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No mês passado, fiz uma pequena sonata para piano, em cinco movimentos: “Dança e Pororoca”; “Calmaria no Tapajós”; “Fúria Amazônica”; “Banzeiro”; e Reencontro das Águas”.
Para os menos iniciados em música, esclareço que “sonata” é uma peça destinada apenas a instrumentos, em oposição à “cantata”, que conta com a participação da voz humana, considerada o mais belo instrumento sonoro.
Inúmeros compositores escreveram sonatas, sobretudo Haydn, Mozart e Beethoven. Quem não conhece a famosa “Sonata ao Luar” (Op. 27, nº 2), do grande Beethoven, cuja obra registra 32 sonatas para piano, um dos mais extraordinários legados do compositor alemão?
A chamada forma sonata, na arte da composição, é utilizada também na sinfonia e nas peças camerísticas (trios, quartetos, quintetos etc.). O termo sonata, porém, é reservado para obras que não envolvem mais de dois executantes.
Normalmente, a sonata implica em três seções: a exposição (de um ou mais temas básicos); o desenvolvimento (o material é mais elaborado, na criação e transformação dos temas); e a recapitulação (repetição do tema ou temas, com algumas modificações, e até o acréscimo de uma coda, ou seja, um fecho da obra).
Costuma-se ainda dizer que a base da forma sonata é o jogo de inter-relacionamento das tonalidades, além do domínio da harmonia e do contraponto.
Na história da civilização humana, a arte de Euterpe evoluiu, passou por períodos críticos e, tal como ocorre com a literatura e a pintura, por exemplo, adaptou-se aos novos tempos (classicismo, romantismo, impressionismo, dodecafonismo, atonalismo, serialismo, música eletroacústica, música aleatória, música minimalista etc).
Não obstante, a tradição herdada dos grandes mestres, todos seguidores do notável J. S. Bach, manteve-se sempre atual.
De fato, ainda hoje muitos compositores exercem o seu ofício com respaldo nos fundamentos da música erudita.
É o caso da “Sonatina nº 1” (para piano, com transcrição para Quinteto de Cordas), composta por meu saudoso pai (Wilson Fonseca), em 1951.
Isso não significa o engessamento da arte musical, até porque a história revela, com freqüência, o retorno a antigas tradições, num processo cíclico, evidentemente com as adaptações às novas realidades.
Entusiasmado com a experiência, resolvi compor um novo arranjo para a minha “Sonatina Amazônica”: Duo para Clarinete e Piano.
Outros compositores brasileiros escreveram sonatinas para dois instrumentos, notadamente para Flauta e Piano, dentre os quais: Camargo Guarnieri (1947); Ernst Mahle (Sonatina, em 1976; e Sonatina Nordestina, em 1987); e Radamés Gnattali, este um dos maiores nomes da música brasileira, tanto no campo popular como no erudito, autor da “Sonatina em Ré Maior”, a única peça encontrada completa após o seu falecimento. No corrente ano, comemora-se o centenário de nascimento deste notável compositor gaúcho, a quem rendo as minhas homenagens.
Por outro lado, o compositor brasileiro e amazônico deverá identificar-se com as peculiaridades nacionais e regionais, a fim de alcançar uma dimensão universal.
Desse modo, não se espere que eu tenha composto uma sonatina no estilo clássico.
Pelo contrário, a peça é impregnada de alma brasileira, que não dispensa a cadência sincopada de alguns trechos e inserções inspiradas no imaginário amazônico.
Enfim, devo reconhecer que quem ainda não compôs uma sonata, pode conformar-se com uma simples sonatina, uma espécie de pequena sonata, mais curta e ligeira, não necessariamente de mais fácil execução (vale lembrar das sonatinas de Ravel e Milhaud).
A sonatina que acabo de compor, com cinco minúsculos movimentos, dura apenas quatro minutos (o compositor alemão Anton von Webern – 1883/1945 – escreveu peças “microscópicas”, que duram apenas alguns segundos). Mas em diversos trechos da sonatina são utilizadas passagens rapidíssimas, com o emprego de fusas, em contraste com o 2º movimento, que representa a “calmaria no Tapajós”.
Deixemos, então, que se pronuncie, sobre a obra, a pianista paranaense, Priscila Malanski, de quem recebi a seguinte mensagem, em 12 de março último:
“Simplesmente linda sua Sonatina! Soa muito bem mesmo. Além disso, tem uma forma tradicional, o que me agradou em cheio. Não sou muito inclinada a grandes dissonâncias, dodecafonismo, atonalismo, essas coisas. Admiro pela técnica, mas não aprecio musicalmente. Por isso gostei mesmo de sua obra, parabéns! Fico imensamente feliz em saber que pessoas como você mantém viva a arte da verdadeira composição, ou seja, a busca do “belo”, do significativo ..Me lembrou muito o nacionalismo (universalismo!) de Villa-Lobos e também a influência folclórica de Waldemar Henrique, que é o tema da monografia que estou escrevendo.
Adoraria receber outras composições suas, e quem sabe podemos pensar em um recital, aí na sua cidade e também na minha, com obras suas e de seus antepassados. Seria interessante divulgar estas obras tão bonitas e eu adoraria executá-las.
Obrigada por ter me enviado sua obra, foi muito gentil de sua parte.
Aguardando novas belas surpresas ….”.

Vicente Malheiros da Fonseca
Vicente José Malheiros da Fonseca é Desembargador do Trabalho de carreira (Aposentado), ex-Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (Belém-PA). Professor Emérito da Universidade da Amazônia (UNAMA). Compositor. Membro da Associação dos Magistrados Brasileiros, da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 8ª Região, da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, da Academia Paraense de Música, da Academia de Letras e Artes de Santarém, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, da Academia Luminescência Brasileira, da Academia de Música do Brasil, da Academia de Musicologia do Brasil, da Academia de Música do Rio de Janeiro, da Academia de Artes do Brasil, da Academia de Música de Campinas (SP), da Academia de Música de Santos (SP), da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Letras, da Academia Brasileira de Ciências e Letras (Câmara Brasileira de Cultura), da Academia Brasileira Rotária de Letras (ABROL) - Seção do Oeste do Pará, da Academia de Música de São José dos Campos (SP), da Academia de Música de São Paulo. Membro Honorário do Instituto dos Advogados do Pará. Sócio Benemérito da Academia Vigiense de Letras (Vigia de Nazaré-PA).

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