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Sou neto do compositor JOSÉ AGOSTINHO DA FONSECA (1886-1945), cujas músicas constam no 3º CD da Coleção “Choro Carioca – Música do Brasil” (Caixa com 9 CDs individuais e um libreto), produzido por Maurício Carrilho e Luciana Rabello, lançado em setembro de 2006, pela gravadora Biscoito Fino (Acari Records, AR – 21), com patrocínio da Petrobrás.

Na seleção de músicas da região Norte do Brasil, figuram 4 músicas de José Agostinho da Fonseca, meu avô, conforme pude verificar ao adquirir o produto:

Faixa 3 – “Mutamba” (tango brasileiro);
Faixa 4 – “Vila Paraíso” (schottisch);
Faixa 6 – “Tapajoara” (tango brasileiro); e
Faixa 7 – “Idílio do Infinito” (schottisch).

Mais adiante faço breves comentários sobre essas obras musicais.

Segundo informações obtidas na Internet, trata-se da “primeira gravadora especializada no mais importante gênero de música instrumental brasileira: o Choro” (Luciana Rabello – Um retrato do Choro contemporâneo).

Anteriormente, havia sido lançada uma Coleção de 5 caixas, com 3 CDs (“Princípios do Choro”, 2002), com o registro de parte significativa do início do choro, em gravações de grandes compositores do gênero, na atualidade. Foram 214 músicas de 50 compositores de choro nascidos entre 1830 e 1880, “uma fase da produção musical do Brasil até então mantida em quase total obscuridade”, segundo Luciana Rabello.

Entretanto, aquela coleção “focava especificamente o nascimento no Rio de Janeiro da música urbana mais importante e antiga do país – o choro carioca”.

Assim, era necessário ir mais além. A partir daquele material, “pesquisadores brasileiros e de outros países tiveram acesso a informações que dão uma nova dimensão à história da música do Brasil”, conforme acentua Luciana.

Em seus comentários, Luciana explica que “a pesquisa realizada em 1999 por Mauricio Carrilho e Anna Paes, com o apoio do Programa de Bolsas Rio-Arte –Inventário do Repertório do Choro (de 1870 a 1920) –, revelou um vasto universo de mais de 8.000 obras de compositores de choro de todo o Brasil. Destas, apenas 214 foram gravadas naquela coleção, em 2002. Ainda há muito a ser feito com este acervo, portanto”.

E conclui desta forma as suas oportunas considerações:

“Convencidos da riqueza deste material e do quanto ele ainda tem a revelar sobre a historia da musica brasileira, damos agora continuidade a este trabalho produzindo esta coleção Choro Carioca – Musica do Brasil. Aqui temos um rico mapeamento da presença e atuação do choro por todas as regiões do Brasil, através das 132 obras aqui registradas, de 74 compositores, em sua quase total maioria, nascidos até 1900. Constata-se assim o quanto o choro influenciou não apenas a música carioca, mas também diversos outros gêneros da música brasileira, como o frevo, o baião e o xote nordestinos, por exemplo. Assim como recebeu contribuições importantes da cultura de cada região brasileira, criando assim sotaques diversos.

Acima de tudo, o grande diferencial deste trabalho é o fato de proporcionar uma visão deste fenômeno por meio de um ponto de vista inédito: o musical. Muitas e valorosas informações nos foram legadas por mestres como Ary Vasconcelos, Batista Siqueira, Mozart Araújo e Câmara Cascudo, cuja contribuição é verdadeiramente inestimável. Certamente eles e tantos outros historiadores e pesquisadores teriam enorme prazer e surpresa se conhecessem esta coleção. Mas agora, pela primeira vez, é possível ouvir a música de que antes só se ouvia falar.

É importante ressalvar que nossa proposta aqui é realizar uma leitura contemporânea dessa música, sem a pretensão de reproduzir fielmente a maneira como se tocava choro no Brasil do início do século XX. Desta forma, trazemos para os dias de hoje o trabalho de tantos artistas – profissionais ou amadores – que contribuíram para o enriquecimento da música popular do Brasil”.

Confira:

http://www.acari.com.br/SiteOutdoor.asp?COD_CD=43

Meu pai, Wilson Fonseca – Maestro Isoca (1912-2002), igualmente compositor, produziu a série de 9 “choros-estudos”.

José Agostinho da Fonseca Neto – Maestro Tinho (1953-), meu irmão, dirige a Escola e a Orquestra Jovem “Maestro Wilson Fonseca”, em Santarém.

Meu primo João Paulo Santos Fonseca (1979-) – filho de Wilde Fonseca (Maestro Dororó), falecido recentemente – dirige a Filarmônica “Prof. José Agostinho”.

José Agostinho da Fonseca Júnior – Tinhinho (1982-), meu sobrinho, professor, instrumentista e estudante de composição e arranjo, em nível de pós-graduação, em Belém (PA), também se dedica à arte de Euterpe.

Eu também sou compositor, desde os 10 anos de idade, e escrevi diversos choros e chorinhos, como o “Chorinho Pai D’Égua”, além de outras peças (mais de 1.000 obras), inclusive a série de “Valsas Santarenas” (atualmente, 89). Moro em Belém, por motivos profissionais.

