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Eu sempre aproveitei tudo. Acho que essa é uma das minhas maiores e melhores características, eu aproveito e reaproveito tudo o que cai em minhas mãos.

Quando criança eu ia até a despensa e via o que havia dentro. Com os ingredientes que encontrava eu criava pratos salgados e doces e foi assim que, muito pequena, eu aprendi a cozinhar. Criada por uma mãe divorciada que trabalhava muito, eu não tinha o tempo dela para mim. Então eu fazia para mim mesma tudo aquilo que eu gostaria que ela me fizesse: o brigadeiro de panela para comer no meio da tarde, o caderno escolar cuidadosamente encapado com papel contact, e até as histórias infantis eu mesma me contava, minha mãe lembra disso. A verdade é que sempre fui adepta do “faça você mesmo aquilo que quer para você” isso me preparou para quase tudo na vida.

Quando um problema surge, eu lido com ele. Se dá para resolver, resolvo. Se não dá, ele está resolvido. Não perco o meu tempo com preocupação inútil.

De sobras de comida sempre inventei pratos. De objetos de decoração antigos surgem novos, cangas viram toalhas, tecidos estampados de vestidos viram até mesmo guardanapos, muito antes de falarem na cultura da reutilização eu já fazia isso.

Ontem reaproveitei uma data. Era um dia comum de novembro, mas minha filha mais velha, seu marido e filhos que moram em São Paulo estavam aqui comigo. E como eles não virão passar o natal aqui, eu festejei o nascimento de Jesus ontem. Com tudo o que temos direito: perú, lombinho, bolo de natal, troca de presentes, brinde especial com espumante e trilha sonora. Em pleno domingo. Fiz um natal fora de época mas cheio de amor e percebi o quanto típico de mim, isso é. Eu não brigo com a vida, eu faço ela virar ao meu favor me moldando a ela. Tirando proveito de tudo. De datas a objetos eu vou ressignificando o que encontro pelo caminho e assim não entro em rotas de colisão.

Fico onde me sinto amada. Me afasto do ambiente onde percebo que não sou. Corto laços sim, se me maltratam. E renovo sempre os que me envolvem com amor.

Aos 51 anos eu aprendi a dançar conforme a música. Sempre terei mais facilidade de executar passos em determinados ritmos do que em outros, mas não vou dançar salsa se o que toca é funk. Eu vou seguir o fluxo. Não vou brigar com as circunstâncias, eu vou me apoderar delas. Não vou esperar emagrecer para gostar de mim, eu já me amo quando estou mais gorda ou mais magra. Não vou chorar pelo leite que derramou, eu vou tratar de conseguir outro. Quem sabe um suquinho de maçã…

Na vida não podemos escolher quais problemas teremos mas podemos escolher como lidaremos com eles. Isso sempre vai ser escolha nossa.

Na vida você é a pessoa que fica se lamentando porque recebeu limões ou aquela que faz a melhor limonada?

Desde cedo, quando meus pais se separaram, comecei a receber limões. Mas acreditem, hoje faço a melhor limonada do mundo!

Julia Fontelles
51 anos, empreendedora há mais de 30 anos, proprietária da Le Panier D’Amelie-Cestaria, especializada em cestas de café da manhã e de happy hours. E-mail julia.villasanti@live.com

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    1 Comentário

    1. Muito bom. Bem escrito. É isso, a vida é pra se viver e não lamentar.

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