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Quando o artista mineiro Thiago Mazza foi convidado pela Câmara Municipal de Lisboa para pintar no MURO LX 2021, o principal festival de arte urbana da capital portuguesa, logo pensou em fazer suas plantas tropicais. Mas sua imersão na região de Ericeira por causa da quarentena obrigatória o fez mudar de ideia. Ali teve contato com a natureza, subiu montanhas e desceu ao mar catalogando todas as plantas que despertavam a sua atenção. Acostumado a pintar folhagens densas, flores rígidas e grandes, ele se perdeu na quantidade de pétalas, espinhos e luzes que se formavam em uma única flor do campo. O verde no campo português é tímido e se mescla com o amarelo, que sustenta em seu topo uma explosão de cores e formas enaltecidas pela linda luz dourada do fim de tarde em Portugal.

Único brasileiro convidado para o festival português, Thiago se encantou com uma espécie, a alcachofra selvagem, também conhecida como Cardo. Ela é representada no início e no fim do seu mural de 220m2, um verdadeiro jardim urbano só com flores locais, em dois estágios de vida. Além da forma cheia de espinhos que cria incríveis contrastes de luz e sombra, essa planta tem uma história muito interessante. Manda a tradição que se queime a sua flor durante o Solstício de Verão, pois uma vez mergulhada em água fria voltará a florir. Das cinzas às cinzas, a alcachofra manifesta em si o eterno retorno, a negação da morte, a ressurreição.

Thiago Mazza é conhecido na cena mundial de arte urbana contemporânea por seu domínio na representação da fauna e da flora. Seu assunto atual de estudos são plantas tropicais, inspirado no paisagista brasileiro Burle Marx. Neste momento histórico de retomada das atividades e conscientização do impacto da humanidade sobre o meio ambiente e da necessária preservação da natureza, a imagem que Mazza pinta dialoga neste contexto em que a arte pública pode e deve se transformar em conteúdo e estética no espaço urbano. O artista constrói através da sua pintura jardins no concreto, afetando a perspectiva sobre a relação natureza e cidade. Seu processo criativo envolve composições reais com plantas para levá-las aos muros de forma a apresentar um jardim que transcende a ação do tempo.

O festival MURO terminou no último dia 11 deixando um legado de pinturas e intervenções urbanas por três zonas do Parque das Nações, exposições e instalações na Gare do Oriente e no Centro Vasco da Gama. O festival é organizado pelo Departamento de Patrimônio Cultural da Câmara Municipal de Lisboa. “O muro que nos (re)une” é o tema do evento este ano, que se propôs uma celebração da vida em sociedade pós isolamento. Como se vê, a Câmara Municipal de Lisboa tem muito a inspirar os munícipes brasileiros.

Thiago Mazza tem 37 anos e nasceu em Belo Horizonte (MG). É graduado em Design Gráfico pela UEMG. Autodidata em pintura, teve contato com graffiti em 2010 e depois começou a pintar paredes, mas já aparece como expoente do muralismo contemporâneo brasileiro. Ele coleciona participações em festivais em todo o mundo, como Artscape (Suécia), Vukovart (Croácia), UpFest (Reino Unido), Stenograffia (Rússia), IPAF (México) e CURA (Brasil). Seu trabalho dialoga com pintura clássica, arte de rua e arte contemporânea. Capta a natureza, tem engenhosidade para transmutá-la e a arte de conduzir os olhares a ela.

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