Eis algumas músicas, de minha autoria (muitas em homenagem a Santarém), com arranjos que incluem a participação de violão, à disposição de intérpretes: ”CHORINHO PAI D’ÉGUA” (choro) – Duo para Clarinete e Violão; Quarteto de Violões; Violoncelo e Quarteto de Violões e outros arranjos; “VALSA SANTARENA Nº 1 – Praias dos Namorados” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 2 – Revoada das Garças” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 3 – Rio Tapajós dos Meus Sonhos” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 4 – Saudosa Vera-Paz” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 5 – Eterno Bailado dos Rios, Tapajós e Amazonas” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 6 – Formosa Tapúia” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 7 – Vitória-Régia” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 8 – Seresta do Caboclo” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 9 – Gorjeio do Jurutaí” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 10 – Ilha Encantada” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 11 – Sinfonia das Matas Selvagens” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 12 – Noite de Luar” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 13 – Coração Saudoso” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 14 – Céu de Estrelas” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 15 – Encontro das Águas” (Violão solo); “VALSA SANTARENA Nº 16 – Meu Violão” (Violão solo). As “Valsas Santarenas” foram escritas originariamente para Piano solo, embora haja diversos arranjos camerísticos. Os subtítulos foram dados pela compositora Rachel Peluso (1908-2005), minha professora de piano no Conservatório “José Maurício”, em São Paulo, a quem José Agostinho da Fonseca, meu avô, dedicou a valsa “Rachelina” (1922), que depois recebeu letra elaborada pelo poeta João de Jesus Paes Loureiro (1996).

Em dezembro/2007, escrevi diversos arranjos para músicas de meu avô José Agostinho da Fonseca, destinados ao Violão:

1) “Um meigo sorriso” (valsa, 1923).
2) “Rachelina” (valsa, 1922), letra de João de Jesus Paes Loureiro (1996).
3) “Canção da Saudade” (1936), letra de Paulo Rodrigues dos Santos.
4) “Tapajônia” (valsa, 1917), letra de Felisbelo Sussuarana.
5) “Boca Preta” (samba-carnavalesco, 1922).
6) “Puçanga” (batuque, 1917), letra de Felisbelo Sussuarana (da revista teatral “Olho de Boto”).
7) “Por que tudo acabado?” (tango-canção, 1928).
8) “Zezinho Fontainha” (maxixe, 1925), letra de Felisbelo Sussuarana (da revista teatral “Eu Vou Telegrafar”).
9) “Idílio do Infinito” (schottisch, 1906), letra de Emir Bemerguy (1986). Homenagem à primeira composição de meu avô.
10) “Ave, Maria!” (canto sacro, 1938). A letra é de autor ignorado (Wilson Fonseca adaptou o texto poético de Padre Manuel Albuquerque, quando aproveitou a melodia para escrever “Salve, Rainha”, para coro a 4 vozes mistas, em 1954). Homenagem a ultima composição de meu avô.
11) “Mutamba” (tango-brasileiro, 1912/4).
12) “606” (tango-brasileiro, 1912/4).
13) “Jeca Tatu” (maxixe, 1919). Dedicada ao “Biri” (Wilmar Fonseca, filho do compositor), a composição obteve 3º lugar em concurso nacional de música, promovido pela revista “O Malho”, do Rio de Janeiro. A partitura foi publicada na edição de 31.01.1920 (nº 907).
14) “Hilário Patureba” (samba, 1925), letra de Felisbelo Sussuarana (da revista teatral “Eu Vou Telegrafar”).
15) “Almofadinha” (maxixe, 1925), letra de Felisbelo Sussuarana (da revista teatral “Eu Vou Telegrafar”).
16) “Chuane” (maxixe, 1923), letra de João Andrade.
17) “A Defesa é Federá” (samba à moda renitente, 1925), letra de Felisbelo Sussuarana.
18) “Valsa do Aviador” (valsa, 1925), letra de Felisbelo Sussuarana (da revista teatral “Eu Vou Telegrafar”).

São 18 peças, mas já é um bom começo, pois pretendo continuar esse projeto, com a elaboração de outros arranjos de músicas de meu avô.

Também escrevi alguns arranjos de violão para músicas de meu pai.

Faço, então, breves comentários sobre as 4 composições de meu avô José Agostinho da Fonseca, gravadas no 3º CD da Coleção “Choro Carioca – Música do Brasil”.

