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Prepare-se para uma imersão na arte e sons produzidos por David Bowie, um dos maiores ícones do rock and roll. A arte de Bowie atravessa a história da música pop nos séculos XX e XXI e resiste como legado contemporâneo ao alcance das novas gerações digitalizadas que marcam os novos tempos.
O diretor Brett Morgen, mais conhecido pelo documentário “Kurt Cobain: Montage of Heck”, oferece ao espectador um fluxo de consciência com base em depoimentos do artista ao longo de várias décadas.
“Moonage Daydream” é mais que um simples documento audiovisual sobre um astro do rock. É experimentação visual, temática universal, montagem que dialoga com várias fases pessoais e musicais não necessariamente em ordem cronológica (a não linearidade como registro de uma carreira mutante).
O diretor teve acesso ao arquivo de Bowie, o que inclui gravações inéditas, diários, animações e filmes para tentar dar conta da obra de um artista múltiplo, com trânsito livre para expressões de dança, pintura, escultura, teatro e música.
Nos primeiros minutos do documentário, o tema caro da expressão pela palavra, instrumento de linguagem que irá pontuar a música e a carreira de Bowie como ator em filmes que marcam a história do cinema como “Fome de Viver”, “Furyo – Em Nome da Honra”, “O Homem que Caiu na Terra”, “Apenas um Gigolô”, e tantos outros como coadjuvante ou protagonista.
Sim, o cinema é parte da vida e do arquivo pessoal de Bowie. “Moonage Daydream” é uma torrente de imagens com trechos de filmes de Stanley Kubrick, Fritz Lang e outros grandes diretores. São recortes que fazem o trabalho de Brett Morgen um caleidoscópio visual para ver e rever, pois são muitas informações visuais e sonoras a desafiar nossa capacidade de fruição imediata.
David Bowie entra em cena nos anos 60 e viveu o que se pode chamar da era da ressaca pós-hippie e de seus marcos referencias e estéticos, para reinventar a cultura do rock and roll para os anos 70. São performances com muito brilho, glamour e androginia como ferramentas eficazes para reconhecimento da então indústria fonográfica. O visual excêntrico como marketing de aparição musical era a tônica dominante e marca registrada de grupos como Kiss, o cantor Alice Cooper e no Brasil, os Secos & Molhados.
A corrida espacial estava na ordem do dia e a ideia de um ser extraterreno que vem do espaço sideral é usada como base para a criação de Ziggy Stardust, uma entidade alienígena, andrógina e sexualmente fluída. Nas imagens do show, a catarse de fãs que parecem ir ao transe com a ascensão e queda de Ziggy.
Depois vieram outras personas criadas por Bowie, como o Major Tom, Aladdin Sane, Halloween Jack, Pierrot (de Ashes to Ashes), o Duque Branco Magro (que causou polêmica pelo tom fascista), o Profeta Cego, Olhos de Botão e outras criações marcantes que justificam o clichê de artista camaleônico.
Nos anos 80, Bowie ressurge com a pele bronzeada, ternos bem cortados e produz clássicos mais dançantes e celebrativos como “Let’s Dance”, “Modern Love”, “Absolute Beginners”, “Under Pressure” (com o grupo Queen) e mais uma mudança como cantor na banda Tim Machine.
E Bowie não parava nunca, lançando novos trabalhos até 2016, com o lançamento de “Blackstar”, o canto de cisne de um artista completo, efêmero e eterno.
“Moonage Daydream” é programa obrigatório para os amantes do cinema e da música.

José Augusto Pachêco
José Augusto Pachêco é jornalista, crítico de cinema com especialização em Imagem & Sociedade – Estudos sobre Cinema e mestre em Estudos Literários – Cinema e Literatura. Júri do Toró - 1º Festival Audiovisual Universitário de Belém, curadoria do Amazônia Doc e ministrante de palestras e cursos no Sesc Boulevard e Casa das Artes.

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