavelmente quieta e não vejo nenhuma vantagem em ter tudo arrumadinho novamente.

O coração dói, porém a gente já entende que passa. Tudo passa.

Aprender a amar sem apego é das tarefas mais difíceis.

Todavia, se as coisas derem bem certo para você e se você for uma boa mãe, o resultado disso será ter filhos independentes e emocionalmente estáveis. E sendo avó, não é necessário, embora fosse adorável, estar o tempo todo presente.

O que realmente é necessário é compreender as várias fases da vida, respeitar as escolhas deles que já são adultos e criar memórias nos pequeninos.

É amar sem medidas, sem cobranças, sem lamúrias.

É concluir que talvez o melhor tipo de amor do mundo (se é que existem tipos de amor) é o desapegado. Só há le veza nele. Só há o sentimento, sem nada exigir. Concluo que Deus é tão perfeito que talvez a tal Síndrome do Ninho Vazio seja justamente para nos ensinar a grandeza desse amor.

Julia Fontelles
51 anos, empreendedora há mais de 30 anos, proprietária da Le Panier D’Amelie-Cestaria, especializada em cestas de café da manhã e de happy hours. E-mail julia.villasanti@live.com

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