MUTAMBA (1912/14) – tango-brasileiro

José Agostinho foi compositor evoluído. Não parou nem no tempo nem no espaço. Na era das valsas escreveu valsas; no tempo do schottisch escreveu schottisch. Se a sociedade exigia quadrilha ele compunha quadrilha; se desejava um one-step diferente ele tinha um one-step caboclo. Escreveu maxixes quando a irreverente dança era malquista pela alta roda e estava sob ameaça de “excomunhão”, dizia-se. Ainda assim, aventurou e recebeu destaque nacional com JECA TATU. Quando o samba urbano estava em gestação, buscando a sua definição, ele também contribuiu para que isto ocorresse, escrevendo tangos brasileiros e tangos carnavalescos. E ao despontar sobranceiro, com Sinhô à frente, escreveu “Trepações”. Depois, aderindo ao novo ritmo sincopado, criou “A Defesa é Federá”, para fazer sucesso, inclusive em Belém, nos idos de 1925.
Se os libretistas desejavam música para o teatro de revista local, eles tinham músicas com temas e ritmos regionais. E participando, como compositor, ensaiador da orquestra e cantores e ainda figurando como ator da peça ‘EU VOU TELEGRAFAR’, de Felisbelo Sussuarana, fez pregão e cantou os maxixes “Almofadinha” e “Zezinho Fontainha” de sua autoria. Seja dito de passagem que dessa revista há, além destes, mais dois maxixes que entusiasma a quem os ouve.
(Wilmar Dias da Fonseca, no livro “José Agostinho da Fonseca: O Músico-Poeta”, Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, Belém/Santarém-PA, p. 117)
No álbum de publicação da Obra Musical do que foi resgatado da produção de José Agostinho (pai de Wilson Fonseca, Maestro Isoca), consta apenas a melodia desta música, além de ligeiras indicações harmônicas: “Obra Musical de José Agostinho da Fonseca (remanescente)”, editada em 1981, sob os auspícios dos filhos do compositor, pela Imprensa Oficial do Estado do Pará, p. 41.
A peça revela a genuína “brasilidade” desta bela composição, feita no início do século XX.
O título se origina de um óleo perfumado muito usado no toucador de então.
Além do arranjo para violão, eu escrevi, inicialmente, um arranjo para Trio de Cordas, executado pelo Trio D’Amore (Andréa Campos e Flávio Geraldini, violinos; e Tânia Augusta Campos, viola), no concerto “Música Familiar Brasileira”, que apresentou peças de três gerações da família Fonseca, em março de 2008, no Projeto Música no Museu 2008, no terraço do Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, com comentários do maestro e pianista João Carlos Martins durante a apresentação. Tânia e Andréa são bisnetas de José Agostinho da Fonseca, meu avô (portanto, figuram na 4ª geração musical da família Fonseca). O trio de cordas tem larga experiência profissional no Brasil e no exterior e seus integrantes atuam regularmente como cameristas e solistas. Flávio é casado com Andréa, que é irmã de Tânia. Os laços familiares do grupo – que justifica o nome do trio – também se estendem ao repertório escolhido para o concerto “Música Familiar Brasileira”, dedicado aos compositores José Agostinho da Fonseca (bisavô), Wilson Fonseca (tio-avô) e Vicente Fonseca (tio-primo). Todos os arranjos para trio de cordas foram escritos por mim. Programa musical: Idílio do Infinito, Mutamba, Chuane, A Defesa é Federá, Almofadinha, Por que tudo acabado? e Ave Maria – de José Agostinho da Fonseca (1886-1945); Vou dizer-te adeus, Benedictus (da Missa “Mater Immaculata”), Um Poema de Amor e Ave Maria nº 2 – de Wilson Fonseca – Maestro Isoca (1912-2002); e Chorinho Pai D’Égua, Canção a um grande amor, Procissão do Círio, Ave Maria, Sairé e Irurá – de Vicente Fonseca (1948-).
Andréa e Tânia Augusta – que estudaram e moraram por vários anos nos EE.UU. – já tocaram na famosa Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) e, atualmente, integram a Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal de São Paulo, além de outros grupos musicais. São talentosíssimas! Verdadeiro orgulho de nossa família…
Posteriormente, eu escrevi um arranjo para Quarteto de Cordas, executado no concerto do Quarteto Maestoso (“Três Gerações em Concerto de Cordas”), em 24 de janeiro de 2009, no Theatro da Paz, em Belém (PA), durante o V Fórum Mundial de Juízes. Além de escrever os arranjos para quarteto de cordas, eu participei, ao piano, da interpretação de algumas peças, no concerto do Quarteto Maestoso.

VILA PARAÍSO (1912/14) – schottisch

A composição foi escrita por José Agostinho da Fonseca entre os anos de 1912 e 1914.
A música (simples melodia) está publicada no livro “Obra Musical de José Agostinho da Fonseca (remanescente)”, editada em 1981, sob os auspícios dos filhos do compositor, pela Imprensa Oficial do Estado do Pará, p. 63.
Em outubro de 2009, eu escrevi um arranjo para Duo de Flauta e Piano. Elaborei a parte do Piano, a Introdução e a Coda, para este arranjo, pois somente foi localizada a melodia, publicada na obra musical de meu avô.
O nome da música (“Vila Paraíso”) tem um significado histórico para a nossa família.
Como consta no livro Meu Baú Mocorongo (Wilson Fonseca) – coletânea de 6 volumes, impresso por RR Donnelley Moore (SP) e editado pelo Governo do Estado do Pará (2006), com quase 2.000 páginas de pesquisas, recordações e reflexões sobre a vida histórica e sócio-cultural de Santarém e da Amazônia –, foi nesse “palacete” (cuja foto ilustra a capa de um arranjo musical que eu escrevi) que nasceu meu saudoso pai Wilson Fonseca (Maestro Isoca), em 17.11.1912.
A “Vila Paraíso” foi construída pelo Coronel Antônio Joaquim de Vasconcelos Braga, considerado, àquela época, a principal mansão da cidade de Santarém (1912), prédio localizado na rua Floriano Peixoto nº 506 (antigo 34), esquina com a Travessa “15 de Agosto”, mas infelizmente já desestruturado…
O Coronel Braga era casado com D. Zulmira de Souza Braga, prima e mãe adotiva de minha avó Aninhas (que se tornou órfã de pai e mãe, muito criança ainda), esposa de meu avô José Agostinho da Fonseca (1886-1945), autor da música (melodia).
O Coronel Braga e a D. Zulmira (que eu cheguei a conhecer, já velhinha, em Niterói-RJ) eram pais de Américo Braga (cientista), Graziela (Nené), Maria Elsa (que ainda vive, com mais de 90 anos, e reside em Niterói-RJ. Em sua homenagem, José Agostinho da Fonseca compôs a Valsa “Elsa”, em 1917). É desse ramo que se originam nossos primos Sílvio e Cléo Bernardo de Macambira Braga.
Vejam o que escreveu o “velho” Isoca – pesquisador, poeta, pianista, organista, maestro, compositor, historiador, memorialista, folclorista, professor – no “Meu Baú Mocorongo” (2º volume, p. 413):
“Confidencio, de passagem, que devoto uma grande afeição por essa vivenda, que era denominada ‘Vila Paraíso’. Razões íntimas me levam a esse sentimento: é que nela mamãe viveu os floridos anos de sua juventude, amou papai e com ele ali se casou. E mais: nela eu nasci!”

