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Quais os motivos que fazem a visibilidade do Oscar, a premiação da indústria cinematográfica americana, ser hegemônica e de repercussão internacional?

É preciso voltar no tempo e observar que antes da Segunda Guerra Mundial a tônica corrente era o caráter plural do mercado mundial de comercialização e circulação de filmes. No Brasil, o mercado exibidor, então em plena efervescência, exibia filmes americanos, europeus (França, Dinamarca, Inglaterra, Suécia) e latino-americanos (México, Argentina, Cuba).

Após a vitória dos Aliados e o consequente desmonte da produção cinematográfica em vários países envolvidos na guerra, a imposição do mercado de filmes americano foi adotada pelo eficiente tripé de produção, distribuição e exibição como conquista de mercado.

Desde a primeira edição do Oscar, como prêmio máximo no sentido industrial de filmes americanos, foi realizada em 1929, com a premiação do filme “Wings”, drama de guerra dirigido por William Wellmam. 

Do final da década de 1920 até a premiação que acontece neste domingo, 12 de março, diretamente do Teatro Dolby, em Los Angeles, o que observamos é o sucesso de uma política de marketing institucional e empresarial (os grandes estúdios e as poderosas produtoras de filmes) com dimensões de alcance global.

A entrega do Oscar é um caso absoluto de popularidade e apelo midiático, hoje com as ferramentas digitalizadas, em sincronizado com as novas tecnologias de recepção audiovisual, em contraponto ao investimento desigual das premiações de cinematografias nacionais.  

A premiação de filmes brasileiros, por exemplo, não consegue ter o mesmo espaço por meio das mídias tradicionais, mídias sociais, grandes inserções na internet e o indispensável apelo popular, de massa.

É só conferir o retorno aos patrocinadores institucionais e privados para eventos como o Festival de Cinema de Brasília, Festival de Gramado, Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Festival de Documentários É Tudo Verdade, Anima Mundi, Mostra de Cinema de Tiradentes, a premiação para filmes latino-americanos e brasileiros na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Festival do Rio, entre outras premiações anuais realizadas em vários estados brasileiros.

No âmbito local, produtores e realizadores são verdadeiros heróis da cultura quando a proposta é dar visibilidade à nossa produção, com várias desistências no meio do caminho e a teimosia da imaginação de continuar trabalhando com arte. Nesse sentido, os exemplos são: Festival de Cinema de Belém, Festival Osga, Festival do Caeté, Amazônia Doc e outros eventos de cinema realizados na capital e municípios do estado.

Porém, nem tudo é negativamente criticável, pois a premiação da Academia de Artes e Ciências de Hollywood é também uma sinalização da qualidade de novos filmes.

A premiação é de ordem econômica, pois atende ao que foi rentável em bilheteria, acessos por streaming, compra e aluguel on line de filmes e produtos derivados devidamente licenciados.

Há de se observar o lobby poderoso da produção de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, de Daniel Kwan e Daniel Scheinert, com campanha muito bem articulada em premiações que antecedem ao Oscar, o que pode garantir a premiação em várias categorias.

A premiação é política na abertura, ainda que pequena, para produções de filmes não falados em língua inglesa, com foi o caso de “Parasita”, de Bong Joon-ho, e agora a indicação para melhor filme e melhor filme internacional para “Nada de Novo no Front”.

A premiação é artística. Nesse ano, a categoria de melhor filme traz produções imperdíveis como “Os Banshees de Inisherin”, de Martin Mcdonagh; “A Baleia, de Darren Aronofsky; “Tar” de Todd Field, “Triangulo da Tristeza”, de Rubem Östlund e a produção alemã “Nada de Novo no Front”, de Edward Berger.

Artística também por abrir janelas para a categoria de filme internacional com a presença da Alemanha (Nada de Novo no Front), Argentina (Argentina, 1985), Bélgica (Close), Polônia (EO) e Irlanda (The Quiet Girl).

Aqui, a vitrine internacional não é uma concessão e sim estratégia e retorno no mercado do país concorrente e países próximos. Porém, nada comparável à disponibilidade de filmes do mundo no Festival de Cannes, Veneza e Berlim.

José Augusto Pachêco
José Augusto Pachêco é jornalista, crítico de cinema com especialização em Imagem & Sociedade – Estudos sobre Cinema e mestre em Estudos Literários – Cinema e Literatura. Júri do Toró - 1º Festival Audiovisual Universitário de Belém, curadoria do Amazônia Doc e ministrante de palestras e cursos no Sesc Boulevard e Casa das Artes.

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