As etnias que ocupam a sede da Secretaria de Estado de Educação do Pará desde o dia 14 de janeiro estão denunciando que vários ônibus foram contratados para ir buscar centenas de indígenas alinhados com o Governo do Pará e que são filiados à Federação dos Povos Indígenas do Pará para uma grande mobilização em Belém nesta segunda-feira, dia 3. A intenção é reforçar o discurso governista de que há avanços históricos, afirmar que foi feito um acordo e tentar esvaziar o movimento. A expectativa é reunir cerca de 500 indígenas na capital.
À frente da articulação estaria a secretária de Povos Indígenas, Puyr dos Santos Tembé, que está desautorizada pelos povos indígenas a representá-los, e Concita Sompré, presidente da Fepipa, cujo mandato encerrou no ano passado, não tendo sido convocada nova eleição, com o que sua diretoria não existe de direito nem pode celebrar acordos por seus filiados, menos ainda em nome das etnias que não a reconhecem como legítima. Coincidentemente, na semana passada, o governo estadual instituiu, por meio do Decreto nº 4.430/2025, um Grupo de Trabalho para elaborar a política de educação escolar indígena e só incluiu os representantes da Fepipa, afirma o cacique Dadá Borari, que expressa estranhamento: “por que não foi feito edital convocatório para essa assembleia em Belém? A Fepipa não tinha dinheiro para fazer assembleia e de imediato já apareceu dinheiro, só que não tem edital, então está errado”.
Auricélia Arapiuns, destacada liderança feminina da ocupação indígena, lamenta que seus parentes se prestem a celebrar como conquistas importantes do movimento indígena no Pará o respeito ao bilinguismo e às especificidades, gratificação de nível superior de 80% na educação escolar indígena; o ensino modular e presencial e a consulta prévia, quando são todos direitos garantidos pela Constituição e legislação federal mas não vêm sendo cumpridos.
Alessandra Korap, que diariamente posta vídeos nas redes sociais mostrando o cotidiano da ocupação na Seduc e tem sido uma das porta-vozes do movimento, lembra que os 56 povos indígenas distribuídos em quase 70 territórios no Pará estão unidos em torno da pauta reivindicatória e vê com tristeza a situação. “O governo está jogando pesado na divisão do movimento indígena. A agência de comunicação que trabalha para as mineradoras que têm problemas com quilombolas e indígenas em Acará, Tomé Açu e Barcarena está atendendo a Fepipa, não se sabe quem está pagando. Nós, os indígenas, sempre usamos os comunicadores populares para fazer a nossa própria comunicação. Estamos em vinte dias de ocupação na Seduc, 18 dias de ocupação nas rodovias, 10 dias de greve dos professores do estado do Pará. O governador segue tentando dividir o nosso movimento, que é plural, pela revogação da Lei 10.820/2024 e exoneração do secretário Rossieli. Temos o apoio do Ministério Público Federal e da sociedade, já estamos sendo ouvidos internacionalmente. Mas o Governo do Pará não ouve nossas pautas e clamores. Estamos nos sacrificando por nossos filhos, para que não sofram o que nós sofremos.
Os caciques avaliam que a Fepipa está se organizando para um enfrentamento violento. “Estes parentes que divulgam a tal marcha nunca fizeram parte da nossa luta pela revogação da lei nº 10.820/2024 nestes 20 dias, inclusive muitos deles têm cargos e compromissos com o governo”, declara o cacique Dadá Borari, reforçando que as reivindicações são justas e o movimento é pacífico e ordeiro.
Foto de Raimundo Paccó
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