TAPAJOARA (1912/14) – tango-brasileiro

José Agostinho da Fonseca escreveu pelo menos três músicas em homenagem a Santarém e ao rio Tapajós: as valsas “Santarém Moderna” (1912/1914) e “Tapajônia” (1917, com letra de Felisbelo Sussuarana) e o tango-brasileiro “Tapajoara” (1920).
A partitura da valsa “Tapajônia”, uma das preferidas do tenor Joaquim Toscano (1888-1956), pai do tenor Expedito Toscano (1926-1970), foi publicada no Álbum do Centenário de Santarém (1948).
A música (simples melodia) está publicada no livro “Obra Musical de José Agostinho da Fonseca (remanescente)”, editada em 1981, sob os auspícios dos filhos do compositor, pela Imprensa Oficial do Estado do Pará, p. 90.
Enquanto Ernesto Nazareth (1863-1934) escrevia os seus famosos tangos-brasileiros, no Rio de Janeiro – antiga capital da República –, meu avô José Agostinho da Fonseca (1886-1945) compunha, em Santarém (PA), seus tangos-brasileiros, maxixes, sambas e valsas, contemporâneo que foi também de Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Sinhô (1888-1930), Donga (1890-1974), Pixinguinha (1897-1973) e tantos outros grandes compositores brasileiros, embora residente na longínqua Amazônia brasileira, na Pérola do Tapajós.
Tomo a liberdade de transcrever trechos dos textos que escrevi sobre algumas composições musicais de José Agostinho da Fonseca [e de Wilson Fonseca], nos encartes dos CDs “Sinfonia Amazônica” (volumes 1 e 2), gravados pela Orquestra Jovem “Wilson Fonseca”, sob a regência de José Agostinho da Fonseca Neto (Maestro Tinho), meu irmão:
Elogios ao Abacate – maxixe, de José Agostinho da Fonseca, de 1925, peça da Revista Teatral “Eu Vou Telegrafar”, com libreto de Felisbelo Sussuarana (Mundico Malagueta), encenada na reinauguração do Teatro Vitória, sob a direção de Joaquim Toscano de Vasconcelos, todos residentes em Santarém (PA), inclusive os atores.
Puçanga – composição de José Agostinho da Fonseca, no gênero batuque, peça da Revista Teatral “Olho-de-Boto”, de Felisbelo Sussuarana (1936), encenada no Teatro Vitória, em Santarém (PA).
Zezinho Fontainha – outro maxixe, de José Agostinho da Fonseca, peça da Revista Teatral “Eu Vou Telegrafar”, escrito por Felisbelo Sussuarana, em 1925.
Chuane – maxixe (1923), de José Agostinho da Fonseca (1886-1945), com arranjo de Wilson Fonseca (1963).
Teatro Vitória – maxixe, de José Agostinho da Fonseca (1925), integrante da revista teatral “Eu Vou Telegrafar”, de Felisbelo Jaguar Sussuarana (1891-1942), encenada na reinauguração do Teatro Vitória, sob a direção de Joaquim Toscano de Vasconcelos, todos residentes em Santarém (PA), inclusive os atores. O arranjo é de Wilson Fonseca (1993).
Pratos Regionais – samba (1936), de Wilson Fonseca e José Agostinho da Fonseca, para a revista teatral “Olho-de-Bôto”, de Felisbelo Jaguar Sussuarana (Mundico Malagueta), encenada no Teatro Vitória, de Santarém, em 19 de julho de 1936.
Elogios à Mulata – outro samba (1936), de Wilson Fonseca, escrito também para a revista teatral “Olho-de-Bôto”, de Felisbelo Jaguar Sussuarana, encenada no Teatro Vitória, de Santarém. O arrojado e moderno arranjo (2002) é de Agostinho Júnior, neto do compositor, integrante da orquestra, no oboé e no piano, em sintonia com o estilo inconfundível de Isoca.

Conforme está ali registrado, “devo confessar que o texto que consta do encarte do 1º volume da série, lançado em junho passado [2002], resulta de preciosas conversas que tive com meu pai. Deus permitiu que ele chegasse a ouvir as músicas gravadas naquele CD histórico. Agora, na eternidade, sua memória continua viva, neste 2º volume. Esta mensagem foi escrita com o coração, mas também com a mão de meu pai sobre meus ombros, como o amigo de todas as horas. É gesto que não pesa. Ao contrário, enleva. Afinal, a preservação de sua magnífica obra constitui uma missão de vida (cf. artigo que escrevi na Revista ‘Brasiliana’ no 11, maio/2002, p. 10-15, da Academia Brasileira de Música, sob o título ‘Tributo ao Maestro Wilson Fonseca’)”.
Meu pai costumava tocar ao piano esse lindo tango-brasileiro.

IDÍLIO DO INFINITO (1906) – schottisch

É a primeira composição de José Agostinho da Fonseca, o pioneiro musical da família Fonseca de Santarém (PA). Na verdade, é a primeira música que se tem notícia como tendo sido escrita [no pentagrama] na Pérola do Tapajós, em 1906, segundo pesquisas de Wilson Fonseca.

Enfim, como tudo começou?

