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As vezes a vida coloca a gente em um turbilhão.

As demandas são muitas e cada vez maiores. Para nós mulheres então, são avassaladoras. Nos sentimos na obrigação de cuidar da casa, do marido, do negócio, das demandas dos filhos, dos amigos, dos pais envelhecidos que muitas vezes viram filhos, e tudo isso tendo que manter o corpo dentro dos padrões, a pele esticada a custa de muito dinheiro para pagar botox e se possível com unhas dos pés e mãos feitas e cabelo escovado. Oi? Tarefas múltiplas e exigências descabidas que muitas vezes nos esgotam.

Então eu estou com pneumonia. E de repente tive que parar tudo. De trabalhar, de cuidar do meu negócio, da casa, do coletivo, dos outros. Eu, que trabalho de segunda a segunda. E que me preocupo em ser sempre o ponto de leveza e alegria da minha casa, impondo a mim mesma um padrão de “felicidade tóxica” com medo de que se não o fizer, eu possa fazer minha família se entristecer e desmoronar. A única coisa que preciso fazer agora é o que não sei: repousar. Parar com tudo. Ser cuidada ao invés de cuidar. Nenhuma obrigação ou fazer a não ser cuidar de mim. Ter tempo. E com tempo sobrando, fui ler sobre o que é ter pneumonia na visão sistêmica.

Quando o pulmão adoece ele não troca mais. É como se ele dissesse que está cansado de dar, dar, dar, sem receber o mesmo. Ele está cansado. Cansado de doar tanto.

É preciso então parar e analisar qual a parte que está precisando ser resolvida: relacionamento familiar, com os pais, com os filhos, com amizades tóxicas, com o trabalho? O que está te fazendo adoecer? É preciso reconhecer para curar.

BANG! TIRO NO ALVO. Fez todo o sentido para mim.

Já tive vários episódios de pneumonia, é uma doença que me ronda há muitos anos pela minha vida adulta. Não fumo, não faço nem jamais fiz uso de drogas, não tenho uma vida desregrada, não há fator que justifique tantos episódios. Ou pelo menos, não havia.

As vezes o corpo grita o que a mente não quer entender. Olhar para si mesmo, saber dizer o que quer e principalmente o que não quer, saber dizer não, mesmo que isso fira algumas pessoas, saber colocar limites, saber colocar sua saúde mental em primeiro lugar, isso tudo não é luxo, é necessário. Do contrário o corpo adoece. Você adoece. Eu adoeço.

E doentes, não podemos cuidar de mais ninguém, não é mesmo? Nem do trabalho, nem da casa, nem da família, nem dos amigos, nem do próximo. Doente, só podemos olhar para nós mesmos. É o último grito, a derradeira chance, a última esperança que nosso inconsciente encontra para fazer a gente parar e dizer para si mesmo: Pare! Relaxe! Você não precisa assumir tantas coisas. Você não precisa agradar todo mundo. Você não precisa atender a todas as demandas. Você pode sim ser “egoísta” de vez em quando, na verdade você deve.

Aprenda a dizer não! Porque senão, a vida vai lá e coloca você no seu devido lugar, nem que seja ligada a um tubo de soro fisiológico para você enfim parar!

Julia Fontelles
51 anos, empreendedora há mais de 30 anos, proprietária da Le Panier D’Amelie-Cestaria, especializada em cestas de café da manhã e de happy hours. E-mail julia.villasanti@live.com

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