UMA ATRAÇÃO IRRESISTÍVEL

1906. O século novo ainda andava de sunga, quando o jovem chegou. A borracha comandava a economia da Amazônia e o porto da cidade escoava toda produção da região do grande rio. Havia prosperidade. Fartura de tudo. Por isso, os moradores da cidade levavam vida mansa, alegre.
De fato – logo observou o jovem recém-chegado – a natureza tinha sido pródiga para com aquele pedaço de chão. Confirmava-se o que antes ouvira falarem tantas vezes: havia praias, que eram lindas e um rio, que era maravilhoso! Aliás, dois. Um, do lado de cá, verde-anil, cristalino com engaste alvo – as ditas praias. Outro, do lado de lá, amarelo-barrento, turvo, tendo como orla o barranco. Em comum – notou o jovem – os dois rios tinham apenas o verde, que servia de decoração cênica. É que, de lá e de cá, a clorofila era mesma – exuberante!
O moço chegou. Junto com ele um amigo, ex-colega de estudos. Haviam estudado juntos no Instituto de Educandos e Artífices e tinham vindo a passeio, para conhecer a cidade. Procediam de Belém, onde viviam e recentemente haviam fundado, juntamente com outros, em sua maioria ex-alunos do Instituto, um clube de operários, denominado “União Esportiva”.
Conhecidos na cidade, apenas, a sua mãe e o jovem casal Anysio e Penha Chaves, aquele engenheiro agrimensor, realizando trabalho de agrimensura na Amazônia. Mais ninguém.
Ao jovem, aquela terra, aquela gente, aqueles rios, aquelas praias, aqueles céus exerceram enorme fascinação. Ao amigo, nem tanto. Assim é que, após adiarem repetidas vezes o regresso, o ex-colega voltou, sem o amigo, que ficou para sempre.
O jovem, JOSÉ AGOSTINHO DA FONSECA. A cidade, SANTARÉM, os rios, TAPAJÓS e AMAZONAS e o colega, Raimundo Oliveira Machado.
Ficou para sempre! Parece mesmo que todo brasileiro é obrigado a ter um “fico” em sua vida e José Agostinho teve o seu. A seguir, a estória desse “fico”, que você, caro conterrâneo, após conhecê-la, julgará – decidirá, se, de algum modo, contribuiu para enriquecer o acervo da arte musical do nosso Pará.
(Wilmar Dias da Fonseca, no livro “José Agostinho da Fonseca: O Músico-Poeta”, Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, Belém/Santarém-PA, p. 19/20)

IDÍLIO DO INFINITO

Era costume, em Santarém, as famílias sentarem-se à porta da rua de suas casas, nas noites quentes de verão, para aproveitarem a fresca, amiga, agradável. E nas noites enluaradas, iam à praia, onde o vento leste, acariciante, contribuía para que a reunião familiar fosse mais aconchegante ainda, graças ao ambiente de lua, praias, risos e rios. E a praia preferida era a do Trapiche, onde se podia ver, nessas noites maravilhosas, dezenas de pequenos grupos, cada grupo reunindo uma família. Cantava-se, tocava-se violão, bandolim; namorava-se, as crianças riam, corriam, brincavam de roda, de cipó-queimado, de cabra-cega. Riam mais ainda quando na brincadeira de cobra-grande o rabeira desprevenido, dava, sem o querer, com roupa e tudo, um mergulho no Tapajós. Era a alacridade, essa alegria sadia, própria da criança e da juventude santarena.
A noite era de plenilúnio e José Agostinho foi à praia, também. E estando lá, põe-se a andar, de lá para cá, para melhor apreciar o luar e a brisa daquela noite, que estava gostosa, demais. De repente, teve a sua atenção despertada por sons vindos de um grupo que se destacava dos demais pelo maior número de pessoas que o formava. Eram sons de clarineta, violino, bandolim e violão. E dele foi se aproximando, devagar, hesitante, até ouvir uma voz grave, vinda do grupo, com a pergunta a si dirigida:
– Quem és?
Antes que respondesse, um jovem, quase menino ainda, disse:
– Ouvi falar que é irmão colaço de um filho do Desembargador Chaves, papai.
– O que fazes? – indagou a mesma voz.
Ia responder quando outra jovem antecipou-se:
– Ouvi o Dr. Anysio dizer que até bem pouco foi primeiro clarineta e requinta da banda de música do Instituto Lauro Sodré.
– Então, és bom músico, meu rapaz! – comentou o dono da voz grave – e o convidou para que participasse da reunião com amistoso:
– Chega-te, meu jovem!
Após insistente convite para que mostrasse sua arte, José Agostinho examinou e experimentou uma velha clarineta que lhe puseram nas mãos, virou-se para os rapazes que tocavam violão, pediu ré menor e tocou um schottisch desconhecido para aquela gente, que o escutou silente e admirada. Ao final, após costumeiros bravos e palmas dos presentes, o homem de voz grave perguntou-lhe:
– De quem é esse lindo schottisch?
– É meu – respondeu meio encabulado.
– Então, és compositor?
– Pretendo sê-lo.
– Pretendes, como?
– Acontece que desde que aqui cheguei – respondeu José Agostinho – comecei a sentir que se desenvolvia dentro de mim a melodia de um schottisch, que acaba de nascer.
Perplexo, diante da surpreendente revelação, perguntou-lhe:
– Já tem nome?
José Agostinho, após fitar, novamente, a moça de pele alva, olhos azuis e cabelos dourados, a mesma que vira, graciosa, exibindo lindo vestido azul, que exigia espartilho e anquinhas, dias antes, no baile que serenava e que desde o primeiro instante, na praia, não tirava seus olhos azuis dele, respondeu:
– Sim, já tem nome, inspirado agora, IDÍLIO DO INFINITO.
– Belo nome para um bonito schottisch, comentou o bom homem de voz grave.
A seguir, mais descontraído, José Agostinho pediu o bandolim que uma jovem segurava e tocou uma cavatina. Voltou à clarineta e executou outra música. Tocou violino e, como instassem, acompanhou ao violão uma jovem santarena que cantou uma canção francesa em francês, muito chique na época. E tocou até os últimos minutos da noite para uma pequena multidão de curiosos e apreciadores da bela arte. É que, desde o primeiro instante, os vários pequenos grupos de famílias deixaram de existir, pois se transformaram num grande grupo para, juntos, admirarem a virtuosidade do jovem músico.
A noite foi linda, muito linda. Noite de dezembro, de lua cheia. Noite de céu aberto, de praias alvas, prateadas. Noite de risos e rios rebrilhantes. Noite aconchegante, noite para amar. Noite de serenata, noite santarena…
Noite especial, de significado profundo para todos nós santarenos, noite criada por Deus para nela nascer a primeira dentre aquelas que, mais tarde, com certo orgulho, se convencionou chamar Música Popular Santarena: Idílio do Infinito.
(Wilmar Dias da Fonseca, no livro “José Agostinho da Fonseca: O Músico-Poeta”, Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, Belém/Santarém-PA, p. 27/30).

JOSÉ AGOSTINHO DA FONSECA, nasceu em Manaus (Amazonas), em 14 de novembro de 1886; e faleceu em Santarém (Pará), em 11 de novembro de 1945. Era conhecido como o “músico-poeta”. Foi compositor, maestro e professor.
Com poucos meses, mudou-se para Belém e, em 1906, para Santarém, onde viveu e constituiu família. Profissionalmente, era alfaiate.
Ele foi o pioneiro daquilo que se convencionou chamar de “música santarena”, herança que transmitiu aos filhos, netos e bisnetos.
Estudou no “Instituto de Educandos Artífices” (depois, “Instituto Lauro Sodré”, no prédio onde hoje está sediado o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, na Av. Almirante Barroso, nº 3089), na capital paraense. Tocava clarinete, saxofone, piano e contrabaixo.
Estudou com o Maestro Paulino Chaves (que estudou música na Alemanha), inclusive instrumentos de cordas. Criou e dirigiu orquestras em Santarém.
Conheceu pessoalmente Carlos Gomes, falecido em Belém, e tocou clarineta, ainda jovem, nas exéquias do grande maestro brasileiro.
Obteve 3º lugar em concurso nacional de música, promovido pela revista carioca “O Malho”, com o maxixe “Jeca Tatu”, publicado na edição de 31.01.1920 (nº 907).
Compôs a bela valsa “Rachelina” (1922), dedicada a Rachel Peluso (letra de João de Jesus Paes Loureiro, 1996).
A sua biografia está muito bem retratada no livro escrito por seu filho Wilmar Dias da Fonseca, sob o título “José Agostinho da Fonseca: O Músico-Poeta”, Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, Belém/Santarém-PA.
O remanescente de sua Obra Musical foi publicado em 1981 (valsas, schottischs, quadrilhas, tangos, dobrados, maxixes, sambas, canções, hinos, marchas, sacras e peças para teatro).
Observe-se esta abalizada opinião sobre José Agostinho da Fonseca, na imprensa da capital paraense:
“… se houvesse vivido nas capitais, seria um nome nacional”, disse Paulo Eleutério, Sênior (Jornal “A Província do Pará”, edição de 05.11.1948, apud Wilmar Fonseca, no livro “José Agostinho da Fonseca – O Músico Poeta”, Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1978, p. 42 e 53).
A respeito de sua obra manifestou-se a autoridade de compositor Guerra Peixe:
“… observa-se que sua linha melódica, mesmo quando limitada ao estilo que era habitual ouvir e escrever, assinala bastante inquietação, como quem tentasse voar mais alto, porém sem perder de vista os fins a que se propunha. Sua linha melódica registra saltos constantes, flutuações que só modernamente vem sendo experimentadas. E isso a gente pode concluir da leitura que, momentaneamente, parece abalar os padrões já aceitos. Foi muito criativo neste sentido” (Wilde Dias Fonseca, em “Santarém: Momentos Históricos”, 4ª edição, Santarém: Gráfica e Editora Tiagão, 1996, p. 153).
Na Amazônia, havia, na primeira metade do século XX, três teatros célebres: o Theatro da Paz, em Belém; o Theatro Amazonas, em Manaus; e o Theatro Victória, em Santarém, no interior do Pará, onde foram encenadas peças compostas por José Agostinho da Fonseca e Wilson Fonseca, inclusive sob a direção e participação de artistas e músicos residentes naquela cidade.
A primeira composição feita por José Agostinho foi “Idílio do Infinito”, um schottisch, elaborado em 1906, que inaugura o álbum do que foi resgatado de sua produção musical. Ali consta simplesmente a melodia dessa música.
Em 1941, seu filho Wilson Fonseca fez um arranjo para Banda, acrescentando-lhe uma nova introdução. Naquele momento, nascia o Dobrado nº 8, com o subtítulo de “14 de Novembro”, data de aniversário natalício do “músico-poeta”.
Quando se comemorou o centenário de José Agostinho (1986), Wilson elaborou um arranjo para piano, para aquele lindo schottisch.
Este arranjo foi descoberto por mim, neto de José Agostinho, em 2004, em visita ao Museu da Universidade Federal do Pará, onde existe um rico acervo do musicólogo paraense Vicente Salles, a quem Wilson Fonseca enviou aquela peça, com a seguinte dedicatória: “Meu caro Vicente Salles: Após 80 anos, a pioneira das canções santarenas tornou-se atual, com a harmonização para Piano que acabo de dar e letra aplicada por Emir Bemerguy, aproveitando a estorinha que Wilmar conta em seu ‘Músico Poeta’. Abraços do Wilson Fonseca. Santarém (PA), 30/11/1986”.
Na verdade, a melodia de “Idílio do Infinito” representa o primeiro registro documentado de uma música escrita em Santarém.
A peça foi composta e tocada por José Agostinho numa bela noite de luar, na Pérola do Tapajós, em 1906, quando ele conheceu uma jovem, que depois se tornou sua esposa. Por isso, a música tem um significado não só histórico como afetivo.
A musa inspiradora do compositor era Anna (Esteves) Dias da Fonseca (1886-1971), mãe de Wilson Fonseca (Maestro Isoca) e seus irmãos Maria Annita, Wilmar, Maria Adahyl e Wilde (Maestro Dororó), todos dedicados à Arte de Euterpe, alem de Edmundo, falecido com poucos meses de idade.
No ano de 2006 comemorou-se o centenário da chegada de José Agostinho da Fonseca, em Santarém, quando ele também escreveu a sua primeira composição musical.
Em homenagem ao evento, elaborei, na condição de neto do compositor, diversos arranjos musicais para o schottisch “Idílio do Infinito”, tais como: Violão solo; Trio de Cordas; Duo para Clarinete e Piano; Quinteto de Sopros e Piano; Quinteto de Cordas e Sopros, com Piano; Deceto ou Orquestra e Piano; e Orquestra Sinfônica e Piano [Orquestra Sinfônica: Flauta, Oboé, Clarinete, Fagote, Trompa, 2 Trompetes, Trombone, Eufônio, Tuba, Glokenspiel, Tímpanos, Bombo, Caixa e Pratos, 2 Violinos, Viola, Violoncelo e Contrabaixo].
“Idílio do Infinito” é música que ouvi meu pai tocar, ao piano, desde que me entendo como gente. É uma peça de que gosto muito de executar ao piano. Não exatamente aquele arranjo de 1986, mas outras versões por nós próprios criadas.
São notórios os laços familiares entre os compositores de três gerações da família Fonseca, de Santarém (PA).
A influência de José Agostinho da Fonseca nas composições do filho Wilson Fonseca e do neto Vicente Fonseca está evidente nos arranjos que eles escreveram a partir do original do schottisch “Idílio do Infinito”.
Coincidência, ou não, na 3ª parte da peça escrita para o Trio de Cordas, Vicente Fonseca introduziu alguns contracantos da melodia de seu Dobrado “14 de Julho”, a revelar uma sutil identidade entre os estilos musicais.
É dizer: cabem na mesma forma a composição de José Agostinho e os dobrados do filho e do neto.
A circunstância, verificada inclusive na mudança de ré menor para o ré maior, seria proposital ou espontânea?
De qualquer sorte, é prova de que os mistérios da herança genética também se manifestam na arte da música.
O arranjo orquestral, composto pelo neto, foi executado, em primeira audição, pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, no dia 17 de novembro de 2006, sob a regência do Maestro Mateus Araújo, na Casa da Cultura de Santarém (PA), durante a solenidade de lançamento do livro-coletânea “Meu Baú Mocorongo” (6 volumes), de autoria de Wilson Fonseca (cujo aniversário natalício ocorria naquela ocasião), sob os auspícios do Governo do Estado do Pará, quando também ocorreu a inauguração do busto de Wilson no Aeroporto de Santarém – “Maestro Wilson Fonseca”, assim denominado por força da Lei Federal nº 11.338/2006.
O schottisch também foi executado pelo conjunto “Meninas do Choro”, de Porto Feliz (SP), em homenagem surpresa ao neto do compositor, Miguel Augusto Fonseca de Campos, então Diretor-Geral do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília (DF), em dezembro de 2006. Miguel é pai de Tânia (viola) e Andréa (violino), integrantes do Trio D’Amore. Tânia e Andréa, portanto, são bisnetas de José Agostinho da Fonseca.
“Idílio do Infinito” é música tocada por todos os músicos da família Fonseca, de Santarém.
Há alguns registros fonográficos da música. Um deles é o que consta no CD “Encontro com Maestro Isoca”. Trata-se de gravação ao vivo do último recital, em homenagem a Wilson Fonseca (Maestro Isoca), realizado no Art Doce Hall, em Belém, em 08 de janeiro de 2002, idealizado pela Profª. Glória Caputo e organizado por Vicente Fonseca, com participação do homenageado e familiares (inclusive Tânia e Andréa Campos), dois meses antes de seu falecimento.
O CD foi lançado na 2ª Bienal Internacional de Música de Belém, em 22.09.2002, pela Prefeitura Municipal de Belém (Administração: Edmilson Rodrigues), no Palco da Aldeia Cabana de Cultura Amazônica “David Miguel”.
O evento registra a reunião de 4 gerações da família Fonseca, compositores e intérpretes.
A gravação inicia com a brilhante participação do jovem José Agostinho da Fonseca Júnior, o Tinhinho (bisneto de José Agostinho da Fonseca, neto de Wilson Fonseca e filho de José Agostinho da Fonseca Neto, Maestro Tinho), que executou o lindo schottisch “Idílio do Infinito”, tocando, sucessivamente, oboé, saxofone-alto e piano a 4 mãos, juntamente comigo, seu tio, ao piano, na presença de Wilson Fonseca (Maestro Isoca).
Um momento de muita emoção.
Ao final da apresentação, ao ser cumprimentado por nós dois (Tinhinho – neto; e eu, filho), sob os aplausos da platéia, meu pai (Wilson Fonseca) ficou muito emocionado e chegou a chorar, certamente lembrando de como nasceu o encontro de José Agostinho e Anna, meus queridos avós, naquele memorável dezembro de 1906, em Santarém, sob inspiração do “Idílio do Infinito”, tão bem definido nos versos do poeta santareno Emir Bemerguy:

Idílio do Infinito
(Schottisch)
Música: José Agostinho da Fonseca (Santarém-PA, 1906)
Letra: Emir Bemerguy (Santarém-PA, 1986)

I
Teus olhos azuis
Tocam meu coração
Sob o luar de Santarém,
Tu és meu bem
E, terno, eu digo isto ao violão!
Vejo, a me encantar,
O Tapajós sem par,
E assim componho uma canção,
Pois tudo isso é tão bonito
E nasce o idílio do infinito!

II
Teu olhar
Azul, angelical,
Acendeu logo neste trovador
Chama eternal
De um puro amor.
E sinto inspiração,
Impulsos de soltar
À lua, ao vento,
À praia, a ti
Meu lindo grito:
Nasceu o nosso idílio do infinito!…

III
Sonho meu,
Ó minha musa “mocoronga”, vem ouvir,
À luz do teu luar,
O seresteiro apaixonado
Que há de sempre te adorar!…
Mas, quando visitei
O Tapajós, não saberia eu, porém:
Ia sucumbir ao teu feitiço sedutor
E ficar sempre em Santarém!…

Em 2012, quando se comemora o primeiro centenário de nascimento do compositor e escritor santareno Wilson Fonseca – maestro Isoca (17.11.1912 – 24.03.2002), a família Fonseca pretende realizar eventos durante todo o transcurso daquele ano.
A Lei Estadual nº 7.337, de 17.11.2009 (Diário Oficial do Estado do Pará nº 31.548, de 19.11.2009), declara como integrante do patrimônio cultural do Estado do Pará a obra musical e literária do Maestro Wilson Fonseca (Isoca), e atribui à Secretaria de Estado de Cultura o encargo de catalogar o acervo artístico e literário de que trata essa Lei e instituir mecanismos de conservação e divulgação da obra, além de implementar as medidas necessárias ao fiel cumprimento da citada legislação.
Eu e meu irmão José Agostinho da Fonseca Neto (Tinho) temos conversado e pensamos em algumas idéias para assinalar o acontecimento, tais como: reedição da obra literária “Meu Baú Mocorongo” e edição da mesma obra em versão resumida e destinada especialmente ao público infanto-juvenil; edição integral da Obra Musical de Wilson Fonseca (20 volumes); reedição de CDs já gravados com músicas de Wilson Fonseca; gravação e lançamento de um DVD e de um CD (inéditos), inclusive a produção de suas músicas sacras (Missas com texto latino), e outro com músicas de quatro (4) gerações da família Fonseca; Concertos em Santarém e em Belém (e, se possível, em outras cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo), com músicas de Wilson Fonseca; “A vida e a obra de Wilson Fonseca – Maestro Isoca” (livro inédito, de minha autoria); palestras, conferências, painéis, exposições, shows e concursos sobre a vida e a obra de Wilson Fonseca, com participação de artistas de todas as áreas culturais (música, literatura, poesia, fotografia, pintura, escultura, artesanato, bordado, teatro etc.), inclusive nas instituições de ensino (fundamental, médio e superior) do Estado do Pará, especialmente em Santarém; Memorial ou Museu de Wilson Fonseca (Maestro Isoca), em sua antiga residência, situada na Travessa Francisco Corrêa, nº 139, em Santarém (PA); criação da Fundação Wilson Fonseca, para dar suporte às atividades culturais e de pesquisas, como ainda a manutenção da Escola de Música “Maestro Wilson Fonseca”, em Santarém; edição de Lei Municipal para denominar “Rua Wilson Fonseca (Maestro Isoca)” a atual Rua “Floriano Peixoto”, em Santarém (PA), onde Isoca nasceu (na época, casa da família do Coronel Antônio Braga, que era conhecida como “Vila Paraíso”, nome de uma música de José Agostinho da Fonseca, pai de Wilson Fonseca); Teatro “Wilson Fonseca – Maestro Isoca” (em Belém, há o Teatro “Waldemar Henrique”); placa e selo comemorativos do evento; duas (2) peças sinfônicas: uma composta por Vicente José Malheiros da Fonseca, filho de Wilson Fonseca, e outra composta por José Agostinho da Fonseca Júnior, neto de Wilson Fonseca, em homenagem ao evento; edição de uma Revista comemorativa do primeiro centenário de nascimento de Wilson Fonseca etc.

(…)

Gostaria de me comunicar com os dirigentes da Escola Portátil de Música do Brasil e os organizadores e integrantes do Projeto realizado pelo Instituto Casa do Choro. Lembro-me que há anos, na época do lançamento da Coleção “Choro Carioca – Música do Brasil” e de um Festival Nacional do Choro, eu tentei, sem sucesso, me comunicar com o grupo.

Fico feliz com a notícia de que o grupo se apresenta, na data de hoje (16 de novembro de 2010), na Casa da Cultura, em Santarém, minha terra querida.

E lembrar que amanhã (17) meu saudoso pai (Wilson Fonseca), se vivo fosse, faria 98 anos de idade…

Certamente haverá contatos do grupo com o meu irmão José Agostinho (Tinho), em Santarém.

Em nome da família, agradeço as palavras generosas de Guilherme Taré Moura, postadas no Blog do jornalista Jeso Carneiro, sob o título “Terça tem show instrumental”, em 14.11.2010, justamente na data de aniversário de nascimento de meu avô José Agostinho da Fonseca.

Confira:

Memória: um gênio

Terça tem show instrumental

Terça tem show instrumental

Vicente Malheiros da Fonseca
Vicente José Malheiros da Fonseca é Desembargador do Trabalho de carreira (Aposentado), ex-Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (Belém-PA). Professor Emérito da Universidade da Amazônia (UNAMA). Compositor. Membro da Associação dos Magistrados Brasileiros, da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 8ª Região, da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, da Academia Paraense de Música, da Academia de Letras e Artes de Santarém, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, da Academia Luminescência Brasileira, da Academia de Música do Brasil, da Academia de Musicologia do Brasil, da Academia de Música do Rio de Janeiro, da Academia de Artes do Brasil, da Academia de Música de Campinas (SP), da Academia de Música de Santos (SP), da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Letras, da Academia Brasileira de Ciências e Letras (Câmara Brasileira de Cultura), da Academia Brasileira Rotária de Letras (ABROL) - Seção do Oeste do Pará, da Academia de Música de São José dos Campos (SP), da Academia de Música de São Paulo. Membro Honorário do Instituto dos Advogados do Pará. Sócio Benemérito da Academia Vigiense de Letras (Vigia de Nazaré-PA).

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